Peça-me o que quiser agora e sempre - 2º temp. - 140º,141º, 142º e 143º Capítulo (Adaptada)

|

Capítulo 140:


Chego a Madri e ninguém sabe que voltei. Ninguém para me receber. Não liguei para ninguém. Alugo uma caminhonete no aeroporto e enfio todas as minhas caixas ali.
Quando saio do Terminal 4, tento sorrir. Estou de novo em Madri!
Ligo o rádio, e as vozes de Andy e Lucas cantam:
Te entregaré un cielo lleno de estrellas, intentaré darte una vida entera
en la que tú seas tan feliz, muy cerquita estés de mí.
Quiero que sepas..., lelelele.

Tento cantar, mas minha voz está embargada. Não consigo. Simplesmente não consigo. Ao chegar ao meu bairro, a alegria toma conta de mim. Mas em seguida, quando preciso carregar sozinha as vinte caixas, a felicidade logo se transforma em mau humor. O que eu botei ali dentro? Pedras?
Assim que termino, fecho a porta de casa e me sento no sofá. De volta ao meu lar.
Pego o telefone, decidida a ligar para minha irmã. Acabo desistindo. Ainda não estou com vontade de lhe dar explicações, e minha irmã é osso duro de roer. Ligo a geladeira e desço para comprar alguma comida no mercado. Quando volto e guardo minhas compras, a solidão me domina. Me corrói.
Preciso ligar para minha irmã e meu pai.
Penso, penso, penso. Por fim decido começar pela minha irmã e, como era de se esperar, dez minutos depois de desligarmos, ela aparece na porta de casa. Abre com sua própria chave e, ao me ver sentada no sofá, diz:
— Fofaaaaaaaa. Caramba, o que houve contigo, querida?
Ver minha irmã, seu espanto, o jeito como me olha, é a gota d’água. Ela me abraça e eu caio em prantos. Passo duas horas chorando, e ela me consola e me diz várias vezes para eu não me preocupar com nada. Que tudo vai ficar bem. Quando enfim me acalmo, olho para ela e pergunto:
— E a Luz onde está?
— Na casa de uma amiga. Não contei que você está aqui, senão você já sabe...
Isso me faz sorrir e peço:
— Não diga nada. Amanhã quero ir a Jerez ver o papai. Quando eu voltar, vou visitá-la, tá?
— Tá.
Com carinho, passo a mão por sua barriga saliente e, antes que eu diga qualquer coisa, ela solta:
— Eu e José estamos nos separando.
Arregalo os olhos, espantada. Ouvi direito? E, com uma frieza que eu não sabia que existia em minha irmã, ela me explica:
— Eu pedi ao papai e a Arthur que não contassem nada pra você não se preocupar.
Mas, agora que você está aqui, acho que é hora de saber.
— Arthur?!
— Sim, fofa... e...
— Arthur sabia? — grito desconcertada.
Minha irmã, que não está entendendo nada, pega minhas mãos e murmura:
— Sabia, querida. Mas eu o proibi de te contar. Não fica chateada com ele por causa disso.
Não acredito. Não acredito!
Ele se aborrece comigo porque escondo coisas, quando na verdade ele próprio está escondendo também. Inacreditável!
Fecho os olhos. Tento me acalmar. Minha irmã está com um problemão e, me esforçando para esquecer Arthur e minhas próprias questões, procuro entender:
— Mas... mas o que aconteceu?
— Ele estava me chifrando com metade de Madri — afirma num tom seco. — Já te falei isso há algum tempo, mas você não acreditou.
Ficamos horas conversando. Essa notícia foi um baque. Jamais poderia imaginar que o pateta do meu cunhado traía minha irmã. Isso é para aprender a não confiar nos patetas...! Mas o que me surpreende mesmo é minha irmã. Ela, que é tão chorona, de repente está centrada e tranquila. Será que é por causa da gravidez?
— E Luz? Como ela está com essa história toda?
Move a cabeça com resignação.
— Bem. Está aceitando. Ficou muito triste quando eu disse que ia me separar do pai dela, mas, desde que José saiu de casa, há um mês e meio, dá pra perceber que ela está bem. Demonstra isso todo dia pelo seu sorriso.
Falamos, falamos e falamos. Depois de ver com meus próprios olhos o quanto minha irmã é forte e o quanto está calma apesar do desgosto e da gravidez, pergunto:
— Meu carro está no estacionamento?
— Está, sim, querida. Funciona que é uma maravilha. Eu usei nos últimos meses.
Afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. Em seguida ela sussurra:
— Não me conte o que houve entre você e Arthur. Não quero saber. Só preciso ter certeza de que você está bem.
Fico aliviada por ela dizer isso e, emocionada, afirmo:

— Estou, sim, Raquel. Estou bem.

Capítulo 141:
Nos abraçamos de novo e me sinto em casa. À noite, quando ela vai embora e fico sozinha, percebo que já consigo respirar. Desabafei. Chorei tudo o que tinha para chorar e me sinto muito melhor. Mas estou ainda mais chateada com Arthur. Como ele pôde me esconder essa história?
Decido não ligar para o meu pai. Vou fazer uma surpresa. Às sete da manhã me levanto e entro na garagem. Vejo meu Leãozinho e sorrio. Como ele é lindo! Dou partida e sigo para Jerez. No caminho, há tempo para tudo. Para rir. Para chorar. Para cantar ou para xingar Arthur à vontade.
Ao chegar a Jerez, vou direto à oficina do papai. Quando paro o carro na porta, eu o vejo conversando com dois amigos e, de repente, ao me ver, fica paralisado. Sorri e corre na minha direção. Ao receber abraço carinhoso, tenho a certeza de que ele vai me paparicar muito. Em seguida ele olha ao redor e pergunta:
— Cadê o Arthur?
Não respondo. Meus olhos se enchem de lágrimas e, ao ver minha cara, ele sussurra:
— Ah, moreninha! O que aconteceu, minha vida?
Segurando o choro, volto a abraçá-lo. Preciso do carinho do meu pai.
Nessa noite, depois de jantar, estou contemplando as estrelas, quando meu pai senta no sofá.
— Por que não me contou sobre Raquel e José? — pergunto com tristeza.
— Sua irmã não queria te preocupar. Ela falou com Arthur e pediu pra ele não te dizer nada.
— Ah, que ótimo! — exclamo, louca para arrancar a cabeça de Arthur por ele ser tão falso comigo.
— Escuta, moreninha. Sua irmã sabia que, se te contasse alguma coisa, você iria até Madri. Só fiz o que ela pediu. Mas pode ficar tranquila, ela está bem.
— Eu sei, pai, já vi com meus próprios olhos e fiquei bastante surpresa.
— Fico muito triste com o que aconteceu, mas, se José não valorizava minha filha como ela merecia, melhor que a tenha deixado em paz. Aquele sem-vergonha desgraçado! — diz. — Torço pra que ela encontre um homem que lhe dê valor, que a ame e, principalmente, que a faça voltar a sorrir.
Olho para ele com ternura. Papai é um romântico incorrigível.
— Raquel é uma joia rara — prossegue e eu sorrio. — Ah, moreninha!
Sinceramente, eu não esperava que José fosse capaz de fazer o que fez. Brincou com os sentimentos da minha filha e minha netinha, e isso eu não vou perdoar.
Concordo e abro uma lata de Coca-Cola que meu pai deixou na minha frente. Ele pergunta:
— E você? Vai me contar o que aconteceu com Arthur?
Me sento ao seu lado e, após dar um gole na Coca, murmuro:
— Somos incompatíveis, pai.
Balança a cabeça de um lado para outro e cochicha:
— Você sabe, minha linda, que os opostos se atraem. E antes que você diga qualquer coisa: vocês não são como José e Raquel. Não têm nada a ver com eles.
Quando estive na Alemanha no seu aniversário, vi que vocês estavam super bem. Você, feliz. E Arthur, completamente apaixonado. Por que isso de repente?
Espera uma explicação e sei que não vai desistir até conseguir. Então respondo:
— Pai, quando eu e Arthur reatamos, prometemos que nunca esconderíamos nada um do outro e que seríamos cem por cento sinceros. Mas eu não cumpri a promessa, e pelo visto ele também não.
— Você não cumpriu?
— Não, pai... Eu...
Conto a história toda: o curso de paraquedismo de Sophia e Sónia, a moto, minhas saídas com Jurgen e os amigos dele, as aulas de skate e patins que dei a Flyn, o tombo que o menino levou e a surra que dei numa ex de Arthur que azucrinava nossa vida.
Meu pai me escuta com os olhos arregalados e depois exclama:
— Você bateu numa mulher?
— Bati, pai. Ela mereceu.
— Mas, filha, isso é horrível! Uma moça como você não faz essas coisas.
Concordo e prometo a ele que isso não vai se repetir.
— Só dei o que essa cadela vadia mereceu.

— Moreninha, olha a boca suja! Vou ter que lavar sua boca com sabão?

Capítulo 142:
Caio na gargalhada com seu comentário e ele também acaba rindo. Dando uns tapinhas de leve na minha mão, lembra:
— Não te ensinei a se comportar assim.
— Eu sei, pai, mas o que você queria que eu fizesse? Ela me provocou e você sabe que sou impulsiva demais.
Achando graça, ele toma um gole da sua cerveja e diz:
— Está bem, filha. Entendo o que você fez, mas ouça bem: que isso não volte a acontecer, ok? Você nunca foi barraqueira e não quero que comece a ser.
Suas palavras me fazem rir. Dou-lhe um abraço e ele sussurra na minha orelha:
— Conhece aquela frase que diz que, se você tem um pássaro, deve deixá-lo voar?
Se ele voltar, é porque é seu; se não, é porque nunca te pertenceu. Arthur vai voltar. Você vai ver, moreninha.
Não respondo. Não tenho forças para dizer nada nem para pensar em ditados.
Na manhã seguinte, saio com minha moto e libero minhas energias saltando como um camicase pelos campos de Jerez. É meu melhor remédio. Faço manobras arriscadas e no fim acabo me esborrachando. Levo um belo de um tombo! No chão, penso em como Arthur se preocuparia comigo se visse isso e, quando me levanto, toco no meu traseiro dolorido e resmungo.
À tarde, estou vendo tevê quando meu celular toca. É Fernando. Seu pai, o Bichão, contou que estou em Jerez sem o Arthur. Dois dias depois, ele aparece na cidade. Assim que me vê, nos abraçamos e ele me chama para almoçar. Conversamos. Comento que eu e Arthur terminamos e Fernando sorri. Depois o idiota diz:
— Esse alemão não vai te deixar escapar.
Sem querer falar mais do assunto, pergunto sobre sua vida e me surpreendo quando ele conta que está saindo com uma garota de Valência. Fico feliz por Fernando, ainda mais quando ele admite que está completamente envolvido. Gosto de saber disso.
Quero vê-lo bem.
Os dias passam e meu humor fica oscilando entre a alegria e a tristeza. Sinto falta de Arthur. Não entrou em contato comigo, o que é uma novidade. Eu o amo demais para esquecê-lo tão depressa. Toda noite, quando já estou deitada na cama, fecho os olhos e quase consigo senti-lo ao meu lado, enquanto escuto no meu iPod as músicas que eu ouvia junto com ele. Meu nível de masoquismo aumenta cada dia mais. Trouxe uma camiseta dele e fico cheirando. Adoro seu cheiro. Preciso senti-lo para dormir. É um péssimo hábito meu, mas não estou nem aí. É um mau hábito assumido.
Quando já faz uma semana que estou em Jerez, ligo para Sónia. Ela fica super contente com meu telefonema e eu me surpreendo ao saber que Flyn está ali com ela. Arthur viajou. Fico tentada a perguntar se ele foi a Londres, mas decido não tocar no assunto. Já me torturei o bastante. Ela passa a ligação para Flyn e conversamos um tempinho. Nenhum de nós menciona seu tio. Depois ele devolve o telefone a Sónia e ela pergunta:
— Você está bem, querida?
— Estou. Vim visitar meu pai em Jerez e ele me paparica do jeito que estou precisando.
Sónia ri e diz:
— Sei que você não quer escutar, mas vou falar mesmo assim: está insuportável. Esse meu filho, com esse temperamento dele, é um sujeito intratável.
Sorrio com tristeza. Imagino como está. Sónia comenta:
— Não diz nada, mas sente muita saudade de você. Eu sei disso. Sou a mãe dele e, apesar de Arthur não abrir a guarda e não me deixar cuidar dele, eu sei.

Conversamos durante quinze minutos. Antes de desligar peço que por favor não diga que liguei. Não quero que Arthur pense que estou tentando colocar sua família contra ele.

Capítulo 143:


Após passar dez dias em Jerez com meu pai e me sentir aconchegada no seu amor, decido voltar a Madri. Ele viaja comigo. Quer ver minha irmã e ter certeza de que nós duas estamos bem. A primeira coisa que fazemos ao chegar é visitar minha sobrinha.
Assim que me vê, a garota me abraça e me cobre de beijos, mas logo pergunta por seu tio Arthur.
Depois do almoço, e diante da sua insistência em saber onde está seu tio, decido conversar a sós com ela. Não sei como lhe pode afetar a separação de seus pais e agora a minha. Quando ficamos sozinhas, Luz me pergunta pelo “chinês”. Repreendo-a por não chamar Flyn pelo nome, mas, quando ela não está olhando, dou uma risadinha.
Essa menina é danada. Assim que conto que Arthur e eu não estamos mais juntos, ela protesta e faz cara feia. Adora o tio Arthur. Faço carinho nela e tento convencê-la de que Arthur continua gostando dela. Por fim, Luz acaba aceitando. Mas de repente me olha nos olhos e pergunta:
— Titia, por que meus pais não se amam mais?
Que perguntinha difícil! O que posso responder?
Enquanto penteio seus lindos cabelos castanhos, respondo:
— Seus pais vão se amar a vida toda. O que acontece é que perceberam que são mais felizes vivendo separados.
— E, se eles se amam, por que brigavam tanto?
Dou um beijo carinhoso no alto de sua cabeça.
— Luz, as pessoas que se amam também podem brigar. Eu mesma, se fico muito tempo com sua mãe, acabo brigando, né? — A menina concorda e continuo: — Então nunca duvide que eu a amo muito, mesmo quando brigo com ela. Raquel é minha irmã e uma das pessoas mais importantes da minha vida. A questão é que os adultos têm opiniões diferentes sobre muitas coisas e acabam discutindo. E por isso seus pais se separaram.
— Por isso também que você não está mais com o tio Arthur? Por terem opiniões diferentes?
— Pode-se dizer que sim.
Luz crava seus olhinhos em mim e pergunta de novo:
— Mas você ainda o ama?
Suspiro. Luz e suas perguntas! Mas, incapaz de deixá-la sem resposta, digo:
— Claro que sim. As pessoas não deixam de se amar de um dia para o outro.
— E ele ainda te ama também?
Penso, penso, penso e, após refletir sobre a resposta, digo:
— Ama. Tenho certeza que sim.
A porta se abre e minha irmã aparece. Está lindíssima com seu vestido de grávida.
Em seguida entra meu pai. Que dor de cabeça ele foi arrumar com suas duas filhas!
— Estão prontas pra irmos tomar alguma coisa no parque?
— Siiiiim! — Luz e eu vibramos.
Meu pai pega a câmera fotográfica.
— Juntem-se aí, quero tirar uma foto. Estão lindas. — Assim que bate o retrato, exclama: — Que beleza! Como estou orgulhoso! Que três mulheres tão bonitas eu tenho!

8 comentários: