Aquele Dia Outra Vez | Especial de Natal

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Bom, antes de começar a fanfic, eu vou fazer um breve N/A para não ficar confuso para ninguém, ok?
O (*) É pra separar um flash do outro. Tá? Quando eu mudar o tempo dos flash, eu sempre vou colocar a data de início de cada um. Porque vou contar um pouco da história dos personagens, antes de chegar onde eu quero.
Espero que gostem.
Boa leitura!
Feliz Nata!
Bye.

Aquele dia outra vez.
Fanfic de Natal.

 Flashback ON

20 de Dezembro, 2014.

– O que você aprontou hein? Tá nervoso demais. – Lua perguntou a Arthur. Ele estava muito estranho. Disse que tinha algo a falar com ela. A garota já temia o pior.
– Lá sou homem de aprontar, eu hein... – Ele abanou o ar como quem diz “Deixa pra lá” e se sentou à mesa junto com a namorada.
– Mas você disse que tinha algo a falar comigo. O que era? Estou curiosa. – Ela sorriu deixando transparecer seu nervosismo também.
– Não é agora. Eu estou esperando a hora certa para te contar. – Ele sorriu lindamente.

Oh! Como seus olhos brilhavam. Era como se toda a luz que ela precisasse na vida, estivesse dentro daqueles olhos.

– Uma dica ao menos. – Pediu.
– Não Luh. Ainda não. – Ele riu diante da impaciência dela.
– E por que começou então? – Perguntou nervosa.
– Porque você tem que saber que eu tenho algo para lhe contar. Simples, amor. Agora coma. Estou exausto, quero ir pra casa. – Ele se apressou em dizer. Ou ela tentaria de todas as formas saber do tal assunto.
– Sophia e Rose me disseram que viram você por aí... – Disse enquanto bebia um gole de seu vinho branco. Arthur encarou a namorada confuso. E ela o olhou com as sobrancelhas erguidas.
– Por aí? Por aí onde? – Perguntou comendo um pouco da salada com frango, que havia pedido. Lua tomou mais um gole de vinho, ainda encarando-o.
– Por aí em uma joalheria. O que você estava fazendo lá? – Perguntou séria e deixou a taça sobre a mesa, e logo cruzou as mãos, apoiando os cotovelos sobre a mesa, esperando a resposta de Arthur, que pra ela, estava demorando muito a vim. Ele quase se engasgou e logo tomou um gole do vinho. Lua o encarava, ele não via, mas sabia que aqueles olhos estavam cravados nele a espera de uma reposta.
– Eu estava com, Charlie. Ou elas não contaram a você também? – Ergueu uma sobrancelha e tomou um gole de seu vinho. Pegando todo o controle que poderia ter, para não deixar sua mentira ser percebida. Lua o mirou, passou a ponta dos dedos na borda da taça lentamente, circulando-a.
– Não. Não me contaram. – Disse por fim.
– Pois é... Eu estava acompanhando ele. – Explicou.
– E o que foram fazer lá? – Arthur ergueu as sobrancelhas novamente. – Responda! – Exclamou baixo.
– O que se faz em uma joalheria, querida? – Perguntou a ela, com uma ar de ironia.
– Não brinque comigo, Aguiar! – Exclamou jogando o guardanapo em cima da mesa. Chamando a atenção das pessoas que estavam próximas a mesa do casal.
– Quer chamar atenção com esse ataque de ciúmes estúpido? Está conseguindo, Lua. – Cerrou os dentes tentando manter a calma.

Ele estava mentindo, ela tinha todo o direito de estar desconfiada. Mas ainda não era a hora certa de lhe fazer o...

– Está brincando comigo, não? Vou embora! – Avisou irritada, despertando-o de seu breve transe.
– Lua? Amor, espere... – Ele lhe segurou discretamente pela mão. – Não há motivos para ciúmes. – Falou.
– Não. Estou. Com. Ciúmes. – Lua falou pausadamente, e lhe lançou um sorriso falso. – Me solta! – Puxou a mão.
– Espere ao menos eu pagar a conta. – Arthur pediu e chamou o garçom.

Em menos de dez minutos, já estavam saindo do restaurante. Lua sustentava uma cara emburrada. Arthur se segurava para não rir. Ou ela acabaria o agredindo. Ele a conhecia muito bem para ter certeza que se soltasse um riso, ela voaria para cima dele. Foram até o estacionamento em silêncio, Lua sentou no banco do passageiro e cruzou os braços na altura dos seios. Arthur entrou logo em seguida, colocou o cinto e olhou para a namorada, ela estava sem o cinto.

– Coloque o cinto. – Mandou. Ela o encarou. E ainda emburrada, colocou o cinto.
– Pronto, senhor! – Ironizou lhe lançando aquele sorriso falso.
– Boa menina. – Ele também ironizou e ligou o carro.
– Não sou nem uma cadela. – Bufou.
– Claro que não, amor. Cadelas não falam. – Completou vendo que a mesma deixou escapar um sorriso discreto e rápido.
– Não tente mudar de assunto. Eu não esqueci da joalheria não. – O avisou, sem olha-lo.
– Eu sei que não. – Ele suspirou. Pararam em um sinal e ele a olhou. – Charlie foi comprar um colar para Mel. Sábado é aniversário dela, e meu também. Ou você esqueceu? – Disse a ela. Não era totalmente mentira o que ele havia falado. Só omitiu uma parte, embora importante. Lua o olhou.
– Não. Eu não esqueci. Você que demorou a se explicar.
– Não. Você que prefere confiar mais nas amigas do que em mim, que sou seu namorado. – Retrucou.
– Ok. Me desculpe. – Se rendeu e o olhou. – Admito, eu realmente senti um pouco de... ciúmes. – Revirou os olhos.
– Achei que você não sentisse ciúmes. – Implicou ele.
– Não comece. – Ela voltou a olhar para a frente.

Arthur seguiu para a sua casa. Não, eles não moravam juntos. Namoravam a dois anos, e dormiam as vezes um na casa do outro. Mas Arthur preferia sua casa. Morava sozinho. Já Lua, morava com a irmã Sophia e a sobrinha Cléo, de 5 aninhos.

Arthur herdara a empresa da família, junto com sua única irmã, Melaine. Quando ambos completaram 24 anos de idade, sim, eles são gêmeos. Formados e já por dentro dos assuntos da empresa desde seus 17 anos, assumiram seus respectivos cargos. Lua trabalhava na empresa, na recepção, para ser mais exata. Desde seus 23 anos.

*

Três anos atrás.

Lua já tinha visto Arthur andar por ali, e no dia em que ele definitivamente se tornaria o dono de 50% de tudo. Ela foi chamada para o 25º andar. Quase engasgou ao vê-lo como um Deus grego com aquele terno de corte italiano, na cor preta com uma gravata combinando. Os cabelos jogados para trás. E o sorriso... Aah! Aquele sorriso perfeito. Ouviu suspiros de duas estagiarias ali, e quase as imitou.

Era pecado ele ser tão lindo assim.

Kate, a secretaria do Sr. Aguiar. Havia faltado. E Lua foi chamada para substitui-la. E quando Malu, uma das moças que havia suspirado a chamou, e lhe apontou a bandeja com cafés. Lua arregalou os olhos e suas mãos gelaram. Era desastrada demais para servir café.

Mel estava ao lado do irmão. Com um terninho na cor lilás, cortado impecavelmente. Ela era linda, parecia nem ser real. Ao seu lado, Katia Aguiar, mãe de ambos. Junto com Paul, mais conhecido como Sr. Aguiar. Ambos também impecáveis com suas roupas caras e lindas. Junto deles, outros sócios, empresários, os grandes. Apenas eles.

– Lua? Está dormindo? Ande, vá servir o café, ou água que seja. – Malu a cutucou. – Antes que Katia a chame.

Lua a encarou e se dirigiu até a bandeja de café. Respirou fundo e a pegou. Caminhou até eles e antes que pudesse evitar, Arthur dera um passo para trás, rindo de algo. Ela não teve tempo de parar antes que uma das mãos dele batesse na bandeja e derramasse o café em cima dele mesmo.

O terno. O café estava quente. Os olhares. Os gritos. O emprego dela. Ela ainda teria um emprego? Gritou junto com ele. E a bandeja caiu.

– Sua desastrada! – Ouviu Katia gritar. Olhou nervosa para Arthur e ele rapidamente tirava o paletó. Ela não sabia o que fazer, e muito menos o que falar.
– Me desculpe. Eu... Ee-u não tive a intenção. – Pediu tentando ajuda-lo. Mas a mãe de Arthur empurrou as mãos de Lua.
– Ora essa... Só me faltava você ter a intenção molhar meu filho. – Esbravejou Katia a olhando com pura raiva.
– Mãe! – Ele exclamou se afastando. Mel o ajudou a passar o pano que haviam entregado a ele, na camisa. – A culpa foi minha. Eu não a vi. – Falou.
– Ela devia olhar por onde anda. – Retrucou mirando a garota. – Está demitida. – Avisou.

Lua a encarou com os olhos arregalados e abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Arthur encarou a mãe.

– Claro que não está! – Exclamou atraindo olhares.
– Como, filho? – A mulher perguntou confusa e quase irritada por ser desautorizada na frente de todos.
– Eu já disse, a culpa foi minha. – Respondeu.
– Arthur, por favor! – Katia revirou os olhos.
– Vamos logo pra essa reunião. – Ele avisou. – Tenho coisas mais importantes a fazer. – Finalizou.

Lua ganhou uma mirada de cima a baixo da mãe do milionário. Sentiu suas pernas tremerem um pouco. Logo a mulher se dirigiu para a sala de reuniões, e o marido a acompanhou. Mel tomou o mesmo caminho segundos depois, junto com os sócios presentes. Arthur deu um passo em direção a sala, mas logo parou e se virou, olhando para Lua que estava parada ainda no mesmo lugar. Ergueu uma sobrancelha e com uma discreta mordida no lábio inferior, ele logo falou.

– Não se preocupe, você não está desempregada. – Avisou sorrindo.

Aah! Aquele sorriso. Ela nunca se cansaria de admira-lo.

– Ah, muito obrigada, Sr. Aguiar. – Sorriu aliviada. – Mesmo. – Respirou fundo.
– Realmente a culpa foi minha. Bom, senhor não. Me chame de Arthur. – Ele estendeu a mão para cumprimenta-la.
– Lua. – Disse ciente de que sua mão estava gelada. Mas a dele estava tão quente, que sentiu os pelos de seu corpo se eriçarem. Como se tivesse tomando choques. Malditos choques que não doíam. Era tão, tão... Saiu de seu transe quando ouviu a voz de Mel chamando o irmão.
– Arthur!
– Eu preciso ir. – Lhe avisou. – Foi um prazer. Apesar de tudo. – Ele apontou para a própria roupa. Fazendo ambos rirem.
– Boa sorte. – Ela desejou. – Embora talvez não precise. – Mordeu os lábios nervosa.
– A gente sempre precisa, querida. – As palavras ao som da voz dele, eram tão... sensuais. Foi a única palavra que ela conseguiu pensar.

Sorriu sem graça vendo-o se afastar elegantemente. Se virou e viu Malu, e Diana a olhando de boca aberta. Não entendeu tal reação. Ela apenas conversou com seu futuro chefe, depois de ter derramado café no terno italiano dele. Sorriu sozinha. E logo desceu para o térreo, onde retomou suas funções. Torcia para que a reunião terminasse na hora que ela saísse para o almoço, assim não precisava encarar dona Katia novamente.  Mas nem tudo acontecia como ela planejava. A reunião terminou uma hora antes do horário de almoço dela. Katia passou pela recepção com o marido, que agora tiraria suas merecidas e eterna férias. Ele era uma boa pessoa, embora Lua não convivesse diretamente com ele. Pelo o que ouvia falar do mesmo, ele era generoso demais. Talvez o filho tivesse puxado para ele. Pensou.

Paul se despediu de alguns funcionários, e com um aceno para as demais pessoas ali na recepção, ele tomou o mesmo rumo da esposa, e logo a Mercedes branca foi sumindo. Lua respirou aliviada. Ela ainda tinha um emprego, graças ao Deus grego – seu chefe agora – vulgo, Arthur.

Um mês depois.

Lua e Arthur começaram a conversar com mais frequência na hora do almoço, quando que por alguma coincidência, ambos almoçavam no mesmo lugar. Lua chegou a se espantar quando o viu ali. Era um lugar simples, era bem limpo, mas simples para um homem como Arthur Aguiar frequentar.

Era uma sexta-feira, quando ele a abordou em sua mesa, e perguntou se podia lhe fazer companhia. Ela não podia sequer, pensar em dizer um: Não.

Primeiro, porque ele havia a mantido no emprego, depois de um desastre idiota cometido por ela. Era uma forma de agradecê-lo, sendo gentil. E óbvio, sem deixar de desfrutar da companhia dele também.
Segundo, porque ele era lindo demais para levar um não como resposta.
E terceiro, bom se tivesse uma terceira opção, ela teria esquecido, porque mesmo sem se dar conta, ela já estava assentido. E ele sentou junto a ela.

Engataram uma conversa se conhecendo melhor, e Lua acabou descobrindo que apesar de todo dinheiro em sua conta bancária, Arthur era o tipo de pessoa que não o esbanjava como a maioria fazia. Como a mãe dele fazia. E ali ela teve a certeza, ele se parecia com Paul. E isso era bom.

A partir desse dia, começaram a almoçar juntos. Ambos eram bons ouvintes. Conversavam sobre os problemas. E Arthur falava da cobrança da mãe pra ele logo arrumar uma esposa. Lua sentia pena de quem quer que fosse a escolhida. Enfrentar Katia não seria nada fácil. Bom, seja quem for, deve ser uma rica qualquer. Ou seja, tão meiga quanto a futura sogra. Ela não podia deixar essa ironia passar.

Como havia de se esperar, os burburinhos logo começaram, pelo fato do chefe sempre sair acompanhado da simples recepcionista no horário de almoço. E isso parecia não incomodar Arthur. Ou isso ainda não havia chegado aos seus ouvidos? Lua se sentia incomodada e constrangida na maioria das vezes. Pelo fato das pessoas fazerem apostas de que logo ela ganharia um cargo mais alto. E foi depois de ter ouvido uma dessas conversas, que Lua decidiu não almoçar mais com ele. Mesmo que não fizessem nada além de conversar. Ela não queria seu nome na boca de todas aquelas pessoas ali. Ele por fora de tudo, se debruçou sobre a bancada da recepção após espera-la por mais de 25min, do lado de fora da empresa.

– O senhor deseja falar com qu... – Ela não completou a pergunta ao ver quem estava em sua frente.
– Eu desejo falar com você mesmo. – Ele disse. As pessoas olhavam para ambos sem disfarçar.
– Sobre? – Ela perguntou meio atordoada.
– Você demorou. Se não tivesse te visto quando cheguei, poderia pensar que havia faltado. – Explicou. – Não está na hora do seu almoço? – Perguntou.
– Hã... Eu troquei de horário com uma colega. Desculpe. – Respondeu. Arthur ergueu uma sobrancelha. – Não almoço mais esse horário. – Completou.
– Por que? – Perguntou colocando a pasta sobre a bancada. – Você não me avisou, eu poderia espera-la caso... – Ela o interrompeu.
– Não precisa, Arthur. – Ela sorriu sem graça. – Eu até já almocei. – Mentiu.
– Poderia ter me avisado mesmo assim. – Insistiu ele. – Bom, vou indo. Até... – Lhe disse e Lua apenas assentiu minimamente.

Arthur saiu do prédio, e Lua pode respirar aliviada. As outras pessoas que os observavam, logo voltaram a fazer seus trabalhos. Ela pegou sua bolsa, e saiu para seu almoço. Tinha que ir atrás de um novo – e simples – lugar para comer. Sua casa era longe, para ir até lá e em menos de uma hora, voltar. Mal deu quatro passos pra fora do prédio, e lá estava ele – impecável, lindo, e irresistivelmente gostoso, naquele terno azul marinho, e óculos escuro – de braços cruzados e encostado na Mercedes preta.

– Achei que tinha escutado você falar que já tinha almoçado. – Comentou tirando os óculos.
– E eu já almocei, oras. – Lua respondeu impaciente, tentando disfarçar o constrangimento.
– Quando você está mentindo, ou tentando mentir. – Começou. Lua franziu as sobrancelhas. – Você cruza os braços. E seus lábios tremem, como se soubessem que as palavras seguintes, não poderiam deixar sua boca. Me entende? – Perguntou. Lua arregalou os olhos.

Com que direito ele a conhecia tão bem a ponto de saber quando ela mentia?

– As pessoas estão falando. Você não percebe? Não se incomoda? – Soltou irritada.
– Então você mentiu?
– Você escutou o que eu acabei de dizer? – Perguntou tentando manter a calma.
– Achei que você não ligasse pra as mentiras que as pessoas comentam.
– Você já ouviu! – Exclamou perplexa.
– Querida. – Ele sorriu. Maldito sorriso perfeito e sedutor. – Quem ali ainda não ouviu que o chefe – Enfatizou a última palavra e apontou para si mesmo. – tá tendo um caso com a recepcionista? – Enfatizou outra vez, agora apontando para Lua. – E fazendo apostas de que te darei um cargo mais alto. – Riu com vontade. – É isso que tá acontecendo, Lua? Foi isso que te fez pensar em mentir para não sair mais comigo? Foi por causa dessas mentiras? Por causa dessas pessoas?
– Ee-u... – Gaguejou. – Isso me incomoda. – Respondeu nervosa. – Não quero meu nome na boca dessas pessoas... Ainda mais assim. – Finalizou fazendo um gesto exagerado com as mãos.
– Você poderia ter falado comigo. – Ele começou. – Eu posso acabar com essas especulações...
– Você não se sente incomodado? – Ignorou o que ele ia dizendo.
– Quer saber a verdade? – Perguntou e Lua assentiu. – Não.  Eu não me incomodo com essas mentiras. – Ergueu uma sobrancelha e Lua suspirou passando as mãos nos cabelos.
– Ok. Mas eu não sou você. Portanto, tchau. – Se despediu e voltou a caminhar, até sentir uma mão segurar um de seus braços, forçando-a parar.  – O que foi?
– Eu não sabia que você costumava fugir dos problemas, para resolvê-los. – Ele disse calmo. Lua cerrou os olhos.
– Eu não estou fugindo. – Puxou o braço. – Só não vou ficar passando de boca em boca. Se você não se incomoda, eu me incomodo. E muito! – Levantou o dedo gesticulando.
“Passar de boce em boca” – Ele fez aspas. – É uma expressão ambígua, não acha? – Perguntou.
– Aah! – Exclamou. – Deixa de graça. Que cisma é essa comigo, hein?
– Você acha que existe uma cisma, querida?

Querida. Por que essa palavra tinha que sair carregada de provocações?

– Eu não acho. Tenho certeza. – Retrucou.
– Talvez você esteja certa. Talvez... – Ele levou a mão aos cabelos dela, e lhe tirou uma mexa de cabelo que caia sobre seu rosto.
– O que você quer? – Perguntou impaciente.
– Quero que você entre nesse carro, e que me acompanhe até um restaurante. Creio que não seja mais nada demais. – Disse calmo e abriu a porta do carro.
– Eu não vou fazer isso. – Ela riu descrente.
– Vai sim. Vamos, Luh. Entre, deixe de doce. – Insistiu.
– Não é doce.
– Então entre...
– Tem gente olhando.
– Não vai me fazer implorar né? – Ele ergueu as sobrancelhas.
– Diz a verdade?
– Que verdade? – Perguntou confuso.
– O. Que. Você. Quer? – Perguntou pausadamente.
– Quer a verdade?
– Sempre! – Lua revirou os olhos.

E mal pode pensar em respirar quando Arthur colocou as duas mãos na cintura dela, e a trouxe para mais perto. Lua espalmou as duas mãos no peito dele, e franziu o cenho. Arthur levou uma das mãos para a nuca de Lua.

– Eu vou te mostrar o que eu quero. – Soprou acariciando a nuca dela.

E a puxou para mais perto ainda. Aproximou rosto do dela, e mordeu seu lábio inferior, puxando lenta e sensualmente antes beija-los. Um beijo tão calmo, como se ele tivesse receio de intensifica-lo e acabar afastando-a. Estava ciente de que várias pessoas estavam assistindo a cena. E se depois do beijo Lua passasse dois minutos normal. Ele sairia ileso. Mas se no segundo seguinte, ela tacasse a mão na cara dele. Ele estaria literalmente f-e-r-r-a-d-o.

Lua tinha os lábios tão macios, que Arthur poderia passar o dia todo beijando, mordendo e puxando eles, tão lentamente como ainda estava fazendo. Quando o ar se fez necessário, ele finalizou o beijo com selinhos.

Se separaram devagar, e Lua voltou a espalmar as mãos no peitoral de Arthur. Ele fechou os olhos, mas não demorou a abri-los novamente. Ela desviou o olhar do dele, e olhou para a frente – atrás dele – e as pessoas estavam olhando para ambos, sem disfarçar.

– Agora sim elas terão motivos para continuar falando. – Bufou negando lentamente com a cabeça.
– Agora elas terão um real motivo para falar, querida. – Oh essa palavra.
– Não resolvemos o problema, Arthur... – Murmurou. – Críamos outro, e bem maior. – Completou tristemente. Ele levou uma das mãos até o rosto da mulher, e com a ponta dos dedos, lhe acariciou uma das bochechas.
– Não fique assim. – Pediu. Ela levantou a cabeça, e encarou o homem. – Não serão mais mentiras, não será mais um incomodo esses comentários. – Ele soltou o ar pausadamente. Como se estivesse procurando por coragem, para dizer algo importante a ela. – Lua, não vê que o único incomodo era essa história não ser verdade? Talvez eu me sentisse incomodado sim, mas era por tudo isso não ser verdade. – Admitiu.
– Arth-ur... – Gaguejou. – O que... o que está tentando... falar? – Perguntou confusa. E no fundo, assustada pelo que estava prestes a escutar dele.
– Eu quero que você aceite namorar comigo. – Lua sentiu seu coração disparar ao ouvir a resposta dele. – E que esqueça que essas pessoas adoram falar da vida alheia. – Falou alto suficiente para que os desocupados que os observavam, ouvissem. E atraiu mais atenção ainda. – Você aceita ser minha namorada? – Finalizou. Lua perdeu a fala. – Lua?
– E-eu... Arthur, eu... – Gaguejou.
– É sim ou não, Lua. Simples assim! – Ele lhe disse cerrando os dentes. Lua olhou envolta, e apertou os olhos.

O que ela iria responder?

– Perdeu a voz? – Arthur lhe sacudiu pelos braços.
– Quase... Isso... – Respondeu ofegante.
– Não sou bom o suficiente pra você? – Perguntou a ela.
– Não.
– Não?
– Não é isso. – Se apressou em dizer. – Eu não esperava isso.
– Eu sei... Mas é o que eu vinha tentando fazer você desconfiar nesse tempo todo.
– Arthur...
– Lua, é sim ou não. – Repetiu.
Sim. – Sussurrou em resposta.

Lua não sabia se sorria ou se chorava – em desespero. Como cairia naquela família que ainda se lembrava do café? Katia não gostava dela. Arthur era um louco. E ela estava louca de amor por ele.

*

24 de Dezembro, 2014.

A festa de natal aconteceria na casa da família do Arthur. Se Lua estava confortável com isso? Não. Sophia e Cléo também tinham sido convidadas por ele. Óbvio que querendo ou não, a irmã teria que acompanha-la. Ela não ficaria ali sozinha – sem sua irmã, caso algo ruim acontecesse – só com Arthur, que fazia parte daquela família. Ela havia ganhado um vestido lindo – dele, óbvio. – na cor rosa bebê – era natal, mas ela não era obrigada a usar vermelho – acima do joelho, a costa era nua, e ele tinha um detalhe em pérolas no tecido que pegava de um ombro ao outro. Era como se tivesse sido feito sob medida e exclusivamente, para ela. Se sentiu maravilhosa ao se olhar no espelho, colocando o último grampo no cabelo, que seguraria o coque que ela mesmo havia feito. Começou a fazer a maquiagem, tudo muito leve, base, rímel, lápis de olho, uma sombra, blush, e o batom, vermelho. Teria que ser vermelho. O sapato era bege, fino e alto. Girou sobre eles, e andou até o guarda-roupa, onde guardava as joias que havia ganhado de Arthur. Presentes de namoro, aniversário, e algumas que ele insistia em comprar. Se justificando de que foram feitas pra ela.

O colar e os brincos que havia ganho junto com o vestido, eram perfeitos, tinham um brilho lindo, e era todo delicado, e fino. Os pegou, e se virou para o espelho, colocando primeiro os brincos. Quando levantou o rosto para encarar o espelho, Arthur a observava da porta. Ele estava lindo como sempre, impecável em uma camisa social azul escura, e uma calça preta, os sapatos também eram pretos. Ele usava um relógio, a barba estava feita, e aquele perfume invadiu o quarto... Junto com o homem que o usava. Ele andou devagar até ela, com o mesmo sorriso de sempre, lindo, perfeito.

– Boa noite, querida. Você está linda. – Confessou baixinho ao beijar a bochecha da namorada.
– Boa noite. Você sempre tá lindo mesmo. – Disse rindo e ele riu junto.
– Boba. Me dá... – Pediu o colar. – Deixa que eu coloco. – Lua lhe deu o colar, e se virou. – Ficou perfeito em você esse vestido. – Disse. E beijou o ombro da namorada. Se afastando dela.
– Obrigada. Você tem bom gosto, mas disso você já sabe. – Piscou um olho.
– Vamos?
– Vamos. – Ela concordou.
– Preparada?
– Pra enfrentar sua família? Nunca. – Ela ergueu as sobrancelhas. Arthur riu baixinho.
– Não, amor. A noite vai ser longa... – Falou distraidamente.
– É natal. – Lua disse animada. Arthur negou sorrindo Mas ela não ligou. Eles desceram os degraus e junto com Sophia e a filha, saíram de casa rumo a casa da família dele.

Demoraram quase meia hora, até chegarem a casa. A frete estava bastante iluminada. Passaram pela entrada, e Arthur estacionou o carro na garagem. Todos desceram do mesmo, e Lua sentiu um vento frio passar por eles. Se abraçou ao namorado, sentindo ele envolver um dos braços em sua cintura. E trazê-la mais pra perto. Ele tocou a campainha e segundos depois, a porta foi aberta. E a família toda dele se encontrava lá: Pais, irmã, avós, tios, primos...

Passaram pela porta, e foram cumprimentar as demais pessoas. Passaram alguns minutos fazendo isso. E logo Arthur puxou Lua para que a mesma sentasse ao seu lado no sofá, onde ele acabará de engatar uma animada conversa com a irmã. Única pessoa – da família dele – ali, que não tinha nada contra ela.

As horas foram passando. Alguns já haviam bebido além da conta, e começavam a soltar piadas sem graças, que só eles riam. Lua estava visivelmente confortável. Talvez porque ninguém além da cunhada, havia lhe abordado para conversar brevemente. E pra ela, isso era bom. Lua conversava distraidamente com a irmã, enquanto a sobrinha se distraia com alguns enfeites da casa, junto com os filhos dos primos e primas de Arthur, da mesma idade – ou quase – que a da pequena, Cléo.

Arthur havia sumido, e Lua tentava não pensar em se preocupar com isso. A vadia da Elisa – a nora dos sonhos da mãe de Arthur – estava lá. E ela não precisou se esforçar muito para saber quem havia convidado a tal mulher. Mas ela confiava no namorado, e rezava para que ele não fizesse nenhuma besteira ali, no meio de todas aquelas pessoas.

Faltavam alguns minutos para o natal. E Arthur como um passe de mágica, surgiu a o lado de Lua, com uma taça de champanhe em uma das mãos. Ele estava nervoso – bastante nervoso – ela notou. As mãos estavam geladas, ela pode comprovar quando ele envolveu sua cintura com a mão livre.

– O que está acontecendo? Você tá estranho... – Lua sussurrou próximo ao ouvido dele. – Está passando mal? – Perguntou preocupada. Ele riu – de nervoso.
– Não é o que tá acontecendo... É o que vai acontecer. – Ele corrigiu. Lua franziu o cenho. – E não. Não estou passando mal, querida. – Depositou um beijo rápido na bochecha da namorada.
– O que vai acontecer? – Perguntou curiosa. O observando tomar um gole de champanhe.
– Apressadinha hein?
– É só curiosidade. É algo bom?
– Estou torcendo para que seja, Luh. – Ele lhe depositou um beijo na testa.

O silêncio se fez presente. A família de Arthur conversava animada – sem falar com ela, óbvio – riam alto, e dançavam ao som da música que tocava. Ele conversava animado com Charlie, e vez ou outra, o noivo de Mel, a olhava sorrindo ternamente. Tinha algo errado. O que Arthur estava aprontado?

E como se ele tivesse lido seus pensamentos, Arthur deu um rápido abraço no cunhado, recebendo uns tapinhas nas costas, e caminhou até a mesa de som. A maioria das pessoas estava entretida demais para prestar atenção em outra coisa, mas Lua estava atenta a cada passo de Arthur. E ele ia aprontar alguma. Ela tinha certeza.

Ele falou rapidamente com o homem que estava controlando o som. E o mesmo lhe deu o microfone. Ele passou os olhos nas demais pessoas ali, até encontrar a que queria e cravar os olhos na mesma.

– Boa noite! – Ele começou. – Eu quero pedir alguns minutos da atenção de vocês. – Disse. E todos voltaram os olhos para Arthur. – Obrigada! – Agradeceu e sorriu. – Bom, faltam dois minutos para o natal, e quando eu terminar de falar o que tenho para falar, para uma pessoa em especial aqui. Já vai ser natal. E é isso que eu quero, porque é uma data que eu gosto bastante, e planejei fazer esse pedido hoje. Para se tornar uma data inesquecível e ainda mais especial para mim. – Sorriu outra vez, agora, só para ela.

Lua gelou. Ele não ia fazer isso. Ele não tinha esse direito. Ela não estava preparada. Na verdade, ninguém ali estava.

– Bom, como todos sabem, eu namoro a Lua, há dois anos.

Sim. Ele ia fazer o que ela estava pensando.

– E eu sou completamente apaixonado por ela. – Confessou. Nem um coro de “Aaawn” foi escutado. Porque ninguém ali gostava dela, além de Arthur, Sophia, Mel, Charlie e Cléo. – E espero que esse sentimento seja recíproco na mesma intensidade. – Ele não tirava os olhos dela. É claro que Lua o amava, mas... – Eu já vinha há um tempo pensando bastante sobre esse assunto, e de que maneira eu poderia fazer esse pedido se tornar mais especial ainda. Eu sei que deveria pedir aos seus pais, como manda o costume, mas como eles não estão mais aqui, não tem como. Mas você está, e eu... Eu estou bastante nervoso com isso. Porque você tá me olhando tão fixamente, que confesso que tá me dando um pouco de medo. – Ele riu nervoso. Mas ninguém fez o mesmo. O coração de Lua só acelerava mais a cada segundo. – Porque eu não sei as mil coisas que devem estar passando agora na sua cabeça, mas espero que sejam coisas boas. – Concluiu. – Lua – Ele respirou fundo. – Eu amo muito você, e nunca te dei motivos para que duvidasse disso. Você me entende como ninguém, e sempre tem tempo para escutar qualquer coisa que eu tenha para falar. Sempre me dá os melhores conselhos... – Disse. – E eu tento ser o melhor namorado, amigo, ouvinte, homem que eu consigo ser pra você. Porque você é a melhor namorada, amiga, ouvinte, mulher que eu poderia ter. Lua, eu quero muito mais que algumas noites juntos com você, eu quero todas as noites junto com você. Eu quero dormir e acordar sabendo que você estará ao meu lado, e não torcendo para que você acorde ao meu lado. Você me entende? – Perguntou, mas ela não respondeu. Sentia a sogra mira-la numa intensidade absurda. Quase gritando para que o filho parasse por ali mesmo. – E no sábado, quando você me questionou da joalheria, eu menti. Na verdade, omiti uma parte. – Confessou caminhando até ela, agora com um buquê de rosas que Charlie havia acabado de entregar a ele. – Eu estava com Charlie, por dois motivos, um você já sabe, e o outro, irei te contar agora. – Ele se ajoelhou na frente dela, e lhe entregou as flores. Lua fechou os olhos. Ia odiar ter que fazer o que faria. Mas não podia fazer o que ele queria. – O segundo motivo era esse – Ele tirou uma caixinha vermelha em formato de coração do bolso da calça, e a abriu. Revelando duas alianças, ambas finas, a diferença era que uma continha um lindo solitário, e a outra era completamente lisa.

Lua engoliu o nó que se formou em sua garganta. E mirou Arthur, os olhos dele estavam brilhantes, os dela, apavorados.

Lua, você aceita se casar comigo? – Pediu.

Lua levou as mãos à cabeça, e ouviu um quase inaudível “Aah não!” da mãe de Arthur. Fechou os olhos por alguns minutos. Ele permaneceu de joelho diante dela.

Como aceitaria fazer parte de uma família que não a suportava? Como conviveria com eles? Se nem se falavam? Respirou fundo, não tinha mais o que ser pensado.

– Lua? – Ouviu Arthur chama-la. Olhou para ele, e depois para a irmã, que negou minimamente. – É só dizer sim ou não. – Lhe disse. Ele sempre falava isso quando ela demorava a responder alguma coisa.
– Desculpa. – Começou. Arthur franziu o cenho, visivelmente confuso. – E-eu... Eu não posso fazer isso. – Disse rápido.
– O quê? – Perguntou um pouco alto, e logo se levantou. – Você não quer se casar?
Não. – Respondeu firme. Embora por dentro estivesse desmoronando, assim como via ele desmoronar em sua frente.

Lua deu um passo pra trás e deixou o buquê de rosas caírem no chão, antes de sair correndo pela porta.

Flashback OF


Back To December – Eu volto a Dezembro

Pov Lua – Ano de 2015.

Despois da minha resposta ao pedido de casamento do Arthur, como era de se esperar, a gente terminou. E eu não liguei pedindo desculpas outra vez. Nem o encontrei depois que a “poeira baixou”. Acho que ele nunca mais quer olhar na minha cara. Mas naquele momento, naquele dia, eu não podia aceitar o pedido. E isso não quer dizer que eu não o amava suficiente para encarar um casamento. Eu o amava o suficiente para que depois do casamento, não acabasse com o casamento, por não aguentar aquela família dele. Que sempre fazia o favor de deixar bem claro, que eu nunca era e seria bem-vinda ali.

Eu nem tive coragem de desejar um “Feliz Aniversário” para ele, no sábado, depois do acontecido. E depois das festas de final de ano – que pra mim, foi a pior de todas – eu decidi ir a empresa, na segunda semana de janeiro. Pedir demissão, porque eu não sabia com que cara encarar ele depois de tudo, e não sabia a reação dele ao me ver, depois de tudo.

Fui nesse dia, porque sabia que ele não estaria por lá. Ainda estaria de férias, ele era o dono, e só voltaria quando quisesse. Pelo que sabia, só precisava assinar alguns papeis, e era o que eu faria.

Ao pisar na empresa, um vento frio passou por mim. Me arrepiei completamente. Algumas pessoas me olhavam e começavam a cochichar umas com as outras. Eu não esperaria algo diferente deles, já faziam isso antes do meu: não. Que dirá agora. Deviam estar me achando uma louca por recusar um casamento daquele. Louca eu ficaria, se tivesse aceitado.

Parei na recepção, e Jheny – minha colega de trabalho – me entregou meu crachá. O peguei, mas segui para o elevador, o que eu queria fazer, estava no 15º andar. E era a última coisa que eu faria naquela empresa. E pedia sem parar, para não encontrar Arthur e nem Mel durante meu trajeto até o RH, onde eu pediria e assinaria minha demissão. Era caso de fazer isso mesmo, porque eu não ia conseguir conviver com Arthur, depois de tudo que fiz – ou deixei de fazer.

Mas quando o elevador parou no 10º andar, e as pessoas saíram dele. E a porta estava quase se fechando quando um voz bastante conhecida por mim gritou “SEGURA O ELEVADOR, JAMES!” Eu gelei. E desejei que naquele elevador tivesse uma passagem secreta, mas não tinha e eu não sabia onde me enfiar. Eu só podia desejar que não desse tempo suficiente de James segurar a porta do elevador, mas deu.

Por que meus desejos não se realizam nunca?

E quando aquele par de olhos castanhos cruzaram com o meu par de olhos também castanhos, minhas pernas ficaram moles, e eu me encostei no elevador. Droga! Foi só o que eu pensei. Ele não poderia tá ao menos, um pouco mais desarrumado? Me perguntei. Mas ele estava impecável como sempre – e irresistível também.

Arthur entrou no elevador, com uma pasta preta na mão.

Play na música.

I'm so glad you made time to see me
How's life? Tell me, how's your family?
I haven't seen them in a while
You've been good; busier than ever
We small talk, work in the weather
Your guard is up and I know why
Cause the last time you saw me
Still burns in the back of your mind
You gave me roses and I left them there to die

Estou feliz por você ter arrumado tempo para me ver
Como vai a vida? Me diga, como vai a sua família?
Faz tempo que não os vejo
Você está bem, mais ocupado do que nunca
Nós jogamos conversa fora, trabalhamos do lado de fora
Você está na defensiva, e eu sei por quê
Pois da última vez que você me viu
Ainda traz uma lembrança que te incomoda
Você me deu rosas e eu as deixei lá, morrendo

– Qual andar você vai parar? – Me perguntou, por estar perto ao painel com o número dos andares.
– No 15º andar. – Respondi baixo. Tentando a todo custo deixar minha voz o mais normal possível.
– Tudo bem. Vou parar lá também. – Disse. – Como você tá? – Perguntou baixo, talvez esperando que eu não escutasse, caso ele resolvesse se arrepender da pergunta.
– Indo... – Foi só o que me permitir dizer. Ou acabaria falando que estava tudo uma enorme merda. – E você?
– Bem. – Foi só o que ele disse também. – O que vai fazer no RH?
– Pedir demissão. – Engoli em seco e ele me encarou.
– Por que vai fazer isso?
– Pra mim vai ser bom... – Dei de ombros.
– Ficar desempregada? – Ele ergueu uma sobrancelha ao perguntar.
– Não por esse lado, mas eu me viro. – Sorri sem mostrar os dentes.
– Eu sei que se vira. – Me disse. – Mas quero deixar claro, que sei separar as coisas. Eu não quero que você se demita, por conta do que aconteceu.
– Mas eu quero. – Afirmei. – Não sei como... agir...
– Aja normalmente, como sempre. Não vou exigir nada de você, não mais. – Disse seco. – Viajarei para os Estados Unidos, por três meses. – Era Mel quem viajava sempre pra lá. Por que ele dessa vez? Me perguntei. E como se tivesse ouvido minha pergunta, ele respondeu – Eu troquei de lugar com Mel, ela casou, como você deve saber... – Me disse baixo. E eu sabia, ela havia me convidado, mas eu não compareci. Mas falei com ela por telefone, e desejei tudo de bom que pudesse haver no mundo, para ele e Charlie. E muitas felicidades.
– Sim, ela me mandou um convite. – Soltei.
– Eu sei. – Suspirou. – Não peça demissão. Você sabe que não será fácil arrumar um novo emprego, não tão rápido. Mesmo que você seja uma excelente funcionária. – Ele falou me encarando. – Você não vai precisar me ver todos os dias durante três meses, e até lá, as coisas já mudaram. – Continuou.
– Como?
– As coisas mudam... Não se prenda ao que não deu certo, querida.

E pela primeira vez desde que essa palavra saiu da boca dele, direcionada a mim, não havia provocação alguma. E eu não sei o porquê, mas isso fez algo dentro de mim se apagar, se esconder e chorar mais um pouco.

So this is me swallowing my pride
Standing in front of you saying
I'm sorry for that night
And I go back to December all the time
It turns out freedom ain't nothing but missin' you
Wishing that I realized what I had when you were mine
And I go back to December, turn around
And make it all right
I go back to December all the time

Então aqui estou eu engolindo o meu orgulho
Parada na sua frente dizendo
Que sinto muito por aquela noite
E eu volto a dezembro o tempo todo
Acontece que a liberdade não é nada além de saudades suas
Eu queria ter percebido o que eu tinha quando você era meu
E eu volto a dezembro, dou meia volta
E deixo tudo bem
Eu volto a dezembro o tempo todo

– Eu tô tentando... – Sussurrei.

Ele continuou me olhando. E só agora eu havia notado, que ele tinha parado o elevador entre o 13º e o 14º andar.

– A gente tá, talvez eu mais...
– Arthur, me desculpe por tudo, um não queria... – Ele me interrompeu.
– Me magoar? – Perguntou completando.
– Isso. Eu apenas não... – Mais uma vez ele me interrompeu.
– Você teve medo. E eu não consigo aceitar isso, Lua. Talvez, Elisa esteja certa...
– Ah claro, bendita seja Elisa. – Torci a boca fazendo uma careta. Não me importando com o que ele fosse achar. Afinal, ele tinha propositalmente feito a gente ficar preso naquele elevador mesmo. – Talvez ela esteja certa sim, e eu nem preciso saber o que ela andou falando de mim. Seja o que for, não é bom de qualquer jeito. – Dei de ombros. E ele continuou me encarando. – E nem o real motivo da minha decisão. – Finalizei secamente.
– E qual foi o real motivo da sua decisão, Lua? – Me perguntou.
– Eles. Todos eles. Sua família que me odeia. O-d-e-i-a. – Soletrei calmamente.
– Não foi eles quem te pediram em casamento. Você não iria se casar com eles. Foi eu. Era comigo que você casaria. – Disse tão calmo quanto eu. Ou tentando soar calmo.
– Como iriamos conviver?
– Eu e você? Bom, eu tentaria fazer com que convivêssemos melhor impossível. Era só isso que importaria, Lua. Nada mais. Ninguém mais. – Disse ele.

E eu só vinha afirmando para mim mesma, que eu tinha sido uma tremenda de uma idiota. E deixei que aquelas pessoas decidissem a minha felicidade. E eu acabara ficando sem ela.

– Se o que eles falassem fosse importante, nosso namoro não teria durado tento tempo, e eu nem teria pensado em me casar com você. Mas pelo visto, você dava mais importância a isso, do que eu. Que só pensava em passar o resto vida com você, sem me importar com o que outra pessoa, ou outras pessoas achariam disso. – Continuou falando. Só fazendo a minha culpa e raiva aumentar mais ainda. Raiva de mim mesma.
– E-eu... Eu penso no pedido todos os dias. Eu não... Não consigo esquecer o que aconteceu. – Falei tristemente. Ele encarou a porta do elevador. E eu abaixei a cabeça.
– O que você fez acontecer. – Enfatizou ao me citar. – Eu passei a semana inteira escutando o seu não. Eu não esperava aquela resposta. Achei que você me amasse... – Disse ainda fitando a porta. O tom de voz não havia mudado. Ele continuava – tentando se manter – calmo.
– Eu amava, eu... Eu ainda o am...
– Não, Lua. Não diga isso quando tudo já acabou. Quando tudo o que eu quero, é esquecer que aquele dia existiu. Quando tudo que eu quero, é esquecer que fiz aquele pedido.
– Eu sinto muito.
– Não sinta. – Falou seco. E apertou o botão, botando o elevador outra vez em movimento.

E eu só conseguia pensar no quão idiota eu tinha sido. Ao ponto de deixar Arthur sair da minha vida assim. E ela perder todo e qualquer sentindo que poderia ter depois dele. Felicidade era uma coisa que eu não sentia mais depois daquele dia. Riso era algo que eu não dava mais. Meus dias estavam morrendo, assim como eu sentia estar também.

Eu deveria ter pensado na minha felicidade, antes de ter pensado no quanto mais a família de Arthur me odiaria por eu ter aceitado entrar mais ainda na família deles.

Nenhuma companhia é melhor que a dele. Nenhuma sensação de liberdade é melhor do que a sensação de ter ele junto a mim. Ninguém é tão bom quanto ele. Ninguém pode cogitar a ideia de se igualar a ele.

Porque eu tinha tudo que um dia eu poderia sonhar em pedir. E não fiz esforços pra isso. As melhores coisas acontecem quando a gente menos espera. E depois daquela declaração no meio da rua, eu passei a acreditar seriamente nisso.

Agora eu só tinha a lembrança de Dezembro, a lembrança do pedido negado, que me matava um pouquinho todos os dias. E que me matou muito nesse tempo com Arthur no elevador.

These days I haven't been sleepin'
Stayin' up playing back myself leavin'
When your birthday passed
And I didn't call, then I think about summer
All the beautiful times
I watched you laughin' from the passenger side
And realized I loved you in the fall
And then the cold came
With the dark days when the fear crept into my mind
You gave me all your love
And all I gave you was goodbye

Eu não tenho dormido bem esses dias
Fico acordada lembrando de como eu fui embora
Quando o seu aniversário chegou
E eu não te liguei, eu pensei no verão
E todas as lindas vezes
Que eu vi você rindo do lado do passageiro
E eu percebi que eu te amava no outono
E então veio o frio
Com os dias escuros quando o medo invadiu a minha mente
Você me deu todo o seu amor
E tudo que eu te dei foi um adeus

Eu passei dois dias sem dormir, eu ficava relembrando cada palavra dita por ele naquela declaração. As lágrimas não existiam mais, eu parecia uma morta viva. As olheiras eram impossíveis tentar disfarçar com maquiagem. Eu soluça, já me acostumando com aquela dorzinha no peito, toda vez que me lembrava do que eu havia respondido, de como eu havia saído daquela casa, de como eu havia deixado as flores caírem no chão...

E quando o sábado chegou, eu senti uma imensa vontade de ligar para Arthur, quando meus olhos fitaram o celular. Era o aniversário dele, 27 anos ele estava completando. E eu não queria desejar nada além da felicidade dele. E internamente, eu também queria desejar ele junto a mim, como nos últimos dois anos. Queria pedir desculpas por tudo, mesmo sabendo que nunca seria desculpada.

E os dias passaram, Dezembro acabou, um novo ano logo chegou, gelado como o anterior. Tão frio quanto as noites que eu passei naquele quarto escuro, porque a claridade me incomodava. E foi uma luta fazer minha irmã entender, que eu queria ficar sozinha.

E quando os dias começavam e acabavam, para começar e acabar novamente, eu via que precisava de Arthur, mas do que pensei que um dia precisaria. Que eu o amava mais do que um dia cheguei a falar para ele.

E vinha tão claro como água – e tão torturante quanto uma arma apontada para sua cabeça, e ameaças – que Arthur tinha me dedicado todo amor que existia nele. Tinha me enchido de tudo que uma mulher poderia sonhar e pedir para ter. Amor. O mais puro e completo, amor.

E que eu retribuir com o pior que ele poderia esperar – e nem esperava de mim. – Eu não fiz nada além de lhe negar tudo o que eu mais queria também. Todos os dias e noites da minha vida com ele. Dormir e acordar ao lado dele. Era tudo que eu mais queria também.

*

As portas se abriram. E automaticamente um silêncio se instalou ali, quando as pessoas que trabalhavam naquele andar, nos viram sair do elevador. Arthur voltou o olhar para mim.

– Ainda vai pedir demissão? – Me perguntou.
– Acho que eu realmente prec... – Tentei dizer, mas Arthur me interrompeu – mais uma vez.
– Você não precisa, você acha que fugir é a única solução. Você sempre agiu assim.  E vejo que continua fazendo a mesma coisa. Mas como eu já disse, vou ficar ausente por um tempo. Pensa bem... Ficar desempregada agora, não vai ser bom. E acredite, eu só quero o seu bem... Apesar de tudo. – Disse baixo, para que só eu escutasse. Embora as outras pessoas fizessem um tremendo esforço para escutar nossa conversa também.

Eu não sabia o que responder. Eu sempre acabava fugindo de tudo mesmo. E Arthur me conhecia muito bem.

– Nunca é bom ficar desempregada. – Respondi.
– E você é a única que no momento, quer né?
– Eu também só quero o seu bem...
– Eu sei. – Ele respondeu. – Bom, vou indo, Lua. Você vai mesmo fazer o que está pensando? Não vou insistir mais, para que não o faça. – Finalizou.
– Não vou fazer. – Falei.
– Que bom. – Ele sorriu discretamente. – Vou indo.
– Tchau, Arthur. E... Boa viagem. – Desejei. Mesmo que morrendo de medo dele arranjar uma americana nessa viagem.
– Obrigada. Irá ser. Tchau, Lua. – Se despediu. E eu não gostei nadinha do “Irá ser.” Mas decidi – tentei me convencer na verdade – não me importar. E deletar essas duas palavrinhas da minha mente.

Que elas façam boa viagem!

So this is me swallowing my pride
Standing in front of you saying
I'm sorry for that night
And I go back to December all the time
It turns out freedom ain't nothing but missin' you
Wishing that I realized what I had when you were mine
And I go back to December, turn around
And change my own mind
I go back to December all the time

Então aqui estou eu engolindo o meu orgulho
Parada na sua frente dizendo
Que sinto muito por aquela noite
E eu volto a dezembro o tempo todo
Acontece que a liberdade não é nada além de saudades suas
Eu queria ter percebido o que eu tinha quando você era meu
E eu volto a dezembro, dou meia volta
E mudo de opinião
Eu volto a dezembro o tempo todo

Arthur sumiu pelo corredor daquele andar. E eu respirei fundo e peguei o elevador de volta para o térreo. Eu tinha que começar a trabalhar e esquecer que Arthur estava ali, e que isso poderia vim a me perturbar – ainda mais.

Eu tinha que a aceitar que não tínhamos mais nada. E que tudo que a gente viveu, tinha tido um ponto final.

Voltei a trabalhar não me importando com as – muitas – pessoas que sempre que me viam, não evitavam cochichar, como se soubessem o motivo pelo qual eu decidi recusar o pedido de casamento de Arthur.

Quase 3h depois que eu tinha voltado a trabalhar, Arthur saiu do elevador com Jane, a funcionária nova do setor de contabilidade da empresa – eu sabia disso, porque Jheny havia cochichado com alguém que estava ali, e que eu não reparei quem era. Porque no momento, aquele “casal” era mais importante – Ela era alta e loira, como a maioria, e usava um vestido – justo – de tecido fino – que eu nunca me dei ao luxo de comprar. Não que eu ganhasse mal, mas eu tinha prioridades. – preto, e um scarpin da mesma cor. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto. A maquiagem era leve, e o batom vermelho. – Sim. Eu reparei bastante – eu diria muito mais do que devia e queria reparar – nela.

Eles conversavam observando uns papéis e algo dentro de mim me alertou de que ela poderia viajar com ele, já que Charlie era da contabilidade e também sempre ia com Mel nas viagens aos Estados Unidos. E isso me deixou deprimida a nível elevado.

Arthur olhou para a recepção e educadamente deu um aceno de cabeça, como quem diz “Oi, até!” E eu sorri sem mostras os dentes. Na tentativa de demonstrar que nada me incomodava no momento. E que eu queria sair correndo dali para a minha casa, para a minha cama.

Eles saíram da empresa, e Raquel, a loira que era secretaria dele – e muito amiga de Jheny. – apareceu ali. E se debruçou sobre o balcão da recepção.

– Olá, Jheny! – Disse animada. – Estou de férias esse resto de mês. – Bateu palmas.
– Oi. Ooooh! Sua sortuda. Sério mesmo? – Jheny perguntou animada.
– Sim. Muito sério. Arthur me deu essa folguinha. Vai ficar longe da empresa por 3 meses. E a antipática da Jane, vai com ele. E quase fala que esse folga minha, era desnecessária. Vê se pode, entrou ontem e já quer mandar?! Aaava! – Reclamou bufando.
– Ela é muito nojenta.  Não há quem goste dela. – Jheny disse baixo.

Pelo visto, Athur tinha encontrado uma companheira a altura do que a família dele esperava.

I miss your tan skin, your sweet smile
So good to me, so right
And how you held me in your arms
That September night
The first time you ever saw me cry
Maybe this is wishful thinking
Probably mindless dreaming
If we loved again, I swear I'd love you right
I'd go back in time and change it but I can't
So if the chain is on your door I understand

Eu sinto falta da sua pele bronzeada, do seu doce sorriso
Tão bom para mim, tão certo
E como você me segurou em seus braços
Naquela noite de setembro
A primeira vez que você me viu chorar
Talvez isso seja apenas uma doce ilusão
Provavelmente um devaneio sem motivo
Se nos amássemos de novo, eu juro que te amaria direito
Eu voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso fazer isso
Então se a sua porta está trancada, eu entendo

E como o sol que tentava aparecer em pleno o inverno, e ia embora num piscar de olhos, os três meses passaram voando. E na segunda-feira, lá estava Arthur entrando na empresa – irresistível naquele terno impecável dele. – e cumprimento os funcionários que também o cumprimentavam. E preferi ignorar a existência dele naquele momento, mas Jheny não teve a mesma ideia que eu. E o chamou.

– Sr. Aguiar! – O chamou alto suficiente para que ele ouvisse.
– Oi. – Respondeu caminhando até a recepção. Eu sabia disso porque escutei os passos dele se aproximando.
– Tenho esses dois envelopes para lhe entregar. Um chegou mês passado, e outro, três dias atrás. Fui informada para entrega-los somente ao senhor. – Explicou.
– Tudo bem, Jheny. Obrigada. – Sorriu pegando os envelopes. – Bom dia, Lua. – Me cumprimentou.
– Bom dia. – Respondi.

Ele estava mais forte, e como se fosse possível, mais bonito ainda. O sorriso era o mesmo. – P e r f e i t o ! – de sempre. E eu o queria de volta. E quase senti vontade de chorar, por saber que não o teria.

Eu sentia falta dele a cada dia mais e mais. E eu chorava me lamentado pela história que eu mesma tinha mudado. E ele não estava lá para me abraçar e dizer que estava ali e que tudo ficaria bem.

E como se tivesse sido programado, vinha em minha mente – nas noites que eu não conseguia dormir – aqueles flash dos momentos felizes que vivi ao lado dele. Dos melhores momento da minha vida. E eu jurava para mim mesma, que se pudesse voltar a Dezembro, teria sido tudo diferente. E eu me lembrava das noites que passamos juntos, de como aqueles momentos eram maravilhosos e de como ele era extremamente carinhoso comigo – não só naquela hora, mas em todas as horas que passávamos juntos.

Mas para ele, parecia que nada havia existido entre a gente. Ele parecia bem – muito bem. Mil vezes melhor que eu. – E me tratava como tratava qualquer funcionário naquela empresa – exceto, a loira azeda que havia acabado de chegar. E eu senti vontade de cuspir na cara dela. E não me julguem. Ela era ridícula.

Ela passou por ele, passando a mão pelas costas dele, e rindo baixinho, enquanto ele voltou a caminhar para o elevador. E eu só queria uma passagem secreta para que eu pudesse sair dali.

*

Setembro havia chegado, e o final do ano estava se aproximando novamente. E eu via Arthur todo santo dia. E a cada dia ele ficava mais lindo ainda. E a cada dia eu suspirava mais vezes por ele. Eu não havia escutado nenhum comentário de que ele estava com outra pessoa – outra mulher, namorada, ou noiva. Tudo que nomeasse alguém que pudesse dormi e ter uma relação com ele nesse sentido.

Eu ficava feliz com isso. Porque caso contrário, eu ficaria mais destruída do que já estou. Não que eu me iludisse ao ponto de chegar a achar que ele passaria o resto da vida assim, solteiro. Porque ele não passaria. E disso, todo mundo sabia.

Já era tarde, eu decidi adiantar meu trabalho do dia seguinte, porque eu não viria. Eu tinha que resolver uns problemas. E perto das 21h, Arthur passou pela recepção, e parou ao notar que eu ainda estava ali, trabalhando.

– Não já passou sua hora, não? – Perguntou, fazendo eu me assustar.
– Oh! Que susto. – Falei levando a mão ao peito. Arthur riu.
– Desculpa. Não era a minha intenção assustar você, querida. – Oh! Aquela palavra de novo.
– Tudo certo. – Respirei aliviada. – Uhm... Já passou da minha hora, mas tô adiantando algumas coisa, porque não venho amanhã. – Expliquei. Ele assentiu.
– Vai demorar ainda?
– Alguns minutos. Por quê? – Perguntei.
– Por nada. Eu vou espera-la. – Disse colocando a maleta sobre o balcão. O olhei confusa. – Eu quero conversar com você. – Pareceu ler minha confusão e se explicou.
– Pode falar.
– Aqui não. – Disse simplesmente.

Quase meia hora depois, eu terminei tudo e peguei minha bolsa. Arthur não havia falado nada, e nem perguntado quantos minutos mais eu demoraria. Ele devia estar com bastante tempo.

– Vamos, então? – Falei. Ele assentiu e saímos do prédio.

Formos ao antigo restaurante que costumávamos almoçar antes. E tudo continuava a mesma coisa, mas não havia se passado tanto tempo assim mesmo. Sentamos na mesma mesa de costume e pedimos salada, eu pedi com bife, e Arthur, com frango, como sempre. E ah! O vinho. Não demorou muito para que o garçom trouxesse nosso jantar.

– E como anda a vida, Lua? – Me perguntou calmo.
– Normal. E a sua?
– Atormentada. – Respondeu simplesmente. O mirei.
– O que tem de errado?
– Você!
– E-eu?
– Sim. Todos os dias. Todos os dias eu tenho vontade de te agarrar. E de ter você como antes. Como eu nunca deveria ter deixado de ter. Você me entende? – Me perguntou como se estivesse fazendo uma pergunta simples. Eu tossi, tentando não me engasgar de verdade.
– Eu não sei o que dizer...
– Simples, sim ou não, querida
– Sim. Eu... Eu também sinto a mesma coisa. – Admiti e odiava gaguejar sempre. Que saco! Exclamei mentalmente.
– Lua, eu chamei você aqui hoje, porque faz exatamente um ano, que nessa mesma mesa, eu pensei pela primeira vez, em te pedir em casamento. – Falou. – Eu ainda sou completamente louco por você. E não consigo mudar isso. E olha que já tentei, e não uma vez só. E três meses atrás, vi que não tinha o que mudar. Porque no fundo, eu ainda queria você, e muito. – Confessou. – Eu só não sei... Se você me quer do mesmo jeito, ou tanto quanto eu ainda te quero. – Finalizou.
– Arthur... – Sussurrei.
– Não precisa responder agora, linda.
– Você não tinha esse direito.
– De quê? – Perguntou confuso.
– De dizer essas coisas... – Falei baixo. – Eu passei os últimos nove meses, pensando só em você. – Ele sorriu. – E pensando em um jeito de te pedir desculpas de novo, por tudo... por tudo aquilo.
– Esqueça o que passou, Lua. E eu quero tentar de novo. A gente precisa tentar. E eu quero que você deixe de pensar nas outras pessoas, e pense primeiro em você.
– A gente precisa tentar... – Murmurei. – Eu também quero tentar, Arthur. – Ele sorriu ainda mais. E meu coração deu um salto.

Aquele sorriso estava de volta. E só pra mim. Só pra mim.

O beijo era cheio de saudade, rápido, que eu mal senti quando Arthur tirou meu sutiã. O resto das roupas estavam em algum lugar da sala. As mãos dele passavam pelo meu corpo, apertando, massageando, acariciando. E que recordei de que eu morria de saudades daqueles toques.

E quando chegamos a cama, eu cheguei a pensar se depois que eu o deixei, alguma outra tinha dormido ali.

– Ninguém, querida. Só você? – Minha pergunta tinha sido respondida. Mas espera, ele lia pensamentos?

A noite foi longa... E resto do mês, melhor impossível. E os meses seguintes, maravilhosos!

*

Era novembro, e nosso relacionamento ia melhor impossível. E as pessoas voltaram a falar novamente. E diferente das outras vezes, aquilo não me incomodava mais. Arthur era novamente meu, é isso era o que realmente importava.

No último mês, eu estava quase de mudanças pra lá, porque o caminho até minha casa, eu não havia mais feito.

E Jane, aah lembram dela? Passou a ter que me engolir. E eu a rir mais vezes ao vê-la se esforçando para parecer educada comigo – na presença de Arthur, claro.

I go back to December, turn around
And make it all right
I go back to December, turn around
And change my own mind
I go back to December all the time
All the time

E eu volto a dezembro, dou meia volta
E deixo tudo bem
E eu volto a dezembro, dou meia volta
E mudo de opinião
Eu volto a dezembro o tempo todo
O tempo todo

Dezembro. E aquele mês me trazia tantas recordações. Que as vezes eu sentia vontade de chorar, por medo de que pudesse acontecer algo parecido, ou pior.

Um assunto em especial não me abandonou durante as primeiras semanas do mês. Mas Arthur parecia não se importar com isso. Parecia apenas mais um mês e só, para ele. Exceto, o natal na casa da família dele, que esse ano, ele não iria. Nós passaríamos o natal juntos, o nosso natal. E esse assunto ganhou mais força nesse dia. Mas não tive coragem de o fazer nele. Tinha uma dia mais especial – e que eu não havia estragado – eu o faria nele.

Era aniversário do Arthur. E ele ficou super feliz com o jantar que eu havia preparado para ele. E eu tinha uma surpresa, e eu estava extremamente nervosa com isso.

Eu tinha medo da resposta.

– Eu adorei o jantar. – Ele disse ao bebericar o vinho. – Obrigada.
– Você merece, e ah! Ainda tem meu presente. – O lembrei.
– Presente? Mais surpresa? Amor, você sabe que não precisava. – Me disse.

E eu levantei indo até o sofá, para pegar a caixa, que eu havia deixado lá. A caixa não era tão pequena, mas também não era grande, e dentro dela havia outra caixa, essa sim, pequena. Mas o que ela guardava, era de um significado enorme. E que eu havia negado um dia. E agora, eu estava... Pedindo, para que ele aceitasse.

Caminhei de volta até ele, e lhe estendi a caixa.

– Obrigada. – Ele agradeceu.
– Abra. Espero que goste. – Falei nervosa.

Ele abriu a caixa, e meio confuso, pegou a outra caixa que havia dentro dela. E sua boca se abriu em surpresa.

– Lua...
– Arthur, eu quero que você aceite casar comigo. Agora sou eu que estou pedindo. E se você ainda quiser, eu vou me sentir aliviada e feliz. Muito feliz. Porque é tudo que eu quero agora. Eu quero todos os segundos, minutos, horas, dias com você. Eu quero uma família. Eu quero ser mais feliz do que já sou. Eu não estou me importando com que vão achar de mim. Se vão gostar ou não de mim. O que importa é você. Apenas você. E eu te amo tanto... Você ainda quer ser meu, para sempre? Você aceita se casar comigo? – Perguntei novamente.
– Eu também te amo... E diferente de você – Ele riu. – Minha resposta é sim.

O abracei forte, e o enchi de beijos, as lágrimas caiam livremente enquanto Arthur colocava a aliança em meu dedo, e depois eu repeti seu ato, colocando a aliança no dedo dele.

Ele segurou em minha cintura, e uma de suas mãos migrou para minha nuca.

– Eu serei seu para sempre, querida... – Murmurou antes de colar os lábios nos meus. Em um beijo cálido.

Dezembro nunca mais seria o mesmo. Dezembro nunca mais me faria chorar outra vez. E eu poderia voltar lá sem problema algum.

Fim.

N/A: Era pra postar no natal, mas eu tenho sérios problemas com datas e horas. Acho que perceberam. Mas aqui está e eu espero que gostem. Foi feita com muito carinho, e eu amooo essa música da Taylo.

Mas dezembro ainda não acabou haha O que vale é a intenção.

O que acharam? Gostaram? Comente aí.

E sim, ainda falta mais 1 fic.

Beijos.

12 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Que lindo �� Eu simplesmente amei... Nossa realmente foi perfeito.. Estou impressionada com a sua capacidade de escrever bem... Ao mesmo tempo que você me fez rir em algumas partes você me fez chorar em muitas outras. Não estou conseguindo encontrar as palavras certas para descrever o que eu senti lendo essa história.

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  3. crlh muito boaa esse web, chorei quando ela disse q não

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  4. Muito boaa!! Linda história
    Helena

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  5. Nooooosssa q liiiindo , Ameeeeeeeeeeei reaaaal !!!

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  6. Ameiiiiii... Muito perfeitaaaaa!!!

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  7. Ahhhhhh vacaaaaa, eu ameeeeei essa fic. Confesso que meu coração ficou super partido, quando ela disse "não", eu quis matar a Lua hahaha Mais depois, a volta deles foi linda. Parabéns, você arrasou como sempre!!! Sou apaixonada, nas suas fics sabe disso. <3

    Ps: Quero a outra fic de Natal, pra ontem. Obrigada, de nada.

    Beijos

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  8. super amei. faz um capitulo especial desta história. pf

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  9. continuação! por favor
    ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei

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