Peça-me o que quiser agora e sempre - 2º temp. - 64º e 65º Capítulo (Adaptada)

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Capítulo 64:

Essas palavras duras numa manhã tão bonita como é a do Dia de Reis me apertam o coração. Quanta babaquice! Sua casa. Seu sobrinho. Mas estou determinada a não chorar como uma imbecil. Recorro ao meu mau gênio e digo, enquanto junto todos os presentes do menino e os guardo na sacola:

— Muito bem. Farei um cheque pro seu sobrinho. Com certeza ele vai gostar mais.

Sei que minhas palavras e em especial meu tom de voz incomodam Arthur, mas estou disposta a incomodá-lo muito, muito mesmo.

— Disse que o quarto vazio deste andar era pra mim, não?

Arthur concorda, e eu saio. Abro a porta da sala e me deparo com Simona, Norbert e Flyn. Olho a criança e, com os presentes dele ainda em minhas mãos, digo:

— Já pode voltar. O que seu tio e eu tínhamos pra falar já falamos.

Apressada, me encaminho para o quarto e deixo cair no assoalho o skate e todos os acessórios. Com a mesma determinação, volto para a sala. Simona e Norbert desapareceram. Arthur e Flyn me olham. Meio sem jeito, digo ao menino, que me observa:

— Depois te dou um cheque. Agora, não espere que seja uma quantia tão alta como o do teu tio, pois, em primeiro lugar, não estou de acordo com dar tanto dinheiro a uma criança, e em segundo, eu não sou rica.

O menino não responde. O clima na sala de jantar está péssimo, e não serei eu a mudar. Por isso, pego o envelope que Arthur deu e o abro. Ao ver um cheque em branco, eu o devolvo.

— Obrigada, mas não. Não preciso de dinheiro. Além do mais, me dou por bem presenteada com todas as coisas que você me comprou outro dia.

Ele não responde. Me olha. Ambos me olham, e, como um furacão arrasador, aponto a árvore, disposta a encerrar o “momento Natal”.

— Vamos, garotos, continuemos esta bela manhã. Que tal lermos os desejos em nossa árvore? Talvez algum tenha se realizado.

Sei que os estou levando ao limite. Sei que faço mal, mas não me importo. Arthur e Flyn me tiraram do sério em poucos dias.

De repente, o menino grita:

— Não quero ler esses desejos idiotas!

— E por que não?

— Porque não — insiste.

Arthur me olha. Compreende que estou muito chateada e se desconcerta por não saber como me parar. Mas estou enlouquecida de raiva por estar aqui com esses dois babacas e tão longe da minha família.

— Vamos, quem é o primeiro a ler um desejo?

Ninguém fala nada. Então, comicamente, pego um papel.

— Muito bem, eu serei a primeira e lerei um de Flyn!

Tiro a fita verde e, quando estou desdobrando o papel, o menino se lança sobre mim e o pega. Olho surpresa para ele.

— Odeio Natal, odeio esta árvore e odeio esses desejos! — exclama. — Você chateou meu tio e por sua culpa o dia de hoje está sendo horrível.

Olho Arthur em busca de ajuda, mas nada, ele nem se mexe.

Quero gritar, desencadear a terceira guerra mundial na sala, mas por fim faço a única coisa que posso: agarro a droga da árvore de Natal e a arrasto para enfiá-la no quarto onde já tinha acabado de deixar o skate.

— Tudo bem, senhorita Lua? — pergunta Simona, toda atrapalhada.

Pobre mulher! Que péssimo momento está passando!

— Calma — continua antes que eu possa responder, e me segura as mãos. — O senhor, às vezes, é meio rígido com as coisas do menino. Mas age assim pelo bem dele. Não se chateie, senhorita.

Dou um beijo no seu rosto. Coitada! Enquanto subo a escada, digo:

— Não se preocupe, Simona. Está tudo bem. Vou dar uma espairecida, ou isto vai terminar pior que a Loucura esmeralda.

Sorrimos. Quando chego a meu quarto e fecho a porta, meu pescoço coça. Droga, a alergia! Me olho no espelho. Meu pescoço está todo empipocado. Merda!

Com vontade de dar o fora agora mesmo, seja como for, tiro o pijama. Me visto, coloco o casacão e tudo e volto à sala, onde os dois estão jogando Wii. Que legal!

Com grandes passadas, me aproximo e tiro o cabo do Wii, desconectando-o. A música para. Ambos me olham.

— Vou dar uma volta. Preciso dar uma volta! — Quando Arthur vai responder, digo com o dedo na cara dele: — Nem pense em me proibir. Pro seu próprio bem, nem pense nisso!

Saio da casa. Ninguém me segue.

A pobre Simona tenta me convencer a ficar, mas, sorrindo, explico que estou bem, que não se preocupe. Quando chego à grade e saio pelo pequeno portão lateral, Susto vem me fazer festinha. Caminho um pouco com ele a meu lado. Conto meus problemas, minhas frustrações, e o pobre animal me olha com seus olhos grandões como se entendesse algo.

Depois de um longo passeio, quando volto à frente da grade da casa, não tenho vontade de entrar e ligo para Sophia. Ela vem em vinte minutos. Quase já não sinto mais meus pés quando entro no seu carro. Me despeço de Susto — preciso falar com alguém que me responda, ou vou ficar doida.
 

Capítulo 65:

Quase passando mal de tão tensa que estou, bebo uma cerveja diante da cara séria de Sophia. Por minhas palavras e meu jeito irritado, ela faz uma ideia do que aconteceu.

— Calma, Lu. Vai ver, quando voltar, tudo vai estar mais tranquilo.

— Sim, claro! Claro que vai estar mais tranquilo. Não vou dizer uma palavra a nenhum dos dois. Eles se merecem. Smurf Ranzinza e Smurf Bipolar. Se um é cabeçadura, o outro é mais ainda. Mas, por Deus, como Arthur pode dar um cheque de presente de Natal a uma criança de 9 anos? E como uma criança de 9 anos pode ser um velho antes do tempo?

— Eles são assim — zomba Sophia.

Toca o celular dela. Sophia fala com alguém e, quando desliga, me diz:

— Era mamãe. Comentou que meu primo Jurgen ligou pra ela e disse que vai ter uma corrida de motocross não muito longe daqui, caso você queira ir... Vamos lá?

— Claro!

Pouco mais de meia hora depois, em um descampado cheio de neve, estamos rodeadas de motos. Eu me sinto com toda a corda, a mil. Quero saltar, correr. Mas

Sophia me freia. Assisto à corrida entusiasmada. Aplaudo como louca. No final, vamos falar com Jurgen. Ele me recebe todo animado.

— Liguei pra tia Sónia porque não tinha o seu telefone. Não queria ligar pra casa de Arthur. Sei que ele não gosta nada de motocross.

Eu o entendo. Trocamos os números de nossos celulares. Depois olho a moto.

— Como ela se sai com os pneus cheios de pregos?

Jurgen não pensa. Me entrega o capacete.

— Faça um teste.

Sophia não quer, fica preocupada que me aconteça alguma coisa. Mas insisto. Boto o capacete de Jurgen e ligo a moto.

Uau! Adrenalina.

Feliz, entro na pista gelada e dou uma volta. É uma agradável surpresa notar a aderência na neve dos pneus com pregos. Mas não abuso. Não estou com as proteções necessárias e sei que se cair vou me machucar. Quando volto, Sophia respira. Devolvo o capacete pra Jurgen:

— Obrigada. Foi muito legal.

Jurgen me apresenta a vários pilotos, e todos eles me olham surpresos.

Rapidamente todos dizem aquele negócio de “olé, touros e sangrias” ao saberem que sou espanhola. Como assim, que ideia os estrangeiros fazem dos espanhóis?

Depois da corrida, nos despedimos, e Sophia e eu vamos beber alguma coisa. Ela escolhe o lugar. Quando nos sentamos, ainda estou emocionada pela voltinha com a moto. Sei que, se Arthur ficar sabendo, vai armar o maior barraco, mas para mim tanto faz. Eu me diverti. De repente, me dou conta de como Sophia olha disfarçadamente o garçom. Esse loiro já veio várias vezes nos trazer os pedidos e, sem dúvida, é muito gentil.

— Então, Sophia, o que há entre você e o garçom bonitão? — pergunto, rindo.

Ela se surpreende.

— Nada. Por que, hein?

Certa de que minha intuição não me engana, me estico confortavelmente na cadeira.

— Primeiro: o garçom sabe seu nome, e você o dele. Segundo: pra mim perguntou que tipo de cerveja eu queria, e pra você trouxe sem perguntar nada. Terceiro, ponto de vital importância: notei como vocês se olham e sorriem.

Sophia ri. Olha de novo para ele e me diz baixinho:

— A gente se viu umas duas vezes. Daniel é muito legal. Fomos beber e...

— Hum, já vi tudo — zombo, e Sophia cai na risada.

Examino o tal de Daniel. É jovem, da minha idade, alto, bonitinho, usa óculos. Ao perceber que o olho, me sorri, mas seu olhar voa de novo para Sophia, enquanto recolhe uns copos da mesa ao lado.

— Ele gosta muito de você — cochicho.

— Estou sabendo, mas não pode ser — Sophia ri.

— E não pode ser por quê? — pergunto, curiosa.

Primeiro Sophia toma um gole da cerveja.

— Tá na cara, né? É mais jovem que eu. Daniel tem só 25 anos. É uma criança.

— Olha, ele tem a mesma idade que eu. E você, quantos?

— Vinte e nove.

A gargalhada que dou chama atenção de várias pessoas.

— E você desiste assim por quatro anos? Por favor, Sophia, tem dó. Eu achava que você fosse mais moderna e não se preocupasse com uma besteira dessas. Desde quando o amor tem idade? Não, não me diga nada. Quero que saiba que se teu irmão

fosse mais novo que eu e eu gostasse dele, nada ia me impedir. Absolutamente nada.

6 comentários:

  1. Quero ver a volta pra casa kkkk
    Posta +++++++
    Ameeii *-*

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  2. ops! o Arthur mereceu essa e ainda é pouco manda ele transar com flyn Lua kkkk que mini Arthur santo deus Lua arrasou na voltinha kkk Arthur vai pirar mais curiosa

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  3. Uau. Fabuloso este capítulo amei posta mais
    :-D

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  4. Lua arrasou saindo pra se divertir um pouco! Mais!

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