Belo Desastre - CAP. 5

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Belo Desastre



Capítulo 5 : Canalha (Parte 2)

Meu celular vibrou e o abri em um toque, era uma mensagem de texto da Melanie amaldiçoando as caldeiras. Alguns instantes depois, alguém batia à porta. Melanie entrou e se jogou na minha cama, de braços cruzados.
— Dá pra acreditar nessa merda? Pagamos uma fortuna e não podemos nem tomar um banho quente? — Kara soltou um suspiro.
— Pare de choramingar. Por que você não vai ficar com o seu namorado? Não é o que você tem feito mesmo? — Melanie voltou o olhar rapidamente na direção da minha colega de quarto.
— Boa ideia, Kara. O fato de você ser uma vaca vem a calhar às vezes. — Kara continuou olhando para o monitor do computador, sem se abalar com o ataque. Melanie pegou o celular e digitou uma mensagem de texto com velocidade e precisão incríveis. O celular vibrou e ela sorriu para mim.
— Nós vamos ficar no apartamento do Chay e do Arthur até consertarem as caldeiras.
— O quê? Eu não vou! — gritei.
— Ah, vai sim! Não tem por que você ficar presa aqui, congelando no chuveiro, quando o Arthur e o Chay têm dois banheiros no apê deles.
— Mas eu não fui convidada.
— Eu estou convidando você. O Chay já falou que tudo bem. Você pode dormir no sofá… se o Arthur não for usar.
— E se ele for? Melanie deu de ombros.
— Aí você pode dormir na cama dele.
— De jeito nenhum! Ela revirou os olhos.
— Não seja infantil, Lua. Vocês são amigos, certo? Se ele não tentou nada até agora, acho que não vai tentar. — As palavras dela me fizeram calar a boca na hora. Arthur tinha ficado perto de mim de uma forma ou de outra todas as noites durante semanas. Estive tão ocupada me certificando de que todo mundo soubesse que eramos apenas amigos que não me ocorreu que ele realmente estava interessado somente em nossa amizade. Eu não sabia ao certo o motivo, mas me senti insultada.
Kara nos olhou com descrença.
— Arthur Aguiar não tentou levar você pra cama?
— Nós somos amigo! — falei em tom defensivo.
— Eu sei, mas ele nem tentou? Ele já transou com todo mundo…
— Menos com a gente. — disse Melanie, olhando para ela. — E com você. — Kara deu de ombros.
— Bom, nunca nem o conheci, só ouvi falar dele.
— Exatamente. — retruquei. — Você nem conhece o Arthur. — Kara voltou a olhar para o monitor, ignorando nossa presença. Soltei um suspiro.
— Tudo bem, Mel. Preciso arrumar uma mala.
Coloque coisas para alguns dias. Vai saber quanto tempo vão levar para consertar as caldeiras. — ela disse, completamente animada. O medo tomou conta de mim, como se eu estivesse prestes a entrar sorrateiramente em território inimigo.
— Ai… tudo bem. Melanie deu pulinhos e me abraçou.
— Isso vai ser tão divertido.
Meia hora depois, colocamos nossas malas no Honda dela e nos dirigimos para o apartamento dos meninos. Melanie mal respirava entre suas divagações enquanto dirigia. Tocou a buzina quando diminuiu a velocidade e parou no estacionamento, na vaga de sempre. Chay desceu apressado os degraus, pegou nossas malas e foi atrás de nós enquanto subíamos as escadas.
— A porta está aberta. — disse ele, ofegante. Melanie empurrou a porta e a segurou aberta. Chay resmungou quando largou nossa bagagem no chão.
— Nossa, baby! Sua mala pesa uns dez quilos a mais que a da Lua. Melanie e eu ficamos paralisadas quando uma mulher saiu do banheiro, abotoando a blusa.
— Oi. —disse ela, surpresa. Os olhos manchados de rímel nos examinaram antes de pousarem na nossa bagagem. Eu a reconheci: era a morena de pernas longas que Arthur tinha seguido do refeitório. Melanie lançou um olhar fulminante para Chay, que ergueu as mãos e disse:
— Ela está com o Arthur! — Arthur surgiu de cueca e bocejou. Ele olhou para sua convidada e lhe deu um tapinha na bunda.
— Minhas amigas chegaram. É melhor você ir embora. — Ela sorriu e o abraçou, beijando-o no pescoço.
— Vou deixar o número do meu telefone na bancada da cozinha.
— Hum… não precisa — ele respondeu em tom casual.
— O quê? — ela perguntou, reclinando-se para olhar nos olhos dele.
— Toda vez é a mesma coisa! — Melanie disse e olhou para a mulher.
— Como você pode ficar surpresa com isso? Ele é a droga do Arthur Aguiar! O cara é famoso exatamente por isso, e todas às vezes vocês ficam surpresas! — disse ela, voltando-se para Chay, que a abraçou fazendo um gesto para que ela se acalmasse. A garota franziu os olhos para Arthur, pegou a bolsa e saiu tempestivamente, batendo a porta com força. Ele entrou na cozinha e abriu a geladeira, como se nada tivesse acontecido. Melanie balançou a cabeça e seguiu pelo corredor. Chay foi atrás dela, fazendo um ângulo com o corpo para compensar o peso da mala dela enquanto seguia a namorada. Eu me joguei na cadeira reclinável e suspirei, me perguntando se era maluca por concordar em vir. Não tinha me tocado que o apartamento do Chay tinha alta rotatividade de periguetes sem noção. Arthur estava sorrindo, parado atrás da bancada da cozinha, com os braços cruzados sobre o peito.
— Qual o problema, Flor? Dia ruim?
— Não, só estou completamente indignada.
— Comigo? Ele sorria. Eu devia saber que ele estava esperando por essa conversa. Isso só me atiçou a falar.
— É, com você. Como você pode usar alguém assim, tratá-la desse jeito?
— Como foi que eu a tratei? Ela quis me dar o número do telefone, eu não aceitei. — Meu queixo caiu com a ausência de remorso dele.
— Você pode transar com a garota, mas não pode pegar o número do telefone dela? — Arthur apoiou os cotovelos na bancada.
— Por que eu ia querer o número dela se não vou ligar?
— Por que você foi pra cama com ela se não vai ligar?
— Não prometo nada pra ninguém, Flor. Ela não exigiu relacionamento sério antes de abrir as pernas no meu sofá. — Olhei com nojo para o sofá.
— Ela é filha de alguém, Arthur. E se, no futuro, alguém tratar a sua filha desse jeito?
— É melhor a minha filha não sair por aí tirando a roupa pra qualquer idiota que ela acabou de conhecer. — Cruzei os braços com raiva, porque o que ele tinha dito fazia sentido.
— Então, além de admitir que você é um idiota, está dizendo que, por ela ter dormido com você, merece ser enxotada como um gato de rua?
— Estou dizendo que fui honesto com ela. Ela é adulta, foi consensual… E ela não hesitou nem por um segundo, se você quer saber. Você esta agindo como se eu tivesse cometido um crime.
Ela não parecia saber das suas intenções, Arthur.
— As mulheres em geral justificam seus atos com coisas da cabeça delas. Ela não me disse logo de cara que esperava um relacionamento, assim como eu não disse a ela que esperava sexo casual. Qual é a diferença?
— Você é um canalha. — Arthur deu de ombros.
— Já fui chamado de coisa pior. — Fiquei encarando o sofá, com as almofadas ainda fora de lugar e amontoadas por causa do uso recente. Eu me contorci só de pensar em quantas mulheres haviam se entregado a ele ali, sobre o tecido que pinicava, além de tudo.
— Acho que vou dormir aqui na cadeira reclinável mesmo. — murmurei.
— Por quê? — Fulminei Arthur com o olhar, furiosa com sua expressão confusa.
— Não vou dormir naquela coisa! Só Deus sabe em cima do que eu estaria dormindo! — Ele ergueu minha bagagem do chão.
Você não vai dormir aí na cadeira nem no sofá. Vai dormir na minha cama.
— Que deve ser ainda menos higiênica do que o sofá, com certeza.
— Nunca levei ninguém para a minha cama. — Revirei os olhos.
— Dá um tempo!
— Estou falando muito sério. Eu trepo com elas no sofá. Não deixo que entrem no meu quarto.
— Então por que eu posso ficar na sua cama? — Ele ergueu um canto da boca em um sorriso malicioso.
— Está planejando transar comigo hoje à noite?
— Não!
— Eis o porquê. Agora levante o rabo mal-humorado daí, vá tomar um banho quente e depois vamos estudar um pouco de biologia. — Olhei irritada para ele por um instante e então, relutante, fiz o que ele mandou. Fiquei embaixo do chuveiro por bastante tempo, deixando que a água levasse embora a minha raiva. Massageando o shampoo no cabelo, soltei um suspiro pela sensação maravilhosa de estar em um banheiro não comunitário novamente, nada de chinelos e sacola com as coisas de banho, apenas a mistura relaxante de vapor e água.
A porta se abriu e dei um pulo.
— Mel?
— Não, sou eu — disse Arthur. Automaticamente envolvi com os braços as partes do corpo que não queria que ele visse.
O que você está fazendo, sai daqui!
— Você esqueceu de pegar a toalha, e eu trouxe suas roupas, sua escova de dente e um creme facial esquisito que achei na sua bolsa.
— Você mexeu nas minhas coisas? — perguntei, com um gritinho meio agudo. Ele não respondeu. Em vez disso, ouvi Arthur abrir a torneira e começar a escovar os dentes: Dei uma espiada pela cortina de plástico, mantendo-a junto ao peito.
— Vai embora, Arthur. Ele ergueu o olhar para mim, com os lábios cobertos de espuma da pasta de dentes.
— Não posso dormir sem escovar os dentes.
— Se você chegar a meio metro dessa cortina, vou arrancar seus olhos quando você estiver dormindo.
— Não vou espiar, Flor. — disse ele, dando uma risadinha.
Fiquei esperando debaixo da água com os braços bem apertados em volta do peito. Ele cuspiu, bochechou, cuspiu de novo e depois a porta se fechou. Eu me enxaguei, me sequei o mais rápido possível, vesti a camiseta e o short, coloquei os óculos e penteei o cabelo. Vi o hidratante de uso noturno que Arthur tinha levado até o banheiro e não consegui conter um sorriso. Ele era atencioso e quase gentil quando queria. Arthur abriu a porta de novo.
— Anda logo, Flor. Vou apodrecer de tanto esperar aqui! Joguei meu pente nele, mas ele conseguiu desviar, fechando a porta e rindo sozinho até chegar ao quarto. Escovei os dentes e fui arrastando os pés pelo corredor. No caminho, passei pelo quarto de Chay.
— Boa noite, Lua. — disse Melanie do escuro.
— Boa noite, Mel. Hesitei antes de bater duas vezes, suavemente, na porta do quarto de Arthur.
— Entra, Flor. Não precisa bater. — Ele abriu a porta e eu entrei. Vi a cama de ferro preta disposta paralelamente às janelas do outro lado do quarto. Nas paredes não havia nada além de um sombreiro acima da cabeceira da cama. Eu meio que esperava que o quarto dele estivesse repleto de pôsteres de mulheres peladas, mas não havia nem uma propaganda de cerveja. A cama era preta, o carpete cinza, e tudo o mais no quarto era branco. Parecia que ele tinha acabado de se mudar.
— Gostei do pijama. — disse Arthur, a me ver com meu short xadrez amarelo e azul-marinho e a camiseta cinza da Eastern. Ele se sentou na cama e deu umas batidinhas no travesseiro a seu lado. — Bem, pode vir. Não vou te morder.
— Não tenho medo de você. — falei, indo até a cama e largando o livro de biologia ao lado dele. — Você tem uma caneta? — Ele apontou com a cabeça para a mesa de cabeceira.
— Na gaveta de cima. Eu me estendi até o outro lado da cama, abri a gaveta e achei três canetas, um lápis, um tubo de KY e um pote de vidro do qual transbordavam diferentes marcas de camisinha. Revoltada, peguei a caneta e fechei a gaveta com força.
— Que foi? — ele quis saber, virando uma página do livro.
— Você assaltou um posto de saúde?
— Não, por quê? — Tirei a tampa da caneta, sem conseguir esconder a expressão indignada.
— Por causa do seu suprimento de camisinhas pra uma vida inteira.
— É melhor prevenir do que remediar, certo?
Revirei os olhos. Arthur se voltou às páginas, e um sorriso zombeteiro surgiu em seus lábios. Ele leu as anotações para mim, ressaltando os pontos principais enquanto me fazia perguntas e, com paciência, me explicava o que eu não entendia.
Depois de uma hora, tirei os óculos e esfreguei os olhos.
— Estou acabada. Não consigo memorizar nem mais uma macromolécula. — Arthur sorriu e fechou o livro.
— Tudo bem.
Parei um pouco, sem saber como dormiríamos. Arthur saiu do quarto, cruzou o corredor e falou algo ininteligível para Chay no quarto dele antes de ligar o chuveiro. Virei às cobertas e puxei-as até o pescoço, ouvindo o chiado agudo da água no encanamento.
Dez minutos depois, a água parou de correr e ouvi o assoalho ranger sob os passos de Arthur. Ele entrou no quarto com uma toalha enrolada nos quadris. Tinha tatuagens nos dois lados do peito, e tribais em preto cobriam ambos os ombros salientes. No braço direito, linhas negras e símbolos se estendiam do ombro até o pulso. No esquerdo, as tatuagens terminavam no cotovelo, com uma única linha manuscrita na parte de baixo do antebraço. Fiquei de costas para Arthur enquanto ele deixava a toalha cair na frente da cômoda e vestia a cueca. Depois desligou a luz e deitou na cama ao meu lado.
— Você vai dormir aqui também? — perguntei, me virando para olhar para ele.

Hello Hello :)

Percebi nos comentários do capítulo anterior, que vocês querem muito que a Lua fique com Parker, só pro Arthur ficar com ciúmes, meninas vocês não valem nada hahahaha E sobre essa hipótese, nada a declarar... 

Com mais 10 comentários, posto o próximo capítulo.

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