Capítulo 10:
Não quero nem olhar.
Mas a depravada que mora em mim não resiste e, realmente,
sua contrariedade virou uma fúria total.
Pior para ele!
Aí nos avisam que em cinco minutos começará a última corrida.
A definitiva. David e eu nos levantamos, tocamos nossos punhos, e cada um se
encaminha a sua moto e seu grupo. Meu pai me entrega o capacete e os óculos e
pergunta, bem pertinho:
— Está fazendo ciúme pro teu namorado com David Guepardo?
— Papai... Eu não tenho namorado. — Ele ri, e antes que
diga qualquer coisa, acrescento: — Se você se refere a quem eu penso que se
refere, já te disse que terminamos. Acabou!
O bonachão do meu pai suspira.
— Acho que Arthur não pensa assim. Não dá a coisa por
terminada.
— Pra mim tanto faz, papai.
— Ah, você é igualzinha à teimosa da tua mãe. Igualzinha!
— Pois olha, isso me alegra — respondo, mal-humorada.
Meu pai concorda, suspira e solta, com expressão divertida:
— Ai, ai, ai, ai, moreninha! Nós gostamos das mulheres
difíceis, e você, minha querida, sai da frente. Esse teu gênio deixa qualquer um
doido! — Ri. — Eu não deixei tua mãe escapar, e Arthur não vai deixar você
escapar. Vocês são lindas e interessantes demais.
Com raiva, ajusto o capacete e boto os óculos. Não quero
falar. Acelero a moto e a levo até o grid de largada. Como nas rodadas anteriores,
me concentro e, enquanto espero a saída, piso várias vezes no acelerador. A
diferença é que agora estou irritada, muito irritada, e isto me deixa mais
louca ainda. Meu pai, que me conhece
melhor que ninguém, me faz sinais com as mãos para que eu
deixe a poeira baixar e relaxe.
A corrida começa, e sei que tenho que fazer uma boa
largada, se quero vencer.
Consigo e corro como quem viu um fantasma. Me arrisco mais
e me divirto pelos ares, adrenalina a toda, enquanto salto e vou cantando os
pneus. Com o canto do olho, vejo que David e mais um me ultrapassam pela
direita. Acelero. Consigo deixar a outra moto para trás, mas David Guepardo é
muito bom, e antes de chegar à zona das
lombadas, acelera e salta os quebra-molas que me fazem
perder tempo e quase cair.
Mas não, não caio. Aperto os dentes, e consigo manter o
controle da moto e continuo acelerando. Não gosto de perder nem no dominó.
Exijo tudo da moto. Alcanço e ultrapasso David. Mas ele me
passa de novo.
Derrapamos, e um terceiro piloto se adianta a nós dois.
Atrás dele!
Acelero ao máximo, consigo alcançá-lo e deixá-lo para
trás. Agora David salta, arrisca e me passa pela esquerda. Eu acelero. Ele
acelera. Todos aceleramos.
Quando passo pela linha de chegada e o juiz baixa a
bandeira quadriculada, levanto o braço.
Segunda!
David, primeiro.
Damos uma volta pelo circuito e saudamos a plateia toda.
Receber o aplauso e contemplar as caras felizes nos fazem sorrir. Quando paramos,
David vem até mim e me abraça. Está contente, e eu estou também. Tiramos os
capacetes, os óculos, e as pessoas aplaudem com mais força.
Sei que essa proximidade com David não está agradando a Arthur.
Sei. Mas preciso dela, e inconscientemente quero provocá-lo. Sou dona da minha
vida. Sou dona dos meus atos, e nem ele nem ninguém conseguirá me fazer mudar
de ideia.
Meu pai e todos os outros vêm para a pista nos felicitar.
Minha irmã me abraça, meu cunhado também, Fernando, minha sobrinha, Frida.
Todos gritam “campeã” como se eu houvesse ganhado um campeonato mundial. Arthur
não se aproxima, se mantém num segundo plano. Sei que espera que seja eu a me aproximar,
que vá até ele, como sempre. Mas não. Desta vez, não. Como diz nossa canção,
“somos polos opostos”, e, se ele é cabeça-dura, quero que entenda de uma vez
por todas que eu sou mais ainda.
Quando, no pódio, nos dizem o quanto de dinheiro se
arrecadou para os presentes das crianças, fico louca de alegria.
Que bolada!
Instintivamente sei que grande parte desse dinheiro foi Arthur
quem doou. Sei. Ninguém precisa me dizer.
Encantada, sorrio, ao ouvir a quantia. Todos aplaudem,
inclusive Arthur. Seu rosto está mais relaxado, e vejo orgulho em sua
expressão, quando levanto minha taça. Isto me comove e agita meu coração. Em
outro momento, teria piscado um olho para ele e teria dito “te amo” com o
olhar. Mas agora não. Agora não.
Quando desço do pódio, faço mil fotos com David e com todo
mundo. Meia hora depois, as pessoas se dispersam e nós, os pilotos, começamos a
juntar nossas coisas.
David, antes de ir embora, vem falar comigo e me lembra
que estará em sua cidadezinha até o dia 6 de janeiro. Prometo ligar para ele. Quando
saio do vestuário com meu macacão na mão, me agarram pelo braço e me puxam. É Arthur.
Durante uns segundos, nos olhamos.
Oh, Deus! Oh, Deusssssssss! Seu rosto tão sério me deixa
louca.
Suas pupilas se dilatam. Ele me diz com o olhar o quanto
precisa de mim e, ao ver que não respondo, me puxa para ele. Quando me tem
perto de sua boca, murmura:
— Tô morrendo de vontade de te beijar.
Não diz mais nada.
Me beija, e uns desconhecidos que estão por perto
aplaudem, encantados com tanta paixão. Durante uns segundos, deixo que Arthur invada
minha boca. Uauuu! Curto loucamente. Quando se separa de mim, Iceman comenta
com voz rouca, me olhando nos olhos:
— Isto é como nas corridas, querida: quem não arrisca não
petisca.
Tem razão.
Mas deixando-o totalmente confuso, respondo, consciente do
que digo:
— Realmente, senhor Aguiar. O problema é que o senhor já
arriscou e me perdeu.
Seu olhar endurece de imediato.
Me afasto dele, dando-lhe um empurrão, e caminho para o
carro de meu cunhado.
Arthur não me segue. Intuo que ficou sem saber o que
fazer, enquanto sei que me observa.
Capítulo 11:
À tarde, quando chego a Jerez, meu celular não para de
tocar.
Estou quase o arrebentando contra a parede.
Arthur quer falar comigo.
Desligo o celular. Liga para o telefone de meu pai. Mas me
recuso a atender.
No domingo, quando me levanto, minha irmã está plantada
diante da tevê vendo a novela mexicana que adora, Sou tua dona. Cafonice pouca
é bobagem!
Na cozinha, vejo um lindo buquê de rosas vermelhas de
talos longos. Solto um palavrão. Dá para imaginar quem o mandou.
— Fofinha, olha que beleza que te mandaram! — diz Raquel,
atrás de mim.
Sem precisar perguntar quem mandou, agarro o buquê e jogo
direto no lixo. Minha irmã grita como uma possessa.
— O que é isso?!
— O que você tá vendo.
Rapidamente, tira as rosas do lixo.
— Pelo amor de Deus! É um sacrilégio botar fora. Deve ter
custado uma fortuna.
— Não tô nem aí! Se fossem do mercadinho da esquina o
efeito seria o mesmo.
Não quero olhar minha irmã botar de novo as rosas no vaso.
— Não vai ler o cartão? — insiste.
— Não, e nem você — respondo, e o arranco das mãos dela e
jogo no lixo.
De repente, aparecem meu cunhado e meu pai, e nos olham.
Minha irmã impede que eu chegue perto das rosas de novo.
— Dá para acreditar numa coisa dessas? Quer atirar estas
maravilhas no lixo.
— Acredito, sim — afirma meu pai.
José sorri e, aproximando-se da minha irmã, lhe dá um
beijo no pescoço.
— Ainda bem que você está aqui pra resgatá-las, pombinha.
Não respondo.
Não olho para eles.
Deus me livre de ficar ouvindo isso de “pombinha” e
“pombinho”. Como podem ser tão bobocas?
Esquento um café no micro-ondas, tomo e ouço que batem na
porta. Que saco. Me levanto, pronta para fugir se for Arthur. Meu pai, ao ver
minha cara, vai abrir. Dois segundos depois, brincalhão, entra sozinho e deixa
algo sobre a mesa.
— Isto é pra você, moreninha.
Todos me olham, à espera de que abra a enorme caixa branca
e dourada. Por fim, me arrasto e a abro. Quando levanto a embalagem, minha
sobrinha, que entra nesse momento na cozinha, exclama:
— Um estádio de futebol de chocolate! Que legaaaallllll!
— Acho que alguém quer adoçar tua vida, querida — brinca
meu pai.
Boquiaberta, olho o enorme campo de futebol. Não falta um
detalhe. Até arquibancada e público tem. E no marcador se lê “te amo” em
alemão: Ich liebe dich.
Meu coração bate descontrolado.
Não estou acostumada a estas coisas e não sei o que dizer.
Arthur me desconcerta, me deixa louca! Mas, no final,
resmungo, e minha irmã rapidamente se coloca a meu lado.
— Não vai jogar fora, não é mesmo? — diz.
— Acho que sim — respondo.
Minha sobrinha se mete no meio e levanta um dedo.
— Tiiiiiaaaaa, não pode jogar fora!
— E por que não? — pergunto, chateada.
— Porque é um presente muito bonito do titio e nós temos
que comer. — Sorrio ao ver sua expressão malandrinha, mas meu sorriso se apaga
quando ela acrescenta: — Além do mais, tem que perdoá-lo. Ele merece. É muito
bom e merece.
— Merece?
Luz faz um gesto afirmativo com a cabeça.
— Quando eu briguei com Alicia por causa do filme e ela me
chamou de boba, fiquei muito chateada, não foi? — me lembra minha sobrinha, e
eu concordo. — Ela me pediu desculpa, e você disse que devia pensar se minha
mágoa era tão importante assim pra fazer perder minha melhor amiga. Pois agora,
tia, eu digo a mesma coisa. Você tá tão chateada assim, que não pode perdoar o
tio Arthur?
Continuo olhando boquiaberta o projeto de gente que me
disse isso, quando meu pai intervém:
— Moreninha, somos escravos de nossas palavras.
— Com certeza, papai, e Arthur também é — digo ao lembrar
as coisas que ele me disse.
Minha sobrinha me olha, à espera de uma resposta.
Pestaneja como uma ursinha. É uma criança, não devo esquecer. Por isso, com a
pouca paciência que ainda me resta, murmuro:
— Luz, se você quer, pode comer todo o campo de futebol.
Te dou de presente, tá bem?
— Eba! — aplaude a menina.
Ahhh que saudades eu estava *--*
ResponderExcluirahm que fofo Arthur kkkkk mesmo com esses momentos brutos ele é perfeito ♥♥♥♥
adoreeeiii Jess
Já tava com saudades.... Perfeito de maisss... Arthur sendo fofo!!! Posta maisss.
ResponderExcluirOwnnn't, que mimos lindos !!
ResponderExcluirA Lua não desiste ein ? Mds
Posta ++++++++
Ameeii *-*
Esta perfeito, rola mais um hoje? 👍💟
ResponderExcluirPosta maiss +++++
ResponderExcluirMais!
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