8 Segundos - CAP. 24

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8 Segundos


Capítulo 24:

Pov. Arthur

Passei mais uma semana no hospital. Comecei a fisioterapia lá. Com a confusão toda da Lua dormindo comigo, eu me esqueci de contar ao médico sobre a fisgada. Quando contei, ele disse que era normal e que, se tudo corresse bem, eu recuperaria os movimentos aos poucos. Eu queria me recuperar logo para dar a Lua tudo o que ela merecia. Sobre a parte sexual, ele disse que a minha condição não seria um obstáculo, mas que o meu estado emocional e o psicológico poderiam afetar essas funções. Fisicamente tudo estava funcionando perfeitamente, ou seja, dependia mais de mim do que de qualquer outra coisa. Mas fiquei com medo e não quis arriscar. Eu e minha Potranca nos limitávamos a carícias, ainda que um simples toque em sua pele já me deixasse louco.
— Oi, meu lindo... — A voz da Lua ficou fraca e ela me olhou de um jeito que dizia que se tivesse uma arma eu estaria morto.
— Oi, Cristal. Raquel estava sentada ao meu lado e, assim que viu Lua entrar, se levantou.
— Acho que não fomos apresentadas formalmente. Eu sou a Raquel, dona do Taurus.
— Eu sei quem você é. Como vai, Raquel? — Ops! Acho que Lua já sabia ou desconfiava da minha antiga relação. 
Eu acabava de passar pela primeira crise no namoro. E sorria pela situação. Lua estava louca de ciúme desde que entrou no quarto e viu Raquel próxima à minha cama. Mas, enquanto Raquel estava lá, as duas mantiveram a compostura.

— Já fodeu com ela, né, seu filho da mãe? — Lua questionou assim que Raquel saiu.
— Isso não tem mais importância. — Tentei desviar o assunto. — Vem aqui me dar meu beijo de bom-dia. Usei de todo o meu charme, mas não obtive resultado. Depois que Lua descobriu sobre a minha história com a Raquel, o hospital quase foi abaixo. Minha Potranca brava era a coisa mais linda do universo.
No dia seguinte à visita da Raquel, foi a minha vez de entrar em combustão por possessividade. Henrique e o pai me visitaram, e, apesar de ter sido uma visita cordial, ao sair Henrique encontrou Lua na porta do quarto. Eles trocaram algumas palavras e ela sorriu se despedindo. Fiquei puto e perdi a paciência tentando fazer com que ela me contasse o que tanto cochichava com o babaca. Lua gargalhou da cena que eu fiz e, enfim, me contou tudo, inclusive o que tinha acontecido no dia do acidente. Eu me desconcentrei ao ver o Henrique conversando com ela. Eu sabia que a culpa não era dela, havia tempos eu não montava um animal tão perigoso, e tinha escolhido justamente o touro encrencado do dia. Queria aparecer, mostrar a ela que era melhor do que qualquer boyzinho da cidade. E por isso vacilei. Lua explicou que Henrique estava falando de mim. Que sabia que eu estava caidinho por ela, assim como ela estava por mim. 
Conclusão: até que o babaca não era tão babaca assim.

— E aí? Preparado para voltar para casa? — Fui pego de surpresa, pois não sabia que teria alta.
— Graças a Deus — Mel murmurou.
— Jura, doutor? — perguntei.
— Basta seguir com o tratamento. Respeitar o horário dos remédios e continuar a fisioterapia. No mais, o que poderia ser feito no hospital já foi feito. — Suspirei aliviado. Claro que faria tudo o que era recomendado. Não via a hora de voltar a ser o Arthur de antes.
Depois da festa com a notícia da alta, começou a discussão de onde eu ficaria. Eu batia o pé querendo ir para a minha casa, Santiago gostaria que eu fosse para a dele, e Lua e Melanie defendiam que o melhor seria eu ficar na fazenda. Após analisar os vários argumentos que as meninas defendiam, como o espaço, os animais que eu tanto amava, a família por perto, os empregados a minha disposição e a piscina — que seria de grande ajuda para minha recuperação —, aceitei voltar para a Girassol. Mas é claro que o fato de saber que a Lua estaria comigo o tempo inteiro também pesou na decisão. 
Mel e Lua prepararam tudo para minha saída do hospital, mas a decepção que me atingiu quando eu vi a cadeira de rodas foi inexplicável.

— Vai ser por pouco tempo, Arthur. Eu prometo. — Lua estava agachada ao meu lado, segurando minhas mãos.
— Cara, você vai tirar isso de letra. — Chay emendou.
Olhei para baixo e vi minhas pernas imóveis, meus pés em uma espécie de apoiador. Ouvi um clique e logo estava andando para a caminhonete do Chay. Andando não, sendo levado em uma maldita cadeira de rodas.

— Contratei o melhor fisioterapeuta da região. — Lua informou, tentando aliviar a agonia que era sentar e ser transportado naquela coisa. Eu me sentia impotente, humilhado. Como se não existisse mais lugar no mundo para mim. Entrar no carro foi ainda mais humilhante. Meu tio e Chay me colocaram na caminhonete, um me segurando pelo tronco, o outro sustentando as minhas pernas. Uma sensação de terror tomou conta de mim. Eu não poderia nem queria passar uma vida inteira daquela forma. Não merecia. 
Assim que entrou na caminhonete, Lua percebeu que havia algo errado, segurou minha mão de forma carinhosa e puxou o meu queixo para que eu a olhasse.

— Eu estarei com você, amor. — Era a primeira vez que ela me chamava assim. Lua estava mudada, de uma forma quase irreconhecível.
Obrigado. — agradeci sem fazer comentários, e ela descansou a cabeça no meu peito. Eu estava sentado em uma espécie de almofada, que me dava mais equilíbrio e fazia com que meu corpo não sofresse tanto com a viagem. Santiago foi com o seu carro, enquanto Lua, Chay e Mel foram comigo. Demoramos um pouco mais para chegar à fazenda, já que Chay manteve a velocidade baixa. Quando chegamos, meu tio já estava nos aguardando.
Lua... — Santiago a chamou, mas ela saiu correndo da caminhonete para abrir a porta da sede. Ela sorria, estava feliz por eu estar ali. E eu me agarrava a essa vontade de tê-la para voltar a ser como era. 
Enquanto olhava a minha garota saltar os degraus da escada em minha direção, eu vi um homem, um garoto, na verdade, atrás dela. Ele correu e a alcançou. Eles estavam perto o suficiente para que eu ouvisse a conversa.

— O que está fazendo aqui, Rafa? — ela perguntou trincando os dentes, como se aquilo a fizesse manter a calma.
— Gata, estou aqui por você. Não está feliz? — o mauricinho respondeu e a abraçou. Lua tentou se desvencilhar, mas, quando ela se soltou, ele levou seus lábios até a boca dela.
— Larga ela, seu idiota. — Quando percebi já estava esbravejando e me debatendo, com o Chay tentando me acalmar. Fiquei com ódio. Queria ter as pernas para chutar a bunda do desgraçado.
— Quem é o aleijado? — o cara perguntou, sarcástico, olhando de mim para Lua. — Virou Madre Teresa, gatinha? O jeito como ele a tratava, a forma como a olhava e a maneira como Lua reagiu à sua presença indicavam claramente que os dois haviam tido um relacionamento. E o pior é que ele tinha ido atrás dela.
Lua? — perguntei, mas, antes de ela responder, o cara se adiantou, estendendo sua mão para mim.
— Prazer, sou o Rafa. Namorado da Lua. Vi Lua empalidecer e desviar os olhos dos meus. Era verdade, ela sabia mentir muito bem, mas naquela semana, enquanto eu permanecia em uma cama de hospital, Lua tinha se despido das máscaras que usava e eu tinha aprendido a ler suas expressões.
— Namorado?!

Pov. Lua

Eu não acreditava no que estava acontecendo. Só podia ser brincadeira.
— Cala a boca, Rafael! — disse alterada, repreendendo-o. Tanto por ter dito aquele absurdo sobre o Arthur quanto por ter se apresentado como meu namorado. Rafa sabia muito bem que não éramos namorados. Nossa relação sempre tinha sido bem clara, e eu não entendia o que ele estava fazendo ali. E muito menos por que agiu daquela forma diante do Arthur.
— Pietra? — Arthur me chamou mais uma vez. — Estou esperando uma resposta. O que está acontecendo aqui? — perguntou, ríspido. Seu semblante foi ficando cada vez mais abalado. Minha vontade era de matar o Rafael. Arthur já estava tão desanimado e inconformado com a sua situação que não precisava de mais aquela palhaçada. Antes que Rafael pudesse dizer outra idiotice, eu agachei para ficar na altura dos olhos do Arthur.
— Confia em mim. — pedi e dei um beijo de leve em seus lábios. Arthur olhava de um jeito perdido para Rafael e, então, balançou a cabeça, como se estivesse se entregando, me entregando ao Rafael. Para não deixar dúvidas do que eu sentia, segurei seu rosto e o encarei. — Eu sou apaixonada por você. Não pense que se livrará de mim, garanhão. — Levantei, e parecia que tinha conseguido acalmar o Arthur, apesar de sentir a raiva pairando sobre ele. — Santiago, eu pedi para que preparassem um quarto aqui embaixo para o Arthur. Acomode ele, por favor. — Olhei para o visitante, que me fitava friamente. — Tenho um problema para resolver. — Passei a mão pelo braço do Rafael e o puxei em direção ao galpão. Ele seguiu sem falar nada; na verdade, o desgraçado ria.
— Um aleijado, Lua? Você já teve dias melhores.
— Cala essa boca, Rafael! — gritei, e ele arregalou os olhos, perplexo. Sem contar quando transávamos, acho que nunca tinha gritado com o Rafa. Não me lembrava sequer de ter conversado seriamente sobre qualquer assunto com ele.
— O que você está fazendo aqui? — Ele encostou um pé na parede e cruzou os braços, me encarando. Ele sempre tinha sido o tipo de homem ideal para mim. Loiro, alto, corpo atlético, olhos azuis e do mesmo nível social que o meu. Tudo que eu queria antes de conhecer Arthur, mas que já não fazia mais o menor sentido.
— Vim atrás de você, Lua. — respondeu, se afastando da parede e se aproximando de mim. Dei dois passos para trás, mantendo distância. — Que porra está acontecendo, Lua? Primeiro, eu te ligo durante duas semanas sem você sequer me atender. Também não respondeu nenhuma mensagem da Letícia. Depois, quando chego aqui, dou de cara com você de casinho com um caipira fodido. E agora você me rejeita? — Rafael completou, alterando o tom de voz. Eu juro que já estava ficando cansada da maneira como ele falava do Arthur.
— Em primeiro lugar, Rafael, nós não somos namorados, e você sabe muito bem disso. — Apontei o dedo no rosto dele. — Em segundo, não pedi para você vir atrás de mim. Em terceiro, Arthur, o caipira fodido, é o meu namorado. Agora, você me faria um grande favor se mandando daqui imediatamente. — completei, mas, quando me virei para sair, Rafael segurou meu braço com uma força absurda.
— Você está de brincadeira, gatinha — disse ele, e eu pude ver a raiva em seus olhos. Acho que nunca tinha visto Rafael tão chateado. — Para de brincar de fazenda feliz e vamos embora. — Saiu me arrastando, enquanto eu tentava manter os pés no lugar.
— Ficou louco, Rafael? Solta meu braço! — gritei e escutei alguém chamar por ele, que parou imediatamente de me puxar. Voltei a atenção para o caminho que dava para a porta lateral da casa e vi minha melhor amiga caminhando em minha direção. 
Porra! Letícia também está aqui.

— Rafa, ficou maluco? — perguntou, olhando-o severamente.
— Perdi a cabeça, Lê. — Rafael, Letícia e eu sempre fomos amigos. Na verdade eu a conheci primeiro. Estudamos juntas no colégio interno, onde meu pai me obrigou a passar toda a adolescência. Letícia sempre foi minha amiga, ficando do meu lado quando eu precisava, apesar de eu quase nunca ter pedido a sua ajuda, pois isso não fazia meu tipo. 
Quando completei 20 anos, passei seis meses na França e me apaixonei por Paris. Quando voltei, Letícia estava namorando Rafael. Alguns meses de convivência depois, eu senti olhares diferentes dele para mim. Resumindo: Rafael largou Letícia e começamos a transar. 
Letícia se aproximou e me abraçou. Eu sentia falta da minha amiga. Sempre fizemos tudo juntas, e por um momento eu me senti culpada por não ter retornado suas ligações nem respondido suas mensagens.

— Lindinha, como está? Senti sua falta. — disse ela, sem me soltar. Apesar de ser uma demonstração de carinho, sem querer eu comparei o abraço com os da Melanie. Com Letícia era diferente, como se fosse algo mecânico. Estávamos juntas, porém distantes. Difícil de entender, até para mim.
— Eu estou bem, Letícia. — respondi assim que nos afastamos. Rafael estava um pouco mais distante. — Não sabia que estavam aqui. — Fitei Letícia e ela havia mudado muito em um mês. Seu cabelo tinha um tom avermelhado, nada vulgar, ela tinha estilo e bom gosto. A cor fazia um belo contraste com sua pele branca e seus olhos claros. Um corpo torneado, fruto de dietas loucas e muita academia, estava adornado por um vestido curto e colado. Eu nunca neguei que ela era linda; na verdade, durante crises de TPM, eu evitava ficar muito perto dela para não me sentir inferior diante da sua beleza. A antiga Lua sempre queria se sentir a mais bonita. Antiga Lua! Essa é boa!
— Rafa está certo, lindinha — Letícia voltou a falar. — Por que nos ignorou por semanas? — Sem se alterar, ela cobrou uma explicação.
— É complicado. — Passei as mãos pelo rosto. Não queria ter aquela conversa na frente do Rafael. Precisava falar primeiro com a Letícia. Mas naquele momento sentia necessidade de estar com o meu peão. — Podemos conversar depois? — Rafa começou a falar, mas Letícia o interrompeu:
— Pode ir. Depois nos falamos. — E eu saí em disparada para o quarto do Arthur. Entrei pela porta lateral, passei pela cozinha e andei em direção ao corredor. Ainda bem que a sede era enorme e tinha alguns quartos no primeiro andar. E, se não tivesse, eu colocaria um elevador para manter Arthur próximo a mim. Tinha feito uma pesquisa na internet e conversado com os médicos enquanto estávamos no hospital. A partir das informações que consegui, mandei fazer uma pequena reforma em casa. Foda-se! Meu pai não poderia reclamar. Ele tinha se mostrado muito preocupado com a situação do Arthur. O motivo eu ainda não sabia, mas naquele momento não precisava saber. O importante era manter o meu namorado perto de mim.
Tirei todos os móveis que pudessem atrapalhar a locomoção do Arthur. Deixei o espaço livre para que ele pudesse ir e vir sem problemas. Santiago fez questão de comprar alguns dos equipamentos necessários. Algumas coisas para a fisioterapia, colchões especiais, tudo para que o meu Arthur se sentisse confortável e confiante em sua recuperação. 
Cheguei ofegante ao quarto, como se tivesse corrido uma maratona. Na verdade, estava morrendo de medo de ele fugir antes que eu pudesse voltar e me explicar. Enquanto conversava com o Rafa e a Letícia, eu fiquei de olho na caminhonete do Chay e no carro do Santiago. Arthur estava sentado na cama, com as costas apoiadas em uma grande almofada e as pernas esticadas. Mel e Chay estavam no sofá ao lado da cama e, assim que me viram entrando, se levantaram para sair. Arthur olhava pela janela, perdido em seus pensamentos. Cortava meu coração vê-lo daquela forma. Nunca havia me preocupado tanto com o bem-estar de uma pessoa. Arthur entrou em minha vida abalando todas as minhas certezas. Ele quebrou a casca que me envolvia e entrou sem pedir permissão. Me conquistou completamente com a sua personalidade forte e o seu jeito turrão. 


N/A: Bom dia, amorecos! Esses dois são ciumentos demais haha. Eai, será que o Arthur vai ficar com muita raiva da Lua, pelo ex dela ter aparecido na fazenda? 


Com mais 10 comentários, posto o próximo capítulo.

16 comentários:

  1. Esse Rafa é muito imbecil mesmo ele não se toca não é kk to curiosa com esse segredo do passado deles

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  2. Tão lindo o jeito q ela se preocupa com ele!Viciada

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  3. Af tá tudo bem aparece esse cara chato!
    Arthur e lua dois ciumento!

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  4. Rsrs...Lua toda ciumenta, é tem isso aí, que cuidar do peao dela mesmo!
    Amando cada vez mais..

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  5. Arthur e lua que ciúmes, eles vão ficar juntos e esfregar na cara do rafa

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  6. Tava Bom pra se verdade eles dois Juntos,agora aparece o ex dela,e o Arthur tá morrendo de Ciúmes,espero q eles não briguem ...
    Anciosa para o próximo *--*

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  7. Sempre tem um pra estragar

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  8. Eles não podem brigar, Arthur ta com ciúme que fofo! Posta mais

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  9. ADOREI a Lua chamando rlr de amor e dizendo estar apaixonada por ele <3
    Tomara que não consigam estragar este momento.

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  10. Esse Rafa ngm merece! E a Leticia Tbm não me engana não.. Continuaaa, ta perfeita a história!
    Maria Julia

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  11. Acho que ele não vai ficar com raiva nao!

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  12. ADOREI a Lua chamando rlr de amor e dizendo estar apaixonada por ele <3
    Tomara que não consigam estragar este momento.

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  13. Nem 1 mês de namoro e já estão tendo essas crises de ciúmes. Tomara que esse ex não abale nada entre os dois, pois quando estão bem vem alguma coisa e atrapalha.
    Helena

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  14. Eles são tão fofosss... Ahh tomara q esses dois chatos não venham pra atrapalhar!! Amooo essa web, cada dia maravilhosaaa!!

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  15. Não gosto desses dois(Leticia e rafael)eles parecem ser falsos.

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