Com toda a dor refletida nos meus olhos, murmuro, tocando a maldita
chave que
segue pendurada no meu pescoço:
— Porque ele se foi para sempre.
Naquele instante, Rançoso, que viu tudo em silêncio, se aproxima de
nós e levantando a voz, diz:
— Lua, eu disse que era proibido relações entre os trabalhadores do
navio. Você se lembra? – Eu não respondo, eu me recuso a fazê-lo, e ele
continua:
— Desnecessário dizer que você está despedida.
Porra... Porra... Porra... Já não bastava o que tinha acontecido agora
ainda o Rançoso!
— O que?!
Com um sorriso triunfante, meu chefe responde:
— Eu já suspeitava há algum tempo, mas eu nunca os peguei, até hoje,
assim como viram todos os seus colegas. – E apontando para a porta por onde Arthur
saiu, acrescenta: — O homem que acabou de sair, o senhor Arthur Aguiar, pode se
permitir flertar com uma garçonete como você. Certamente você não é a primeira
com quem ele faz isso.
Se eu reagisse lhe arrancaria os olhos, e Rançoso continua:
— Agora, ele se foi e em seguida você vai também. Com a diferença de
que ele o fizera pela porta da frente e você vai pela porta dos fundos.
— Você é uma pessoa ruim. – rosna Coral.
Rançoso a olha... Eu pego a mão da minha amiga para acalmá-la e ele
sorri.
— Você é um demônio. E eu espero que algum dia alguém te coloque em
seu lugar. – digo furiosa.
Minhas palavras não lhe abalam em nada, e acrescenta:
— Faça o favor de passar no meu escritório para assinar a liberação.
Você desembarcará em Genova e você pagará sua passagem de volta para a Espanha.
— Mas o que você está dizendo, homem? – grita Coral descomposto.
Por vários minutos, ficam envolvidos em uma discussão acirrada em que
minha amiga mostra todo o seu gênio e o coloca no seu devido lugar. E eu,
determinada a não ser deixada para trás, intervenho também.
Não há dúvida de que nós duas acabamos de começar o plano B.
Rançoso fica cego de raiva. Tem a sua frente duas feras que estão
discutindo tudo na frente de todos. Finalmente, Coral tira o avental e o chapéu
e, jogando-os em sua cara, conclui:
— Aliás, eu também vou, seu idiota!
Não há como voltar atrás.
Quando Rançoso sai, vários trabalhadores nos cercam, mas não sabem o
que dizer disso. Nestor, Gina e seus companheiros que nos estimam se
desesperam. Encontrar um emprego está muito difícil e odeiam não serem capazes
de serem solidários connosco. Durante as horas seguintes nos despedimos de
todos os colegas. Os da orquestra se chateiam muito.
Tomás me abraça e me oferece dinheiro para o caso de eu precisar.
Agradeço de todo o coração, mas não aceito. Graças à Deus, com o que tenho acho
que posso viver até chegar a Tenerife.
Com o canto do meu olho, vejo Coral dizer adeus a seu argentino e
tranquilizo-me ao ver que ela sorri. Não está apaixonada como eu. Minha amiga é
sagaz, eu não. Enquanto Coral acaba de se despedir, olho o mar. Eu pego o
pingente que Arthur me deu e o guardo no bolso do jeans.
Assim que saímos do navio, colocamos nossos chapéus e Coral propõe:
— Que tal se formos comer uma boa pizza enquanto pensamos qual será
nosso plano B?
— Parece uma ótima idéia.
Mas a excelente ideia é arruinada quando, depois do almoço e vários
limoncellos (Licor à base de limão, álcool, água e açúcar; deve ser mantido no
congelador e, consequentemente, bebido bem gelado.), dois enorme italianos com
cara de bravos nos roubam em um beco e ficamos em Genova, somente com a roupa
do corpo. Adeus carteiras. Adeus malas. Adeus celulares.
Nos olhamos desesperadas até que começo a rir e Coral também. Quando conseguimos
parar de rir, procuramos uma delegacia para relatar o que aconteceu e, enquanto
esperamos a nossa vez, penso em Arthur. Se tentar entrar em contato comigo não conseguirá.
Me dá agonia e me lembro de ter colocado a chave no bolso. Pego e
sorrio ao vê-la.
Mas meu sorriso se apaga ao lembrar que ele se foi e leio na chave:
"Para sempre".
Ele realmente foi embora para sempre?
Quando chega a nossa vez, preenchemos como podemos os formulários de
denúncia e tentamos compreender os policiais. Eles me perguntam se eu quero
ligar para minha família.
Penso em meus pais. Eles não se agradariam em saber o que aconteceu e
então eu me lembro de Francesco. Sei onde ele trabalha, e a polícia, muito
gentilmente me ajuda a localizálo em Portofino. Dez minutos mais tarde entramos
em contato com ele, e, rapidamente, ao saber do que aconteceu, diz que virá nos
buscar na delegacia.
Uma hora depois vejo-o aparecer. Ainda tão bonito como antes,
vendo-me, sorri e nos abraçamos. Eu o apresento a Coral e vamos os três até seu
carro.
Esta noite ficamos em sua casa. Quando eu vou para a cama ao lado de Coral,
vejo que ela adormece em dois minutos.
Que sortuda!
Eu não posso. Penso em Arthur e me desespero quando percebo o quanto
vai me custar esquecê-lo.
No dia seguinte, Francesco nos empresta dinheiro.
Nós falamos com nossa empresa de telefonia celular e, felizmente,
recuperamos nossos números. Então compramos novos celulares e a primeira coisa
que faço é ver se tenho chamadas perdidas ou mensagens de Arthur. Nada. Não tem
nada. Isso me entristece. Mas ter um novo celular me tranquiliza para o caso
dele me ligar.
Então vamos comprar algumas roupas e Francesco insiste em dar-nos dois
belos vestidos com sapatos combinando.
Essa tarde, convence-nos para que fiquemos alguns dias em sua casa.
Coral aceita. Eu fico relutante, ao final cedo. A verdade é que não temos nada melhor
para fazer, exceto regressar à Espanha e procurar trabalho.
À noite, Francesco nos leva à pizzaria de um amigo e colocamos os
vestidos que ele nos deu. Apresenta-nos a seus amigos, e por horas, desfrutamos
de boa companhia. Francesco também nos apresenta a sua namorada, uma bela
italiana chamada Giulia e não fico surpresa quando, durante o jantar, ela
sussurra para mim que sabe que Francesco me conheceu em Tenerife e pisca para
mim. Isso me faz saber que os dois são muito íntimos e sorrio.
Depois do jantar, saimos para beber. Coral geme e murmura, olhando
para o amigo de Francesco.
— Minha mãe, como é um pacotinho!
Eu começo a rir, porque o homem, muito legal e elegante, realmente
está marcando pacote.
— Ele chama-se Giacomo. – Eu corrijo.
— Giacomo, o pacotinho. – diz Coral. Volto a rir.
Durante horas, todos nos divertimos, bem, todos exceto eu. No entanto,
eu tento
sorrir e danço com Francesco, Sandro, Philipo e inclusive Giacomo o
pacotinho, mas interiomente estou despedaçada. Arthur não liga. Não dá sinal de
vida e eu não consigo parar de pensar nele.
Eu não vou ligar. Nem louca.
Se passam quatro dias e eu não recebo nenhuma notícia dele. Nem mesmo
uma
mensagem. Não sente minha falta. É claro que a separação foi o que foi
e a raiva me consome por dentro. Estou passando de pena para raiva. Enquanto
tomo banho, escuto o rádio e choramingo enquanto canto:
Te besaré,
como nadie en este mundo te besó.
Te amaré con
el cuerpo y con la mente, con la piel y el corazón.
Vuelve
pronto, te esperamos
mi soledad y
yo...
Lágrimas deslizam aos montes por meu rosto e soluços dolorosos rasgam
minha alma, enquanto eu canto essa música do meu amado Alejandro Sanz.
Finalmente, me permito chorar como desejo. Permito-me chorar de saudade.
Recordo o que Arthur comentou sobre o que dizia sua mãe. Aquilo de que
quando alguém está feliz escuta a música e quando está ferido ou desesperado
entende a letra.
Como ela estava certa!
Eu, até esse momento, sempre que escutava música, eu cantava, dançava.
Desfrutando e sentindo. Mas agora que eu tenho um coração partido, a
compreendo, e cada canção que eu ouço parece escrita para mim.
O desgosto é uma merda. Faz-te fraco, te nubla a razão e te deixa sem
forças. Nunca devia ter me apaixonado. Nunca devia ter me deixado levar pela
paixão. Definitivamente, tinha que ter feito como minha amiga e blindado meu
coração.
É verdade que nada é para sempre. Tal como iogurtes.
No dia seguinte, Francesco, que me conhece melhor do que eu sabia,
depois de comermos em sua casa, pega-me pela cintura e afastando-se de sua
namorada e Coral, me leva para a varanda e pergunta:
— O que te aconteceu?
— Nada.
Meu italiano sorri e, se aproximando de mim, sussurra:
— Lua... Lua, sabe que seu nariz acaba de crescer alguns centímetros?
Sorrio, divertindo-me com seu comentário, e depois de ofegar,
respondo, tocando carinhosamente a chave que levo de novo no pescoço.
— Eu estou apaixonada por um homem que mentiu para mim e me dei conta
de que não sente nada por mim. Feliz?
— Tinha imaginado que era dor de amor – ele responde — mas eu queria
que você me confirmasse. E ele está no barco que abandonaste?
Nego com a cabeça, não querendo dizer quem é Arthur.
Meu amigo olha para mim esperando que eu diga mais alguma coisa, mas
não vou dizer. Eu não quero falar sobre Arthur e, finalmente, abraçando-me,
Francesco diz:
— Ouça, Lua. Não sei quem é o homem que quebrou seu coração, mas se
não
voltar, é porque é bobo. E agora, dito isso, quero que você sorria.
Quero que fique bem. Eu quero ver a loucura sensual que me enfeitiçou em
Tenerife e...
Eu tampo sua boca e, olhando em seus olhos, sussurro:
—Não. Agora eu não posso.
Depois de um momento que sei que Francesco tira as suas próprias
conclusões, eu o vejo assentir e, depois de me dar um doce beijo na ponta do
nariz, responde:
— Se tivesse me ouvido saberia que o amor é uma merda, Lua. Desculpe
não ter te preparado para isso.
Isso me faz rir. Mais um igual a Coral.
Lembro que ele me disse que tinha sofrido por amor e me dou conta de
que, para os humanos, esse sentimento que nos faz flutuar nos afunda. E por
suas palavras, concluo que Francesco está afundado. Quando vou dizer algo,
Giulia se aproxima de nós. Por seu olhar malicioso sei o que busca, o que ela
quer, mas ele, tomando-a pela cintura, beija o pescoço dela e sussurra:
— Outra hora, querida.
Giulia assente. Com essas palavras simples, nós três nos entendemos e
voltamos para perto de Coral, que está na cozinha preparando um bolo
maravilhoso para todos.
Ai que saudade dessa web
ResponderExcluirSimplesmente amando *-* sempre fica melhor de qualquer jeito
Postar ++
Já estava com saudades !!! Arthur volta logo !!
ResponderExcluirMeu Deus que saudade dessa web :-D
ResponderExcluirArthur baby te quero de volta logo... Tadinha da Lu
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Tava morrendo de saudades dessa web ! Posta mais por favor ?!
ResponderExcluirEu amo essa web... Fica muito tempo sem postar não é muito menos excluía eu daria um infarto kkk
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