Belo Desastre - CAP. 36

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Belo Desastre



Capítulo 36 : A caixa

As provas finais eram uma maldição para todos, menos para mim, pois isso me mantinha ocupada, estudando com Kara e Melanie no quarto e na biblioteca. Só vi Arthur de passagem, quando os horários mudaram por causa das provas. Fui para a casa de Melanie com ela nas férias de inverno, agradecida pelo fato de Chay ter ficado com Arthur, pois assim eu não precisaria testemunhar as constantes demonstrações de afeto do casal. Peguei um resfriado nos últimos quatro dias de férias, o que me deu um bom motivo para ficar na cama. Arthur disse que queria que fôssemos amigos, mas não tinha me ligado. Fiquei aliviada por ter alguns dias para chafurdar em autopiedade. Eu queria tirar isso de mim antes de voltar para a faculdade.
A viagem de volta à Eastern pareceu levar anos. Eu estava ansiosa para o início do semestre na primavera, mas ainda mais para ver Arthur de novo. No primeiro dia de aula, uma energia estimulante varreu o campus, assim como um cobertor de neve. Novas turmas eram sinônimo de novos amigos e de um novo começo. Eu não tinha nenhuma aula com Arthur, Parker, Chay ou Melanie, mas Finch estava em todas as minhas aulas. Fiquei esperando ansiosa por Arthur na hora do almoço, mas, quando ele apareceu, só me deu uma piscadinha e foi se sentar na ponta à mesa, com o restante do pessoal da fraternidade. Tentei me concentrar na conversa de Melanie e Finch sobre o último jogo de futebol americano da temporada, mas a voz dele ficava chamando a minha atenção. Ele estava entretendo o pessoal, contando de suas aventuras e dos esbarrões com a lei que tivera durante as férias, e as novidades sobre a nova namorada de Trenton, que eles tinham conhecido numa noite no The Red Door. Eu me preparei para a menção a alguma garota que ele tivesse levado para casa ou conhecido, mas, se isso aconteceu, ele não contou para os amigos.
Bolas vermelhas e douradas ainda pendiam do teto do refeitório, balançando com a corrente vinda dos aquecedores. Puxei o cardigã em volta do corpo. Finch notou e me abraçou, esfregando meu braço. Eu sabia que estava prestando atenção demais, olhando na direção de Arthur, esperando que ele erguesse o olhar para mim, mas ele parecia ter esquecido que eu estava à mesa. Arthur parecia indiferente às bordas de garotas que se aproximavam dele depois das notícias sobre o nosso término, mas também parecia satisfeito com o fato de nosso relacionamento ter voltado ao estado platônico, ainda que de modo forçado. Havíamos passado quase um mês longe um do outro, o que me deixou nervosa e insegura sobre como agir perto dele. Assim que Arthur terminou de almoçar, senti meu coração palpitar quando ele veio e parou atrás de mim, colocando as mãos nos meus ombros.
— Como vão as aulas, Chay? — ele perguntou.
Chay fez uma careta.
— O primeiro dia é um saco. Horas de planos de estudos e regras. Nem sei por que vim na primeira semana. E você?
— Hum… faz parte do jogo. E você, Flor? — ele me perguntou.
— A mesma coisa. — falei, tentando manter um tom casual na voz.
— Suas férias foram boas? — ele perguntou, brincando de me embalar de um lado para o outro.
— Muito boas. — falei, fazendo o meu melhor para soar convincente.
— Legal. Tenho aula agora. Até mais.
Fiquei olhando enquanto ele seguia em direção às portas, abrindo-as, depois acendia um cigarro.
— Huh... — disse Melanie, num tom agudo.
Ela observou enquanto Arthur cortava caminho pelo verde entre a neve e depois balançou a cabeça.
— Que foi? — Chay quis saber.
Ela apoiou o queixo na palma da mão, parecendo confusa.
— Aquilo foi meio estranho, não foi?
— Como assim? — ele perguntou, colocando a trança de Melanie para trás para beijar-lhe o pescoço. Ela sorriu e se inclinou para que ele a beijasse.
— Ele está quase normal… tão normal quanto o Arthur pode ser. O que está rolando com ele?
Chay balançou a cabeça e deu de ombros.
— Não sei. Faz um tempinho que ele está assim.
— Que reviravolta é essa, Lua? Ele está bem e você está infeliz. — disse Melanie, sem se preocupar com quem estivesse ouvindo.
— Você está infeliz? — Chay me perguntou, com uma expressão de surpresa.
Fiquei boquiaberta, e meu rosto pegou fogo de vergonha.
— Não estou, não!
Melanie ficou remexendo a salada na tigela.
— Bom, ele está beirando o êxtase.
— Para com isso, Mel. — falei em tom de aviso.
Ela deu de ombros e deu mais uma garfada.
— Acho que ele está fingindo.
Chay cutucou a namorada.
— Melanie? Você vai na festa do Dia dos Namorados comigo ou o quê?
— Você não pode me perguntar como um namorado normal? De um jeito legal?
— Eu te perguntei… várias vezes. Você fica me dizendo para perguntar depois.
Ela afundou na cadeira, fazendo biquinho.
— Eu não quero ir sem a Lua.
O rosto dele se contorceu de frustração.
— Da última vez ela ficou com o Arthur o tempo todo. Você mal viu a Lua!
— Para de ser criança, Mel. — eu disse, jogando um talo de aipo nela.
Finch me cutucou com o cotovelo.
— Eu te levaria, meu bem, mas esse lance de garoto de fraternidade não é minha praia. Desculpa.
— Pra falar a verdade, essa é uma ótima ideia! — disse Chay, com os olhos brilhando.
Finch fez careta só de pensar nisso.
— Eu não faço parte da Sig Tau, Chay. Não faço parte de nada. Fraternidades são contra a minha religião.
— Por favor, Finch. — pediu Melanie.
— Já vi esse filme… — resmunguei.
Finch olhou para mim com o canto do olho e suspirou.
— Não é nada pessoal, Lua. É só que eu nunca saí… com uma garota.
— Eu sei. — balancei a cabeça indiferente, tentando espantar meu profundo constrangimento. — Está tudo bem. Mesmo.
— Eu preciso de você lá. — disse Melanie. — Fizemos um pacto, lembra? Nada de ir a festas sozinha.
— Você não vai ficar sozinha, Mel. Para de ser tão dramática. — falei, já irritada com a conversa.
— Você quer drama? Eu coloquei uma lata de lixo do lado da sua cama, segurei uma caixa de lenços de papel para você noites inteiras e me levantei duas vezes no meio da madrugada pra pegar remédio pra tosse quando você ficou doente nas férias! Você me deve essa!
Torci o nariz.
— Eu segurei seu cabelo enquanto você vomitava tantas vezes, Melanie Mason!
— Você espirrou na minha cara! — ela disse, apontando para o próprio nariz.
Assoprei a franja da frente dos olhos. Eu nunca conseguia discutir com Melanie quando ela estava determinada a conseguir o que queria.

— Tudo bem. — falei entre dentes. — Finch? — perguntei com meu melhor sorriso falso. — Você vai comigo nessa festa idiota do Dia dos Namorados na Sig Tau?
Ele me abraçou junto à lateral do corpo.
— Vou, mas só porque você falou que a festa é idiota.
Fui andando com ele até a sala de aula depois do almoço, conversando sobre a festa de casais e sobre como nós dois a temíamos. Escolher um par de carteiras na aula de fisiologia, e balancei a cabeça quando o professor começou a narrar o quarto plano de estudos do dia. A neve começou a cair de novo, batendo nas janelas, educadamente pedindo para entrar e depois escorrendo, desapontada, até o chão. Assim que fomos dispensados, um garoto que eu tinha encontrado uma vez na casa da Sig Tau deu umas batidinhas na minha carteira enquanto passava, piscando para mim. Sorri educadamente para ele e olhei de relance para Finch, que abriu um sorriso irônico. Peguei o livro e notebook e os enfiei na mochila de qualquer jeito. Pendurei a mochila nos ombros e fui caminhando com dificuldade até o Morgan, ao longo da calçada coberta de sal. Um pequeno grupo de estudantes tinha começado uma guerra de bolas de neve no gramado, e Finch estremeceu ao vê-los, cobertos por um pó incolor. Senti o joelho vacilar e fiquei fazendo companhia a Finch enquanto ele terminava seu cigarro. Melanie veio correndo e parou ao nosso lado esfregando as luvas verdes e brilhantes.
— Cadê o Chay? — perguntei.
— Foi pra casa. O Arthur precisava de ajuda com alguma coisa, eu acho.
— Você não foi com ele?
— Eu não moro lá, Lua.
— Apenas em teoria. — Finch deu uma piscadinha.
Melanie revirou os olhos.
— Eu gosto de ficar com o meu namorado, me processem.
Finch lançou o cigarro na neve.
— Estou indo nessa, senhoritas. Vejo vocês no jantar?
Eu e Melanie assentimos em resposta, sorrindo quando ele beijou primeiro a minha bochecha e depois a de Melanie. Ele continuou na calçada úmida, tomando cuidado para ficar bem no meio e não pisar na neve, Melanie balançou a cabeça ao ver o esforço dele.
— Ele é ridículo.
— Ele é da Flórida, Mel. Não está acostumado com neve.
Ela deu uma risadinha e me puxou em direção à porta.
— Lua!
Eu me virei e vi que Parker vinha apressado na minha direção, passando por Finch. Ele parou e tomou fôlego um instante antes de falar. O casaco cinza acompanhava os movimentos de sua respiração, e ele riu baixinho ao ver o olhar fixo e curioso de Melanie.
— Eu ia… ufa! Eu ia perguntar se você quer comer alguma coisa hoje à noite.
— Ah. Eu, hum… eu já disse para o Finch que ia jantar com ele.
Tudo bem, não tem problema. Eu ia experimentar aquela hamburgueria nova no centro da cidade. Todo mundo está dizendo que é ótima.
— Quem sabe da próxima vez. — falei, dando-me conta do meu erro. Eu esperava que ele não entendesse minha resposta impensada como um adiamento. Ele assentiu e enfiou as mãos nos bolsos, voltando rapidamente pelo caminho por onde tinha vindo.
Kara estava lendo seus livros novinhos em folha e fez uma careta para Melanie e para mim quando entramos no quarto. O humor dela não tinha melhorado desde que voltáramos das férias. Antes, eu passava tanto tempo no apartamento de Arthur que acabava não ligando para os comentários e as atitudes insuportáveis de Kara. Mas passar todos os fins de tarde e todas as noites com ela durante as duas semanas que antecederam o fim do semestre me fez lamentar profundamente minha decisão de não dividir o quarto com Melanie.
— Ah, Kara. Como senti sua falta. — disse Melanie.
— O sentimento é mútuo. — Kara resmungou, mantendo o olhar fixo no livro.
Melanie ficou falando sobre seu dia e sobre os planos com Chay para o fim de semana. Procuramos vídeos engraçados na internet e choramos de tanto rir. Kara bufou algumas vezes com o barulho, mas a ignoramos. Fiquei contente com a visita de Melanie. As horas passaram rápido, e não fiquei me perguntando se Arthur teria me ligado, até que ela decidiu ir embora.
Melanie bocejou e olhou para o relógio.
— Estou indo dormir, Lu… ah, merda! — ela disse, estalando os dedos. — Deixei meu nécessaire de maquiagem no apartamento do Chay.
— Isso não é nenhuma tragédia, Mel. — falei, ainda dando umas risadinhas por causa do último vídeo que tínhamos visto.
— Não seria uma tragédia se o meu anticoncepcional não estivesse lá. Vem comigo, preciso ir lá buscar o nécessaire.
— Você não pode pedir para o Chay trazer?
— O Arthur está com o carro dele. Ele foi no Red com o Trent.
Senti náuseas.
— De novo? Por que ele está andando tanto com o Trent, afinal?
Melanie deu de ombros.
— Isso importa? Vamos!
— Eu não quero encontrar o Arthur. Vai ser estranho.
— Você alguma vez presta atenção no que eu falo? Ele não está lá, está no Red. Vamos! — ela disse, choramingando e puxando meu braço.
Eu me levantei com uma leve resistência enquanto ela me arrastava para fora do quarto.
— Finalmente! — disse Kara.
Paramos o carro no estacionamento do prédio de Arthur e percebi que a Harley dele estava estacionada debaixo das escadas, e que o Charger de Chay não estava lá. Suspirei aliviada e segui Melanie, subindo os degraus congelados.
— Cuidado. — ela me avisou.
Se eu soubesse como seria perturbador colocar os pés ali de novo, não teria deixado que Melanie me convencesse a ir até lá. Totó veio correndo a toda velocidade, batendo com tudo nas minhas pernas quando suas minúsculas patas não conseguiram frear. Eu o levantei, deixando que me cumprimentasse com suas lambidinhas. Pelo menos ele não tinha me esquecido. Levei-o comigo pelo apartamento, esperando enquanto Melanie procurava o nécessaire.
— Eu sei que deixei aqui! — disse ela do banheiro, atravessando o corredor batendo os pés, seguindo em direção ao quarto de Chay.
— Você olhou no armário debaixo da pia? — ele perguntou.
Olhei para o relógio.
— Anda logo, Mel. Precisamos ir embora.
Melanie suspirou, frustrada, lá no quarto. Baixei o olhar para o relógio de novo, então dei um pulo quando a porta da frente se abriu com tudo atrás de mim. Arthur entrou cambaleando, abraçado em Megan, que dava risadinhas com a boca encostada na dele. Ela segurava uma caixa que me chamou atenção, e senti náuseas quando me dei conta do que eram: camisinhas. Sua outra mão estava na nuca dele, e eu não conseguia discernir quais braços estavam enrolados em volta de quem.
Ele ficou perplexo quando me viu ali, parada no meio da sala, e, ao vê-lo paralisado, Megan ergueu o olhar com um sorriso ainda no rosto.
— Beija-Flor... — disse ele, espantado.
— Achei. — disse Melanie, saindo do quarto de Chay.
— O que você está fazendo aqui? — ele me perguntou.
O cheiro de uísque entrava com o vento e os flocos de neve, e uma raiva incontrolável se sobrepôs a qualquer necessidade de fingir indiferença.
— Que bom ver que você voltou a ser você mesmo, Thur. — falei.
O calor que irradiava do meu rosto fazia meus olhos arderem e deixava minha visão turva.
— A gente já estava de saída. — rosnou Melanie.
Ela me agarrou pela mão e passamos por eles. Descemos voando os degraus em direção ao carro, e fiquei grata por estar quase chegando ao fim da escada, pois já sentia as lágrimas se acumularem em meus olhos. Quase caí para trás quando meu casaco ficou preso em algo no meio do caminho. Melanie soltou minha mão e se virou ao mesmo tempo que eu. Arthur tinha segurado meu casaco, e senti minhas orelhas pegarem fogo, ardendo no ar frio da noite. Tanto os lábios quanto o colarinho dele estavam com um ridículo tom de vermelho.
— Aonde você está indo? — ele perguntou, com um olhar meio bêbado, meio confuso.
— Pra casa. — retruquei, endireitando o casaco quando ele me soltou.
— O que você está fazendo aqui?
Eu podia ouvir os pés de Melanie esmagando a neve enquanto da caminhava para trás de mim, e Chay desceu voando as escadas para se postar atrás de Arthur, com os olhos temerosos fixos na namorada.
— Foi mal. Se eu soubesse que você estaria aqui, não teria vindo.
Arthur enfiou as mãos nos bolsos do casaco.
— Você pode vir aqui quando quiser, Flor. Eu nunca quis que você ficasse longe.
Não consegui controlar a acidez na voz.
— Não quero interromper. — Olhei para o alto da escada, onde estava Megan, com uma expressão presunçosa. — Curta sua noite. — falei, me virando.
Ele me segurou pelo braço.
— Espera aí. Você está brava?

Quero matar o Arthur! Olha o que ele fez. 
Esses capítulos tensos me cortam o coração :/

Com mais 10 comentários, posto o próximo capítulo.

18 comentários:

  1. Arthur leva uma mulher pra casa dele, a Lua vê e ele ainda pergunta de ela ta brava, só pode estar bebado mesmo! Tomara que ele não faça mais nenhuma besteira
    Helena

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  2. Nossa eu quero matar muito o Arthur ele leva uma mulher pro apartamento dele e ele pergunta pra se ela ficou brava claro que ela ficou né Arthur

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  3. Cachorro , ele n pode fazer isso , eles têm Q voltar

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  4. Nossa q vontade de Matar esse Arthur,Tadinha Da Lua,Eu sei q ela q terminou com ele,mais eles mal terminaram ele já tá com outra,Muita Raiva do Arthur :/

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  5. Que pergunta idiota né Arthur.

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  6. Não Arthur, por acaso ela ta feliz né .
    Agora não tem jeito mesmo.
    Beatriz

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  7. Agora a porca foi bro brejo.
    E agora?

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  8. O que esperar agora? Do jeito que ela é , capaz de tortura ele.
    Mas merece né
    Julinha

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  9. Dá na cara deele Lua. Cachorro, safado, atoa.
    Cade o amor todo?

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  10. Que filho da puta... Por que ele ta fazendo isso em? Que canalha, desgraçado... Merda

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  11. Tadinha da Lu :/ eu só espero q ela n volte cm o Parker rs'

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  12. Tadinha da Lu :/ eu só espero q ela n volte cm o Parker rs'

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Eu não gosto do Parker ele me dá nos nervos,mais o Arthur deixa meu sangue até borbulhando de ódio,então a Lua podia voltar a sair com o Parker.Estou com um ódio mortal do Arthur nesse momento 😡😡

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