Peça-me o que quiser agora e sempre - 2º temp. - 48º e 49º Capítulo (Adaptada)

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Capítulo 48:



Logo, Norbert deixa umas bandejas sobre a mesa. Aplaudo. Lagostins, queijo e presunto ibérico. Olé! Arthur, ao ver minha reação, pega minha mão.


— Não esqueça que minha mãe é espanhola e temos muitos dos costumes que ela nos passou.


— Nossa, adoro presunto! — exclama o baixinho.

O presunto está de lamber os beiços. Santo Deus, que maravilha!

E quando trazem o pato assado, já não me aguento. Mas como não quero fazer uma desfeita, me sirvo um pouquinho, e a verdade é que está delicioso!

Também provo um queijo alemão fundido e repolho com cenoura. Me dizem que são comidas tradicionais para trazer estabilidade financeira, e como estou desempregada, fico vermelha!

O jantar transcorre tranquilamente, embora perceba que levo a conversa sozinha.

Arthur se contenta em me olhar e sorrir. Flyn tenta me evitar, mas, como tenho mais experiência, falo de jogos como de Wii ou PlayStation, e o garoto acaba entrando na conversa. Arthur sorri e sussurra:

— Você é incrível, querida.

Quando decido que não vou comer mais nada para não explodir, aparecem Simona e Norbert com a sobremesa que tem um aspecto maravilhoso. Só de ver, já dá vontade de devorar.

— Bienenstich de Simona. Delícia! — aplaude Flyn, emocionado.

Sem tirar os olhos da torta com a cara tão boa, pergunto:

— O que é isso?

— É um bolo típico alemão, senhorita — diz Norbert —, que minha Simona prepara que é uma maravilha.

— Sim, sim! É o melhor bienenstich que você vai comer na sua vida — me garante Arthur, achando graça.

A mulher, emocionada por ser o centro das atenções, em especial dos três homens da casa, sorri e se dirige a mim:

— É uma receita que minha avó passou pra minha mãe e minha mãe, pra mim. O bienenstich, ou “picada de abelha’, é feito por camadas. A de baixo é massa podre com fermento; a segunda é um recheio de açúcar, manteiga e creme de amêndoas trituradas, e a de cima é de novo massa podre com amêndoas caramelizadas.

— Mmm, que delícia! — Determinada, levanto e digo: — Como é a sobremesa, agora têm que se sentar com a gente. — Simona e Norbert se olham, e antes que possam dizer alguma coisa, lembro: — Vocês prometeram!

Arthur segue meu exemplo; se levanta, puxa uma cadeira e diz à mulher:

— Simona, tenha a gentileza de se sentar.

A mulher, quase sem respirar, senta, e junto dela, seu marido. Eu me aproximo e pergunto:

— A gente corta como se fosse uma torta, né?

Simona confirma.

— Muito bem, sou eu quem vai servir a todos este fantástico bienenstich. — Em seguida, olho o menino e peço a ele: — Flyn, poderia trazer dois pratinhos mais pra Simona e Norbert?

O menino, feliz, corre à cozinha e volta com os dois pratos. Decidida, corto cinco pedaços e os distribuo. Quando sento em minha cadeira, Arthur me olha, satisfeito.

— Vamos atacar logo antes que eu coma tudo — murmuro, provocando uma risada geral.

Entre risos e piadas, devoramos a sobremesa maravilhosa. Surpresa, observo como as pessoas à minha volta curtem o momento como algo único, e me sinto imensamente feliz. Então proponho que cantem uma canção de festa alemã, e rapidamente Norbert dispara com o tradicional O Tannenbaum.

 

O Tannenbaum, O Tannenbaum,

wie treu sind deine Blätter.

Du grünst nicht nur zur Sommerzeit,

nein auch im Winter, wenn es schneit.

O Tannenbaum, O Tannenbaum

wie grün sind deine Blätter!

 

Ouço maravilhada. Arthur, com seu sobrinho no colo, também canta essa canção tão alemã que me deixa arrepiada. Ver essas pessoas unidas pela música me lembra minha família. Com certeza, meu pai e minha irmã estarão fatiando o cordeiro, e minha sobrinha e meu cunhado rindo com as piadas. Isso me emociona, e meus olhos se enchem de lágrimas.

Quando a canção termina, aplaudo. Flyn, que entrou no meu jogo, logo pede que eu cante uma canção espanhola. Minha mente voa, e tento pensar em alguma que ele já possa ter ouvido com Sónia e começo Los peces en el río. Acerto, e o menino e Arthur me acompanham, e cantamos batendo palmas.

Pero mira cómo beben los peces en el río,

Pero mira cómo beben por ver a Dios nacido

Beben, y beben, y vuelven a beber,

Los peces en el río por ver a Dios nacer.

Desta vez, quando acabamos, são Simona e Norbert que nos aplaudem, e nós acabamos aplaudindo também.
Que momento tão bonito e familiar!


Capítulo 49:

Arthur abre uma garrafa de champanhe e enche todas as taças. Para Flyn bota suco de abacaxi. Todos brindamos a São Silvestre.

Quando Simona começa a tirar a mesa, quero ajudá-la. No começo, ela e Norbert se queixam, mas por fim desistem ao ouvir Arthur dizer:

— Simona, se Lu disse que ia te ajudar, nada vai detê-la.

A mulher se dá por vencida e eu ajudo com entusiasmo. Consigo que Norbert fique com Arthur e Flyn na sala, conversando. Quando volto para tirar os últimos pratos, Simona me sussurra:

— Não, senhorita Lua: esses pratos devem ficar sobre a mesa até de madrugada.

Na Alemanha é tradição deixar as sobras do jantar na mesa. Isso nos garante que no ano que vem teremos a despensa bem cheia.

Imediatamente solto os pratos com alegria.

— Então está bem! Tudo pela despensa cheia!

Por um instante, todos rimos, enquanto contamos piadas. Entre risos me falam de uma brincadeira tradicional chamada Bleigiessen, e surpresa ouço que se vendem kits de Bleigiessen com os significados.

O Bleigiessen é um ritual para prever ou adivinhar o futuro. Se funde um pedaço de chumbo numa colher com o fogo de uma vela. Daí se derramam gotas de chumbo derretido num recipiente com água fria, que se deixam endurecer. Em seguida cada pessoa pega uma dessas formas e, com a ajuda do kit, prevê o futuro.

— Se o chumbo tem forma de mapa — diz Flyn, alegre —, você vai viajar muito.

— Se tem forma de flor — diz Norbert —, significa que fará novos amigos.

— E se sai em forma de coração — explica Simona, sorrindo —, é porque o amor chegará logo.

Arthur está se divertindo. Vejo na cara dele, em seu jeito de sorrir. Por fim, ele se levanta e convida todos nós a sentar nas poltronas. Enquanto liga a televisão, diz:

— Lu, há outra tradição na Alemanha. É meio esquisita, mas é uma tradição.

— Mesmo? E qual é? — pergunto curiosa.

Todos sorriem, e Arthur, depois de me dar um beijo meigo na bochecha, diz:

— Os alemães, depois da ceia de Ano-Novo e antes de sair pra admirar os fogos de artifício, costumam ver um vídeo cômico, bastante antigo, em preto e branco, chamado Dinner for One. Veja, começa depois dos anúncios.

Todos concordam e se acomodam. Arthur, ao ver que estou rindo, diz:

— Não ria, moreninha. É uma tradição! Todos os canais de televisão transmitem ano após ano, no dia 31 de dezembro. Mas o mais curioso de tudo é que é um esquete em inglês, embora, em alguns canais, botem legendas em alemão.

— E é sobre o quê?

Arthur me acomoda entre seus braços e, enquanto começa o esquete, sussurra em minha orelha:

— A senhora Sophie festeja seus 90 anos em companhia de James, seu mordomo, e vários amigos que já não estão porque morreram. O engraçado é ver como o mordomo, durante a noite, se faz passar por cada um dos amigos da senhora.

De repente, para de falar porque começa a rir com o que vê na televisão. No tempo em que dura o vídeo, olho surpresa para todos. Se divertem tanto, que até Flyn desfaz sua cara fechada para rir abertamente diante das coisas que o mordomo faz.

Quando acaba o esquete, Simona vai à cozinha e volta com cinco copinhos com uvas. Olho as uvas com espanto.

— Lembre-se, minha mãe é espanhola — diz Arthur. — As uvas nunca faltaram numa noite dessas.

Emocionada, abobada e feliz com simples uvas, grito quando Arthur troca para o canal internacional que transmite direto da Puerta del Sol de Madri.

Aiii, minha Espanha!

Viva Espanha!

Me sinto mais espanhola que nunca.

Faltam quinze minutos para acabar o ano, e ver na televisão minha querida Madri faz com que me emocione. Flyn me olha surpreso, e Arthur se aproxima para dizer em minha orelha:

— Não chore, querida.

Engulo o choro e sorrio.

— Tenho de ir ao banheiro um segundinho.

Desapareço o mais rápido que posso.

Quando entro no banheiro e fecho a porta, minha boca se contrai, e choro. Mas minhas lágrimas são estranhas. Estou feliz porque sei que minha família está bem.

No final de semana não posto. Até segunda lindas

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