Peça-me o que quiser agora e sempre - 2º temp. - 40º e 41º Capítulo (Adaptada)

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Capítulo 40:


Mas não posso continuar. Arthur me beija com verdadeira devoção. Depois, quando se separa um pouco, crava seus impressionantes olhos azuis em mim.

— Divirta-se, pequena. Cumprimente sua família por mim e não esqueça que pode voltar quando quiser. Me ligue, estarei esperando sua ligação para te pegar no aeroporto. Seja o dia que for, a hora que for.

Faço um gesto de concordância, emocionada. Tenho uma vontade terrível de chorar, mas me contenho. Não devo chorar, ou vou parecer uma boboca molenga, e nunca gostei disso. Então, sorrio, beijo meu amor de novo, pisco um olho para Flyn e sigo para a porta de entrada. Depois que passo pela segurança, pego minha bolsa e minha mochila e me viro para dar adeus. Meu coração se parte ao ver que Arthur já foi embora com a criança.

Ando pelo aeroporto, olhando os painéis em busca do meu portão de embarque.

Quando o localizo, me dirijo para lá, mas, como ainda tenho uma hora de espera, decido me distrair pelas lojas. Só que minha cabeça não está onde deve, só consigo pensar em Arthur. Em meu amor. Na dor que vi em seus olhos quando me separei dele.

Isso me destroça a alma, segundo a segundo.

Exausta e abatida pela tristeza, me sento e observo as pessoas que passam.

Pessoas alegres e tristes. Pessoas com família e pessoas sozinhas. Fico assim um bom tempo, até que meu celular toca. É meu pai.

— Oi, moreninha. Onde você está, meu bem?

— No aeroporto. Esperando que abram o portão de embarque.

— A que horas chega a Madri?

Olho minha passagem.

— Teoricamente, aterrissamos às onze e às onze e meia pego o último voo pra Jerez.

— Perfeito. Vou te esperar no aeroporto daqui.

Por um momento, falamos de coisas banais.

— Você está bem, minha filha? — pergunta de repente. — Me parece meio pra baixo.

Como sou incapaz de ocultar meus sentimentos do pai que me adora tanto, respondo:

— Papai, tudo é tão complicado que... que... me sinto arrasada.

— Complicado?

— Sim, papai, muito.

— Brigou de novo com Arthur? — pergunta meu pai sem entender bem.

— Não, papai, não é nada disso.

— Então, querida, qual é o problema?

Antes de dizer algo, me convenço de que preciso contar para ele o que está acontecendo comigo.

— Papai, eu quero passar a noite de Ano-Novo com vocês. Quero ver você, Luz e a doida da Raquel, mas... mas...

O riso carinhoso de meu pai me faz sorrir mesmo sem vontade.

— Mas está apaixonada por Arthur e também quer ficar com ele, é ou não é, querida?

— Sim, papai, e isso me deixa péssima — sussurro, enquanto observo que dois funcionários se posicionam no meu portão de embarque.

— Olha, moreninha, quando eu conheci sua mãe, ela morava em Barcelona e eu, como você bem sabe, em Jerez. Te garanto então que sei o que está acontecendo com você, eu já passei por isso. Quer um conselho? Deixa teu coração te guiar.

— Mas, papai, eu...

— Quieta e me ouça, meu bem. Tanto Luz como Raquel ou eu sabemos que você nos ama. Nós vamos ter você e te amar pelo resto de nossas vidas, mas seu caminho deve começar como começou o meu e depois o de sua irmã quando se casou. Seja egoísta, minha filha. Pense no que você quer e no que deseja. E, se neste momento teu coração te pede que fique na Alemanha com Arthur, fique, ora. Aproveita! Porque se você estiver bem aí, eu ficarei mais feliz do que se você ficar ao meu lado toda jururu.

— Papai, que romântico você me saiu — soluço, comovida.

— Ei, ei, moreninha.

— Ai, papai! — desato a chorar. — Você é o melhor... o melhor...

Sua bondade preenche todo o meu ser, quando ouço:

— Você é minha filhinha e te conheço melhor que ninguém, e só quero que seja feliz. E se tua felicidade está com esse alemão que te tira do sério, benza Deus! Seja feliz e aproveite a vida. Eu sei que me ama, e você sabe que eu te amo. Onde está o problema? Tanto faz que esteja na Alemanha ou ao meu lado, se sabemos que teremos um ao outro pelo resto de nossas vidas. Porque você é minha moreninha, e isso, nem a distância, nem Arthur, nem nada, vai mudar. — Emocionada com essas palavras, choro de novo e ele continua. — Vamos, vamos, não chore. Senão fico nervoso e me sobe a pressão. E você não quer isso, não é?

Sua pergunta me arranca um riso carregado de lágrimas. Meu pai é generoso. É sensacional!

— Então, minha filha, por que não fica na Alemanha e passa uma noite de Ano-Novo alegre e feliz? Este é o começo da vida que você tinha planejado há pouco e acho que começá-la nessa época será sempre uma bela lembrança pra vocês, não acha?

— Papai, não se importa mesmo?

— Claro que não, minha vida. Então, sorria e vá procurar Arthur. Diga pra ele que mando um abraço. E, por favor, seja feliz para que eu também possa ser. Combinado?

— Combinado, papai. — E antes de desligar, acrescento: — Te ligo amanhã à noite. Te amo, papai. Te amo muito.

— Eu também te amo, moreninha.

Comovida, emocionada e com mil sensações dentro de mim, desligo o celular e enxugo as lágrimas. Durante vários minutos permaneço sentada enquanto penso no que devo fazer. Papai ou Arthur? Arthur ou papai? Por fim, quando os passageiros do meu voo começam a embarcar, agarro minha mochila e sei, com toda a clareza, aonde devo ir.

Em busca do meu amor.

Capítulo 41:

Pago com cartão o táxi que me deixa na porta da incrível mansão de Arthur. Como era de se esperar, começa a nevar de novo e minhas botas afundam na neve, mas não importa: estou congelada, mas feliz. Quando o táxi se afasta, me deixando sozinha diante da grade imponente, um ruído próximo me alerta. Olho, sobressaltada, para as latas de lixo à minha esquerda. Uns olhos brilhantes e esbugalhados me observam.

Grito.

— Merda, que susto!

Meu grito faz o pobre cachorro fugir apavorado. Acho que se assustou mais que eu.

Procuro a campainha, mas aí vejo que se acende uma luz na casinha de Simona e Norbert. Numa janela, as cortinas se mexem e logo se abre uma porta ao lado da grade.

— Senhorita Lua? Santo Deus, vai congelar!

Me viro e vejo. Norbert, vestindo um casacão escuro que vai até os pés, corre para mim.— Mas o que faz aqui com este frio? Não tinha ido pra Espanha?

— Mudei de ideia no último momento — respondo tremendo, mas sorrindo.

O homem me devolve o sorriso e me apressa, enquanto caminhamos para a portinha lateral.

— Entre, por favor. Ouvi que um carro parava, então fui olhar. Vamos, entre. Eu a levarei agora mesmo.

Atravessamos o enorme jardim o mais rapidamente que podemos. Meus dentes batem, e o homem me oferece o casacão. Não aceito. Não aceito de jeito nenhum.

Quando chegamos à casa, nos dirigimos para a porta da cozinha. Norbert pega uma chave, abre e me convida a entrar.

— Vou preparar alguma coisa quentinha. A senhorita precisa.

— Não, não, obrigada — digo, pegando-lhe as mãos frias. — Volte pra sua casa. É tarde, deve descansar.

— Mas, senhorita, eu...

— Não se preocupe, Norbert. Eu mesma faço. Agora, por favor, volte pra sua casa.

Ele concorda, contrariado, e me diz que o senhor, a essa hora, quando Flyn está dormindo, costuma ficar no escritório. Agradeço. Por fim, ele se vai.

Fico sozinha na cozinha enorme e escura. Respiro agitada. A casa está silenciosa, e isso me arrepia. Voltei. Tremo de frio, mas pensar em Arthur tão pertinho começa a me aquecer. Estou nervosa, ansiosa pela cara que vai fazer quando me vir.

Incapaz de esperar um segundo mais, me encaminho para o escritório. Ouço música. Como uma menina, colo o ouvido na porta e sorrio: a maravilhosa voz de Norah Jones canta a canção romântica Don’t know why.

Não sabia que Arthur gostava dessa cantora, mas adorei descobrir.

Abro a porta em silêncio e sorrio. Meu querido está sentado perto da lareira com um copo na mão, olhando o fogo. A música, o calor e a emoção de vê-lo me envolvem. Vou até ele.

De repente, ele vira a cabeça e me vê. Se levanta. Minha respiração se altera: seu rosto diz tudo, está surpreso!

Deixa o copo numa mesinha. Sua expressão de espanto me faz sorrir. Solto a mochila que minhas mãos congeladas ainda seguram.

— Papai te manda um abraço e espera que passemos um feliz réveillon. E como você me disse que poderia voltar quando quisesse, aqui estou! E...

Mas não posso continuar. Meu gigante alemão me abraça com verdadeiro amor e sussurra, antes de me beijar:

— Não imagina como desejei isso.

Quando separa seus lábios dos meus, sorri, sorri, sorri. Mas então seu rosto se contrai.

— Pelo amor de Deus, Lu! Você está congelada, querida. Venha pra perto do fogo.

De mãos dadas com ele, faço o que me pede. Seus olhos me observam com extrema ternura. Ainda não se recuperou da surpresa.

— Por que não me ligou? Eu teria ido te pegar.

— Queria te surpreender.

Com semblante preocupado, retira meu cabelo úmido do rosto.

— Você está congelada, querida.

— Não importa, não importa...

Me beija de novo. Está nervoso. A surpresa foi incrível, ele está totalmente desorientado.

— Já jantou?

Faço que não com a cabeça, e ele me ajuda a tirar meu casaco congelado.


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