Milagres do Amor - Cap. 72º

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Milagres do Amor
Há luz do sol por trás dessa chuva

Pov Narrador

O quarto escuro e gelado pelo ar-condicionado contrastava com o ar puro e fresco do dia que se iniciou lá fora. O dia nasceu imponente e bonito, as flores já acostumadas com o frio intenso, mas, porém que ainda sofrem com isso.

Os cobertores jogados e bagunçados por cima de Lua e Arthur afastavam um pouco do frio, na mesma posição em que dormiu. Arthur não deixou Lua se mover um milímetro com a cabeça em seus seios e a mão em sua cintura que permaneceram ali por todo o momento.

Arthur acordou primeiro, e não se moveu, sua cabeça pesava uma tonelada, se sentia enjoado e mole, a sede lhe vinha com força total, mas a preguiça de sair dos braços de Lua não o deixava se levantar da cama. Escutando o som mais importante de sua vida, calmo e ritmado, o fazia relaxar e por um momento esquecer o mal estar.

Nem ousou abrir os olhos, se lembrava de tudo que fez quando chegou em casa até a ida a casa do seus pais, a volta que embaralhava tudo, a partir do momento em que sentou no sofá macio e fofo do escritório, a memória lhe fugiu. Não tinha intenção de se lembrar, só esperava fervorosamente que não tenha feito besteira.

Sentiu Lua se mexer inquieta, tentando sair do abraço de urso que lhe sufocava.

– Amor? – sussurrou, beijando os cabelos extremamente revoltos.
– Hum? – resmungou, sem se mover.
– Preciso levantar.
– Não, tá bom aqui. – disse vagarosamente, tentando colocar seu cérebro para funcionar.
– Amor… rola pra lá. – riu.

Arthur bufou e rolou para o travesseiro, apertando os olhos pela dor de cabeça que se intensificou.

Lua se espreguiçou, abafando um gemido de dor por ter ficado tanto tempo com Arthur sobre ela.

– Bom dia. – Beijou seus lábios e foi para o banheiro.

Tomou um banho relaxante, vestiu uma roupa fresca, fez sua higiene e saiu do banheiro penteando os cabelos. Encontrou Arthur na mesma posição que estava antes de ir para o banheiro. De costas para a cama, com um bico nos lábios, os braços jogados para o lado, uma perna flexionada e outra deitada, apenas de cueca. Deixando seus gominhos e coxas definidas amostra.

Certamente ele estaria em um mal estar horrível, sempre era o primeiro a levantar da cama e com uma disposição de dar inveja. Lua desceu e encontrou Ruth, com seu tradicional sorriso e simpatia. Pediu um café amargo e forte, enquanto esperava ser preparado, comeu algumas frutas e suco de melancia.

Após alguns minutos subiu com a xícara escaldante de café, colocou na mesinha de cabeceira e se ajoelhou na cama.

– Thur?
– Hum? – torceu a boca, sem abrir os olhos.
– Abre os olhos amor, sabe que eu adoro olhar pra eles. – alisou seus cabelos. Arthur obedeceu e vagarosamente abriu seu mar castanho brilhante. – Trouxe café pra você. – estendeu a xícara pra ele, que se sentou e a pegou.
– Lua isso está horrível. – quase cuspiu, fazendo uma cara feia.
– É, eu sei e toma tudo, ninguém manda beber como se o mundo fosse acabar.

Esperou ele tomar tudo e pegou a xícara, para logo ele pedir um copo de água, que bebeu de uma vez e ainda pediu mais. Deitou-se novamente.

– Amor, eu vou sair. – disse deitando em seu peito.
– Pra onde? – perguntou com o cenho franzido.

Lua mordeu os lábios.

– É… Hum… Vou ver o Brandon.

Arthur bufou.

– Você vai ter coragem de me deixar aqui sozinho? Passando mal? – fez bico.
– Amor, é que eu prometi…
– Ah, tá bom, então vai. – tentou tira-la de cima dele, mas ela se manteve firme.

Lua suspirou, tantas vezes que ele cuidou dela, agora é sua vez de retribuir o favor.

– Tudo bem, amor. Eu fico. – beijou seu peito e subiu para sua boca lhe dando um beijo rápido, foi para o lado e abriu os braços pra ele, que foi sem pestanejar.

Manteve os olhos abertos, olhando para Lua, que alisava seus cabelos carinhosamente.

– Seus olhos são lindos, mas não é apenas por isso que eu gosto de olhá-los, mas sim por algum motivo, eu amo olhar para eles. – beijou sua testa, o fazendo rir e apertar mais seus braços em torno dela. – Como dizem… os olhos são a porta da alma.

Assim se passou o dia, ambos deitados abraçadinhos na cama. Arthur tentando fazer sua ressaca ir embora e Lua cuidando dele.

(…)

Lua se encontrava dentro de sua Mercedes Benz preta com Louise dirigindo e mais dois seguranças os seguindo. Arthur se tornou extremamente protetor se tratando da sua segurança.

Vestida com uma blusa de banda qualquer na cor marrom, uma calça jeans e botas que chegavam quase aos seus joelhos. Seus cabelos soltos e sedosos caiam divinamente em suas costas

– Chegamos Lua. – disse Louise.

Lua ergueu seus olhos e atenção de sua barriga de um tamanho razoavelmente médio, que a cada dia crescia mais e mais, e olhou para fora da janela no carro.

Em uma rua não muito movimentada, ao longe se via um casarão velho que sem dúvida, já fora bonito. Em sua frente árvores imensas com um tapete verde mal cuidado. Dois andares, com amplas janelas para todo o lado, um porão podia ser visto com suas minúsculas janelinhas aparecendo, na cor branca desbotada e suja dava uma aparência assustadora ao lugar que deveria ser alegre.

Uma placa na parte de cima do último andar indicava o nome: Orfanato Vit’ovris, com letras grandes e gordas. Lua não gostou nada do que viu, suspirou. Louise abriu a porta lhe dando passagem, com os seguranças a acompanhando de longe, foi até o casarão, onde foi recebida por uma mulher rechonchuda com uma carranca nada animadora.

– Boa tarde, sou Lua Aguiar. – cumprimentou a mulher.
– Boa tarde, pode entrar. – lhe deu espaço, onde Lua entrou. – Espere um momento que a Madre Sara, logo virá atendê-la.
– Claro. – Lua sentou em um dos sofás e observou melhor, o interior do casarão era sem dúvidas melhor que a entrada, cores fracas nas paredes, alguns pontos se descascando pela umidade. Uma mesinha de centro com revistas e flores de plástico, portas e mais portas em todo lado.
– Olá Sra. Aguiar, não é? – uma senhora com sua roupa branca e preta tampando a cabeça e os pés, seus óculos fundo de garrafa e um sorriso simpático no rosto, lhe saldou.
– Sim, apenas Lua, por favor. – apertou a mão estendida em sua direção.
– Venha até minha sala. – a guiou pelo amplo corredor até chegar à sala. – Sente-se. – indicou a poltrona preta, onde Lua se sentou, esperou a senhora se acomodar em sua cadeira de frente para a mesa. – É um prazer conhecê-la, estávamos esperando sua visita ontem.
– Oh me desculpe, aconteceu um problema. – sorriu minimamente, entrelaçando as mãos em cima de sua bolsa, que repousava em seu colo.
– Entendo, Erika me falou sobre o seu caso. Aparentemente seu marido não quer adotar o garoto não é?
– Bom… Mais ou menos.
– Não se preocupe, nada do que falar para mim sairá daqui, só estou tentando entender. Desculpe-me se fui intrometida.
– Claro que não.
– Então, quando ela me contou toda a história que envolve o pequeno, a princípio eu achei que seu marido, o Sr. Arthur Aguiar não gostava de criança, mas a senhora está grávida então não vejo como ser verdade. O que tiver ao meu alcance eu farei para ajudá-la. – sorriu pra ela, lhe dando um sorriso amável.
– Obrigada. – respondeu simplesmente.
– Você gosta do garoto não é? – Lua assentiu.
– Para sua felicidade ou não, é muito difícil crianças da idade dele ser adotados, você poderá visitá-lo sempre que quiser. E talvez com o passar do tempo você possa convencer o seu marido a adotá-lo.
– Muito difícil, mas eu não o deixarei desamparado. Por isso sempre que puder virei visitá-lo e contribuirei com o orfanato. – Lua tirou seu talão de cheque da bolsa e assinou, escrevendo uma quantia e lhe entregou.
– Obrigada... – a senhorinha parou no meio da frase ao notar a contribuição generosa que lhe foi dada. – Nossas crianças agradecem, muito obrigada mesmo. Estávamos precisando de contribuidores. – se levantou calmamente e colocou em uma pequena caixa do lado da janela, onde foi trancada e a chave colocada em um cordão em volta de seu pescoço. – Acho que só irá aumentar mais a partir de hoje. – disse olhando para os paparazzi que de uma hora para outra apareceram ali. – Vou levá-la para conhecer o orfanato.

Lua seguiu a senhora, que foi lhe mostrando tudo. Alguns quartos com beliches e armários, sala de jogos com alguns mínimos brinquedos, sala de televisão, tudo muito simples e sem cor.

– Onde as crianças estão? – perguntou Lua, depois de vários minutos conhecendo o local.
– Estão almoçando, querida. Levarei você até lá.

Ela andou por um corredor estreito, onde se abriu para uma sala enorme, com uma mesa longa e cadeiras em sua volta. As crianças estavam comendo em silêncio total, concentradas em matar a fome.

Lua procurou entre as crianças Brandon, mas estava difícil encontrá-lo. Viu Sara conversar com uma mulher e logo veio falar com ela novamente.

– Lua venha, Brandon está logo ali.

Após passar por várias cabecinhas, com seus olhos tristes e sem brilho, mas com algumas fagulhas de esperança bem lá do fundo. Lua sorriu e logo foi retribuída por sorrisos bonitos com covinhas e sem dentes.

– Ali está ele. – indicou três cadeiras a frente, onde Brandon estava com os olhos fixos em um ponto em sua frente, com uma carinha triste.

Lua se sentou na cadeira vazia do seu lado, e Brandon se virou. A carinha triste foi substituída por um sorriso de orelha a orelha.

– Lua. – lhe deu um abraço caloroso e cheio de carinho.
– Meu anjo, como você está? – perguntou afagando seus cabelos.
– Bem. Te esperei ontem, pensei que tinha me abandonado. – abaixou o rostinho, olhando para comida intocada em sua frente.
– Oh meu anjo, desculpe. Não deu, mas eu estou aqui hoje. – levantou seu queixo e sorriu para ele. – Eu nunca vou te abandonar, se eu faltar um dia no outro pode ter certeza que eu virei. Confia em mim?
– Confio. – ela lhe deu um beijo na bochecha.
– Não vai comer? – perguntou olhando para o prato, sem sinal que alguma coisa foi tirada de lá.
– Não estou com fome. – fez uma careta.
– A comida não é boa? – perguntou em tom de brincadeira em seu ouvido.

Ele olhou para todos os lados antes de responder.

– Não.
– Oh anjo, eu vou ver o que posso fazer quanto a isso. Mas está gostando daqui?

Ouviu suspirar pesadamente.

– Aqui é bom, mas eles não gostam de mim. – disse olhando para as outras crianças que o olhavam curiosas.
– Como não gostam?
– Eles dizem que sou bonitinho demais, bem cuidado demais. Alguns deles viram as reportagens sobre você.
– Mas eles batem em você? – perguntou preocupada.
– Não, mas ficam cochichando sobre mim. – deu de ombros.
– Você tem algum amigo?
– Alguns... – sorriu envergonhado.
– O que foi esse sorrisinho?
– Nada…
– Está gostando de alguma garota?
– Bom… É… Ela é bonita, foi a primeira a falar comigo. – torceu as mãozinhas nervosamente.
– Como é o nome dela? – perguntou curiosa.
– Lari.
– Depois você me mostra ela?
– Mostro.

Lua escutou um sinal e as crianças logo se levantaram e colocaram seus pratos encima da pia e voltaram em filas para o que parecia ser o banheiro.

– Tenho que ir, mas você vai ficar não é? – perguntou, com seus olhinhos azuis pidões.
– Sim, pode ir. Vou conversar com a madre e depois eu procuro você. – lhe deu um beijo na cabeça e se levantou. Olhou o garoto desaparecer e foi até a madre.
– Vocês precisam de voluntários aqui?
– Sim, minha querida.
– Bom se a senhora quiser, até a minha filha nascer, eu posso vir e ajudá-las.
– Seria maravilhoso. – sorriu brilhante para ela.
– Posso estar sendo um pouco intrometida, mas eu posso fazer uma proposta para senhora?
– Claro.
– Bom, eu adorei o orfanato, só que ele está precisando de algumas reformas, brinquedos, precisa de mais cor… mais vida. A senhora me deixaria fazer isso?

Os olhos da madre se arregalaram.

– Oh, você tem certeza? Nós não temos dinheiro.
– Não, eu arcarei com as despesas de tudo.
– Minha querida, precisamos de pessoas como você no mundo. Está autorizada.
– Obrigada.

Lua permaneceu ali um longo tempo, conversou com as crianças, conheceu a pequena Lari, com seu cabelo enrolado e preto e olhos grandes cor de mel, uma garotinha encantadora. Viu o que precisava ser mudado e o que estava bom. Planejava tornar o orfanato um lugar aconchegante e alegre, como as crianças precisavam para viver bem e felizes. Enquanto famílias de bom coração não vinham a seu encontro, preencher o vazio instalado com tanto sofrimento em cada um deles.

Amor, era o que cada um deles sentia falta, não tinham nada, mas quando um estranho chega e dá o mínimo de atenção que seja, eles retribuíam com carinho e sorrisos sinceros e amorosos.

Lua tirou a prova disso, tantas pessoas reclamam da vida que tem e não sabem o que estão falando. O dinheiro, o bem material, nada se compara a ter uma família estruturada e que te ama e apoia onde quer que ande, onde quer que vá…

Sorria só em lembrar o tanto de criança em sua volta, querendo sua atenção, lhe dando um calor indescritível dentro do peito. Tantos sorrisos, abraços, beijos, tanto calor humano em um só lugar, que chegava a ser inacreditável a carência de cada um.

Sentia-se triste por um lado, mas feliz por sentir que será capaz de ajudar de alguma forma aquelas pobres crianças. Sem dúvidas, faria isso… Algo a impulsionava a fazer isso, a dar carinho e amor a quem tanto necessita, talvez fosse à gravidez. O instinto materno que tanto a cercava nesses últimos meses, a chegada de Nicole, sem dúvidas era um motivo. Mas também por Jane, devia isso a ela, não seria capaz de adotar seu filho, como prometido. Contudo, faria de tudo para ele ter uma boa família, onde arcariam com essa responsabilidade deliciosa que é criar um anjo como o pequenino Brandon.

Continua...

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Vou postar mais 1 cap. Se tiver mais de 7 comentários. Não postarei mais, porque tô tentando terminar de escrever Little Anie, pra postar amanhã.

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