Ando pelas ruas desertas, sem saber para onde ir. Emocionalmente estou fora do jogo. Eu não posso ir à casa de Omar e Tifany, porque Anselmo está lá e avisará Arthur.
Se eu
chamar Tony, ocorrerá o mesmo. Eu não quero ninguém para opinar ou entrar em
nossa discussão. De repente, aparece um táxi e, sem dúvida o paro, entro e
quando o taxista pergunta-me para onde vou, não sei o que dizer.
No final,
sem saber por que, respondo pedindo para que me leve à Santa Mônica. Assim que
chegamos, eu desço do táxi, mas vejo que o lugar é pouco movimentado e peço ao
homem que espere alguns segundos.
Eu vou a um caixa eletrônico próximo e saco
dinheiro. Quero ter dinheiro para o que possa acontecer. Quando eu termino,
volto ao táxi, mas vejo um bar aberto.
Pago a
corrida e vou para o bar. Ao entrar, vários homens olham para mim, mas eu os
ignoro caminhando pelo bar. Uma morena maravilhosa atende-me, com um sorriso
amável e voz profunda, pergunta:
— O que
deseja?
Depois de pensar, eu respondo que quero rum e
Coca-Cola. Dois minutos mais tarde, eu tenho o copo para mim e o bebo perdida
em meus pensamentos. Peço outro.
A morena, de sotaque espanhol, serve-me e
então eu olho para as mãos grandes que tem, e quando ela se vira em sua
minissaia jeans. Jovens pernas tão bem torneadas.
Por um
tempo, eu vejo seu rosto, dissimulado enquanto bebo. Não há dúvida de que o
nariz e os lábios tão perfeitos não são naturais. Alheia ao meu exame, ela
sorri. Quando eu vou pedir meu terceiro copo, ela diz:
— Sinto
muito, querida, mas já fechamos. Se deseja continuar a beber recomendo que
procure outro lugar.
Pago e deixo
o local. Na rua, não há uma alma. Também não vejo qualquer táxi e eu fico
parada lá.
Não sou
medrosa, mas admito que também não sou a mulher mais corajosa do mundo, e ir
sozinha por essas ruas e a essas horas. Eu não sei o que fazer e sento-me num
banco que está ao lado do bar.
Parece
mentira que estava cercada horas antes do mais glamoroso da música
internacional e agora estou só e desamparada nesta rua escura. Penso no que
aconteceu com Arthur.
Como
poderia me jogar para fora do seu escritório? Como poderia recusar-se a falar
comigo? Isso me irrita. De repente, as luzes se apagam e o bar é todo preto
como breu. Levanto-me do banco assustada. Devo ir embora daqui logo. Este lugar
não me dá boas vibrações, mas não sei para onde ir. De repente, uma voz
pergunta:
— Mas por
que você está aqui ainda? Ao virar-me me deparo com a morena, ela está com
sapatos de salto incríveis. Bufando, respondo com algo agitado na voz:
— Eu
preciso de um táxi, mas não vejo nenhum. Ela sorri e me olha, responde:
— Táxi não
passa por aqui essas horas. Você teria que caminhar alguns quarteirões para
encontra-lo.
— Para
onde?
Ela indica
com o dedo e eu a olho e consigo responder:
— Obrigada.
Quando começo a andar, ela pergunta:
— Você é
espanhola, certo? Eu paro, a olho e confirmo assentindo como um cachorrinho
abandonado.
— Sim. A
mulher com um lindo sorriso, abre os braços.
— Eu
também! Como se ela tivesse encontrado com uma amiga de longa data, caminho até
ela, abraço-a, e ao separarmos, eu pergunto:
— De onde
você é?
— De
Madrid. E você?
— De
Tenerife, minha filha. Tão emocionada como se eu tivesse ganhado na loteria, acrescento:
— Meu nome
é Lua.
— Eu sou
Valeria. – e sem tirar o olho, diz
— E o que
faz uma garota loira e elegante como você em um lugar como este a estas horas?
Eu sorrio.
O elegante me faz rir e, depois de respirar, respondo:
— Pensar.
Eu discuti com o meu marido e...
— Oh...
Oh... Não me diga mais!
Suspiro,
encolho os ombros e continuo enquanto volto a andar de novo:
— Foi bom
conhecê-la. Outro dia eu vou voltar aqui. Meus passos ecoam no silêncio da
noite.
— Lua,
entre no meu carro. – diz Valeria. — Não é bom andar por essas ruas a esta
hora. Vou levá-la à rua principal, de modo que você possa tomar um táxi. Vamos,
venha.
Nem penso.
Estou com tanto medo de ter que andar por essas ruas escuras, que não tenho
medo de entrar no carro de uma desconhecida.
Ela
arranca, e enquanto vamos para a estrada principal, olha para mim e pergunta:
— É casada
há muito tempo?
— Meses.
Valeria sorri e diz:
— Oh,
querida, então a reconciliação será uma apoteose. Isso me faz sorrir. Não quero
nem imaginar no que vai acontecer quando Arthur perceber que não estou em casa.
Ao ver minha expressão, ela diz:
— Qualquer
que seja o problema que você tem com ele, espero que se resolva, e rápido. – e
em seguida acrescenta
— Olha, lá
tem um ponto de táxi. Olho para onde ela indicou e murmuro:
— Obrigada
por sua gentileza.
Quando eu
saio do carro, ela segura meu braço e pergunta:
— Agora
você vai para casa, certo? Decididamente, nego com a cabeça.
— Eu acho
que esta noite irei procurar um hotel. No carro há silêncio até que ela diz:
— Eu moro
em um apart-hotel, não muito caro. Não há grandes luxos, mas é bem limpo e
respeitável. Embora seja longe daqui. Se você desejar, eu ligo e pergunto se há
vagas.
Não sei o
que responder. Não conheço nada desta garota. Não sei se eu deveria confiar
nela, mas eu faço.
Preciso de
uma amiga e concordo com a cabeça. Ela sorri, fala com alguém ao telefone e
quando desliga explica:
— Isabella,
que é a proprietária, confirmou que tem quartos disponíveis.
— Ótimo.
Não sei
onde ela me leva. Só sei que é um bairro que Arthur nunca deve ter ido. Uma vez
que chegamos ao hotel, eu vejo que, de fato, o local parece limpo e decente.
Do lado de
fora tem APARTHOTEL DAS AGUAS. Depois de pagar em dinheiro com antecedência a
noite que vou passar aqui, e cumprimentar Isabella, uma italiana muito
engraçada, ela me dá a chave para o meu quarto. É a 15.
Quando
Valeria e eu andamos por lá, ela está diante do número da porta 12
— Você quer
entrar ou prefere ficar sozinha?
Sem dúvida
alguma, eu não quero ficar sozinha. Ela me convida para o seu quarto e, ao
entrar, vejo que esse lugar é uma pequena casa. Tudo é pequeno, uma cozinha americana na sala de
estar, banheiro e, separados por uma porta, um quarto.
— Meu
quarto também é assim? Valeria sorrindo e deixando sua bolsa em um sofá
laranja, responde:
— Não,
rainha. Isabella me faz bom preço e eu tenho um de casal. Você vê, eu construí
aqui meu pequeno paraíso. Eu sou uma cabeleireira e maquiadora, e minhas
clientes vêm aqui para eu deixá-las maravilhosas.
Eu sorrio
ao ver suas unhas esplêndidas e seu bonito corte de cabelo. Certamente deve ser
boa no seu trabalho e, encantada, observo o que me rodeia. Não falta nada e
tudo é confortável, limpo e acima de tudo, caseiro.
— Eu vou me
trocar.
Quando ela
desaparece no outro quarto, olho com curiosidade as fotografias que tem
penduradas na parede e eu sorrio ao reconhecer a famosa Puerta de Alca lá em
Madrid.
Há imagens
de pessoas que não conheço, com certeza deve ser sua família, pois Valeria se
parece com alguns deles. Quando ela sai do quarto, veste roupa confortável. Um
vestido cinza que atinge metade coxas e chinelos. Sem perguntar, ela tira de
sua geladeira algumas bebidas e, entregando-me uma, diz:
— Eu só
tenho cerveja, me desculpe. Encantada, a pego e bebo alguns goles. Que glória.
Sentamos no sofá laranja confortável e por uma hora conversamos sobre nossas
vidas e por que terminaram em Los Angeles. Eu falo como conheci o Arthur em um
barco e que nos apaixonamos. Falo pouco. Não sei quem ela é e não quero dar
muitas informações.
— Bem, você
sabe que eu estou em Los Angeles pelo amor. E você? – pergunto-lhe. Valeria
bebe sua cerveja e dando de ombros, responde:
— Digamos que eu saí do meio da família para
que ela vivesse tranquila.
— Sério?
—
Totalmente sério.
— E não
sabem onde você está?
— Eu sou a
ovelha negra da família e estou convencida de que quanto mais longe estou,
melhor para eles. Ouvi-la dizer-me isto me parece muito difícil. Supõe-se que a
família é o seu refúgio. Sua casa. Dói e murmuro:
— Você não
sabe o quanto sinto, Valeria. Ela sorri e, tocando seu bonito cabelo preto,
responde:
— Eu senti
no momento, mas menina pode se acostumar com tudo. Valeria vai para o banheiro.
Olho o celular, duas e doze da manhã. Eu não tenho nenhuma chamada perdida,
nenhuma mensagem. Arthur deve continuar trancado em seu escritório.
Vai ser
teimoso!
De repente,
o celular de Valeria toca, olhando para ele, vejo que a tela tem um nome: Gemma
Juan Giner. Sem saber por que, eu pego, me aproximo do banheiro, com a porta
aberta, e, olhando para dentro, fico espantada. Valeria se levanta do vaso e...
e... e...
Porra, o
que é isso?! Eu vi o que eu vi?! O que Valeria leva pendurado entre suas
pernas? Nossos olhos se encontram e ela, vendo minha expressão diz:
—
Precisamente por isso que eu sou a ovelha negra da família. Eu a olho
espantada. Nunca em meus pensamentos mais selvagens poderia imaginar isso dela
e murmuro confusa:
— Sinto
muito. O telefone tocou e eu... eu... Ela sorri, baixa o vestido, lava as mãos
e quando ela passa por mim, diz-me, tomando meu braço para nos sentarmos no
sofá:
— Vem, eu
não fui totalmente honesta com você.
— Valéria,
por Deus – respondo apressada — Você não tem que me dizer nada.
— Há alguns
anos decidi parar de mentir. Assim que nos acomodamos novamente no sofá, ela
faz um rabo de cavalo em seu cabelo escuro, enquanto, explica-me e tira sua
maquiagem com um paninho.
— Desde
criança eu sabia que algo estava errado. Tinha que jogar com os meninos, mas eu
estava morrendo para brincar com as bonecas das meninas.
Eu adorava
as Barbies e se as pegava com minhas vizinhas sempre que podia para penteá-las
ao meu gosto. Sou filha única e na minha adolescência eu sempre estava nervosa
e me tornei rebelde e respondona.
Para mim,
foi muito traumático descobrir que eu estava presa em um corpo que não era para
mim e que ninguém, absolutamente ninguém, me entendia e nem poderia me ajudar.
— Em casa,
a situação tornou-se tão insuportável que afetou tudo, a normalidade de minha
casa, meus estudos e, no final, meu pai, cansado da minha atitude, decidiu me
tirar da escola e me colocar para trabalhar. Durante um ano eu estava no bar de
um dos meus tios, mas tudo piorou. Tive que suportar zombarem de mim dia após
dia, e quando fiz dezoito anos eu deixei esse trabalho, me libertei e tentei ganhar
a vida o melhor que pude e soube.
— Minha mãe não me aceitou fácil e meu pai é
militar, imagine. Para ele sou uma vergonha.
— Sinto
muito. — Eu tentei falar com eles milhares de vezes e fazê-los entender o que
aconteceu comigo, mas me chamam ―mariquinhas‖ ou "degenerado"
resolveu tudo. Para eles, eu sempre serei Juan Luis, a criança do sexo
masculino que tiveram, e não Valeria, a pessoa que eu realmente sou.
— Valeria.
– murmuro, tocando sua mão— Deve ser terrível passar por isso sozinha.
Concorda. Toma um gole de sua cerveja e acrescenta:
— Era mais
do que terrível. A rejeição você sofre em todos os lugares. Para os familiares,
os amigos e quanto ao social apenas vêem o desprezo e a marginalização. Para
muitos, você é uma pessoa estranha e para outros, um degenerado.
— Quando
decidi deixar Madrid, estive morando em Extremadura. Lá encontrei emprego em um
local de bares durante a noite e pela manhã eu estudava para ser cabeleireira.
Com paciência e pensando em mim, comecei um tratamento psicológico e hormonal
no Serviço de Saúde Pública. Nunca foi fácil, mas a vida não é fácil, certo? –
Concordo com a cabeça e ela continua — Eu tentei fazer as coisas bem, porque eu
sou Valeria, responsável e disposta a lutar para ter sucesso e seguir adiante.
Tomo um
gole da minha cerveja e pergunto:
— E como
você acabou em Los Angeles?
— Cinco
anos atrás, eu me apaixonei por um americano. Ele era de Chicago e, bem, quando
eu cheguei, me deparo com a surpresa de que ele era casado e pai de família.
— Mas que
filho da puta!
— Acho que
sim, querida. Mas depois de um tempo de ser uma merda, a guerreira em mim veio
à tona e eu me mudei para Los Angeles. Desde então, eu economizo dinheiro para
minhas operações, vou fazendo de modo que posso pagar. Embora me falte a mais
cara. A CMS: cirurgia de mudança de sexo.
— Uma vez
que eu faça isso, minha vida vai, finalmente, ser o que sempre quis. E embora
eu não acredite no amor, ou no Príncipe Encantado por morcegos que têm me
levado, eu acredito em mim e quero ser feliz. Eu a vejo com admiração.
O que me
disse é difícil e terrível, mas sem nenhuma dúvida tenho em minha frente uma
mulher dos pés a cabeça, com vontade de viver e de ser feliz, apesar de todos
os obstáculos que a vida lhe apresentou.
Olé para
Valeria! Por detrás de seu sorriso, nunca teria imaginado sua história
terrível. Nós conversamos por mais um tempo, e quando nos despedimos e eu sigo
para o meu quarto, deito na cama, me enrolo e com o coração doendo, adormeço.
Eu preciso disso.
:O o Arthur vai pirar quando sentir a falta da Lua. Nossa que história é essa da Valéria, deve ter sido uma barra ela enfrentar isso tadinha... Vc tá sumida amore... Ansiosa peli próximo
ResponderExcluirSdds de quando cê postava todo dia amor posta maaaaais
ResponderExcluirThur vai fica loco qnd ver que a Lu ñ ta em casa kkkkkkkkk +++++++
ResponderExcluirVixi quando esse homem cair na real e ver que sua mulher Luazinha não dormio em casa ele vai pirar kkkkk bem feito poxa ele que ta errado poxa ansiosa por mais!
ResponderExcluirTa muito bom, pq vc n ta postando todo dia??? Quero mais capítulo logo, uma das melhores webs q eu já li,to amando. Parabéns Flor ☺☺☺
ResponderExcluirAmeiiiiiiiii Arthur mereceu ansiosa só quero ver a reaçao dele quando descobrir que ela nao dormio em casa kkk mais?
ResponderExcluirpoxa nem tinha visto que vc tinha postado ansiosa agora kkk Arthur atitude de criança só acho kk
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