Adivinha quem sou (Adaptada)- Capítulos 74

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Como previu Arthur, na sexta-feira à tarde eu estava morrendo de medo.
Vou ao mercado com Tata e Preciosa e não encontro nada do que a minha mãe pediu quando liguei para ela para pedir ajuda com a comida.
Não disposta a me render, compro grãos de bico. Eles não são viscosos, como ela me disse, mas são grãos de bico. Compro um peixe que me falaram que é parecido com bienmesabe (um tipo de peixe que é temperado com um molho que tem azeite, vinagre e outros temperos) e um contra-filé para fazer o ensopado da minha avó Nira.
Depois, vamos comprar roupa para Preciosa. A menina desfruta de estar connosco e nós desfrutamos ainda mais de estar com ela. Ela está feliz e não solta em momento nenhum das nossas mãos. Quando a vestimos com um vestido de cetim azul, ela nos dá um belo sorriso. Sem dúvida alguma ela está gostando da nova vida.
Quando chegamos à cozinha da casa, não sei por onde começar.
Pego os grãos de bico e coloco-os na água para cozinhá-los para o dia seguinte, o peixe eu ponho para marinar numa mistura com água, vinagre e uns molhos que cheiram muito bem. Coloco a carne no congelador.
Elsa já não está na casa. Sei que falaram com ela e o jogo sujo acabou. Segundo o que Arthur me disse, não pôs nenhuma dificuldade em nada e renunciou a custódia da menina por uma modéstia quantia. Que desgosto de tia. Não desejo nada de ruim a ela, mas tampouco nada de bom.
Tata me olha com curiosidade, tenho certeza que está pensando se serei capaz de preparar o que me foi proposto. E eu, finjo tanta certeza que até eu acredito que farei.
No sábado pela manhã, quando me levanto, estou muito nervosa e digo para a nova cozinheira que saia da cozinha até que eu termine. Aqui hoje mando eu.
Quando consigo que Tata e ela saiam, quase arranco os cabelos.
Porém o que estou fazendo??
Na panela de pressão, coloco os grãos de bico, bacon, frango, um pouco de presunto e linguiça. De acordo com a minha mãe, quando a válvula começasse a dar voltas em grandes velocidades, conto 45 minutos e estará pronto.
Ponho no fogo e nesse momento a porta se abre: É Arthur com Tito e dois homens que rapidamente suponho que são seus tios.
Tito me abraça e me apresenta aos seus irmãos Héctor e Joaquim, que são uns amores. Eles se interessam por mim. Perguntam-me como estou na ilha e, divertidos, ficam rindo do Ogro. Eu evito dar gargalhadas dos seus comentários, porém, ao ver que Arthur ri, eu acabo rindo também.
Tito, que me conhece a mais tempo, sussurra no meu ouvido :
— Me falaram que você colocou a vida do Ogro de cabeça pra baixo e que tem feito muito bem. Parabéns, Blanco!
Isso me faz rir. Então, Héctor, olhando para as coisas que tenho sobre a bancada, comenta:
— Anselmo nos falou que irá preparar uma comida espanhola.
Assinto e olho para Arthur e ao ver que ele está rindo, tenho vontade de matá-lo, mas respondo:
— Estou!
Quando saem da cozinha, começo a tremer justo no momento que a válvula da panela de pressão começa a dar voltar. Olho para o relógio. A partir de agora, quarenta e cinto minutos.
Pico a carne, salteando, coloco água e ponho um caldo de carne como minha mãe me falou. Ponho pra cozinhar. Uma vez que tenho isso também no fogo, começa a descascar as batatas. Vou fazer três tortillas (uma panqueca típica espanhola) de batata, que eu sei fazer muito bem. Pico as batatas e deixo cozinhar com as cebolas, bato os ovos e, quando as batatas estão prontas, tiro e misturo-as com ovo e formo a massa das tortillas. Adoro como cheiram. Logo decoro-as com pimentão vermelho por cima.
Que bonita que ficaram!
Olho o relógio e grito. Rapidamente, tiro a panela de pressão do fogo e xingo ao ver que ela ficou uma hora e meia ao invés de 45 minutos.
Quando perde a pressão, abro e quase começo a chorar. Ali não tem grãos de bico nem nada. A única coisa que se pode ver é uma massa marrom que dá nojo de ver. Bato com a cabeça na parede.
Dez minutos mais tarde, já recuperada do meu fracasso com os grãos de bico, provo a carne temperada. Está dura como pedra e sem sabor.
Xingo, coloco sal e ponho de volta no fogo.
Olho para o relógio e meu estômago embrulha ao ver que em menos de uma hora terei os piores jurados na sala de jantar, a espera da minha comida.
Penso no que poderei fazer para estragar essa bagunça. Abro a geladeira e vejo o peixe. Deeeeeeus, eu tinha esquecido. Pego-o, Tenho nojo dele e xingo. A porta da cozinha se abre e vejo Arthur.
— Tudo bem por aqui, querida?
Quero lhe dizer que sim apesar de que estou a ponto de cortar meus pulsos com o garfo, mas carrancuda, murmuro desesperada:
— Sou um desastre.
Arthur sorri, entra na cozinha, se aproxima de mim e sussurra:
— É um maravilhoso desastre e por isso estou louco por você.
Beijamo-nos e, quando seus grossos lábios se separam dos meus, olha ao redor e pergunta:
— Necessita de ajuda?
Com desespero e num sussurro respondo:
— O que necessito é de um milagre, Arthur.
Meu menino sorri. Eu não.
Pisca um olho. Eu não.
Até que me pede para não me mover e sai da cozinha.
Ele se vai? Me deixa assim?
Ainda não estou acreditando, quando vejo que entra na cozinha com enormes bolsas marrons e deixa sobre a bancada.
— Não se ofenda, querida, porém imaginei que passaria por isso.
— Pois imaginou bem. – respondo — Estou pensando em preparar uns ovos fritos com batatas para eles. Isso eu sei fazer, mas creio que eles esperam algo mais.
Arthur sorri, me beija de novo e fala:
— E se te digo que o que eu trouxe nessas bolsas salvará sua reputação de mestre cuca?
Meu coração salta.
— Nesse caso... Te encho de beijos.
Quando vou olhar o que tem nas bolsas. Arthur não me deixa e cochicha:
— Isso sim, esse favor eu te cobrarei muito caro.
Fico rindo e, ao entender o que seria esse favor, afirmo carinhosa:
— Serei sua coelhinha obediente quando, como e onde quiser.
Ele morde meus lábios e pergunta:
— Tem certeza?
Hmmm... Adoro quando faz isso.
Me aproximando mais dele, afirmo e, com a voz travessa, falo:
— Te prometo, querido.
Olhamo-nos em silêncio. Pelas nossas cabeças se passam mil imagens quentes e eróticas e, finalmente, Arthur se afasta e me fala:
— Vamos... Jogaremos fora a comida que você fez que eu levarei as bolsas e depois tiraremos a comida que eu comprei e colocaremos nos recipientes.
Aplaudo. Bem!
Enquanto eu vasculho as bolsas, ele me explica rindo:
— Ontem eu perguntei a Tata o que haviam comprado no mercado: Grãos de bico, carne e peixe. Pois bem, aqui tem isso tudo e cozinhado a espanhola.
Plano A: Me ofendo.
Plano B: O encho de beijos.
Sem dúvidas o plano B.
O beijo e Arthur ri.
Uma vez que consigo me separar dele, começo a organizar o que o amor da minha vida me trouxe. A carne com tempero cheira maravilhosamente bem. Os grãos de bico cozidinhos, o melhor! E o bienmesabe... Perfeito!
— Escuta, querida – Arthur diz, lendo uma notinha — Rita disse que...
— Quem é Rita? – Pergunto com curiosidade.
— A mulher de um amigo. Ela é espanhola e cozinha num dos melhores hotéis de El Dourado. – Uma vez que explicou isso, prossegue lendo anota. — Aqui diz que tem que colocar os grãos de bico em fogo baixo durante mais ou menos quarenta minutos. E quanto à carne temperada, diz que tem que pôr depois copos de agua para esquenta-la e que retire do fogo assim que a água ferver. O peixe já veio frito, não tem que fazer nada a não ser colocá-lo numa bandeja.
Rapidamente, faço o que ele me disse, e Arthur tira os restos do desastre de comida que eu preparei. A única coisa que salva, são minhas tortilhas. Parecem magníficas e eu fico orgulhosa delas. Uma vez que tenho tudo no fogo. Arthur me entrega outra bolsa que eu não tinha aberto e dou um grito. O ponto máximo da minha felicidade é quando eu vejo um pote cheio de batatas calabresas e, em outros potezinhos, molho verde e molho vermelho.
Olho para Arthur e ele diz:
— Encomendei as batatas da sua terra faz uns dias e Rita as cozinhou. Pediu-me para que te falasse que os molhos ela mesmo fez, para não se preocupar, porque estão deliciosos. Emociono-me. Esse homem está em tudo e, soltando os potes com molhos, abraço-o e confesso:
— Você é o melhor, sabia?
Arthur sorri. Adoro quando ele sorri e, me beijando, fala:
— Eu deixaria essa comida de lado e te levaria lá pra cima para tirar a sua roupa e fazer amor. Mas creio que depois de todo esse esforço, minha família deveria desfrutar da comida. Não acha?
Eu rio e digo que sim com a cabeça.
— Estou esgotada. Acredite ou não, a cozinha me cansou.
— Agora, vamos pôr tudo em pratos bonitos e colocaremos na mesa. – Disse Arthur quando já estávamos com tudo preparado — A família espera.
Sem me preocupar, deixo que Tata e a cozinheira entre na cozinha, elas me olham boquiabertas. Coloco todos os pratos sobre a mesa e o cheiro da comida se espalha por toda a casa.
Tata, surpresa, se aproxima de mim e cochicha, olhando as batatas calabresa:
— Me deixou sem palavras. Você que fez tudo isso?
Eu rio. Não quero mentir para ela, e piscando um olho, falo:
— Arthur sim que me deixa sem palavras. Graças a ele eu consegui.

Divertida, ela move a cabeça e sorri. Sei que guardará meu segredo.

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