De repente, eu percebo que eu sou invisível para eles. Discutem tanto
em Inglês como Espanhol e, apesar de eu entender ambas as línguas, custo
raciocinar perante seus gritos exaltados, até que ouço Omar dizer:
— Você acha que não iria te encontrar?
— Vai a merda, Omar... Eu lhe disse para me deixar em paz.
Eu franzo a testa. Se conhecem?
Mas ei, o que é isso de que já se conhecem?!
— Eu não lhe disse. – diz Tony. — E nem Tito. Eu prometo a você, Arthur.
Meu bombom, de aspecto selvagem e limpando o sangue em seu lábio,
responde com cara de poucos amigos:
— Eu acredito em você, Tony, não se preocupe. Mas faça-me um favor, eu
preciso que desapareçam da minha vista o quanto antes. Especialmente ele.
Omar solta uma gargalhada e murmura:
— Você está sendo idiota, Arthur.
Meu Deus, o chamou de idiota?
Eu não sei o que fazer.
Alguém me explica o que está acontecendo aqui!
Tony, que tinha até agora se mantido calmo, dá um passo a frente e
diz:
Se alguém aqui pode faze-lo voltar para casa, esse é Tito. Você, Omar,
claro que não.
Arthur solta um palavrão dos mais desagradáveis, que falta o ar.
Eu olho para ele. Ele não parece me ver e, olhando para Tito, grita,
levantando um dedo:
— Eu já disse mil vezes que eu não vou voltar para casa.
— Seu pai e todos os outros precisam de você, Arthur.
Como?! Conhecem seu pai?!
Eu vou dizer alguma coisa, mas as palavras me escapam.
Cada vez estou mais confusa. Preciso que alguém me esclareça o que
está acontecendo.
Meu índice de aborrecimento está chegando ao topo e eu pareço estar vivendo
uma novela, dessas como as que minha avó Nira seria a mulher mais feliz do
mundo assistindo.
Sei menos ainda o que pensar quando Tito diz:
— Isso tem que ser resolvido de uma vez por todas, pessoal. Levamos
esta situação há quase dois anos. Se continuar assim, vai matar o pai de vocês.
Pai deles?
Será que disse pai deles?
— Com o pai falo ao telefone umas duas vezes por mês, Tito. – Arthur
rosna e ao ouvi-lo, Omar remove o lenço que tem no nariz ensanguentado e
assobia:
— Papai foi quem pediu que te levássemos de volta para casa, idiota!
Vamos lá... Vamos lá... Vamos me dar algo!
— Você não fala comigo, Omar... – Grita Arthur, com raiva.
O outro dá um pontapé em uma mesa de plástico, que disparou para o
outro lado do convés e finalmente assobia:
— Sentimos sua falta, é por isso que estamos aqui.
— Eu disse para você não falar comigo! – Arthur grita.
Vendo que meu bombom se lança sobre ele de novo, tento segurá-lo e,
nesse momento Tony diz alterado:
— Quando é que você vai parar com isso?! – E, olhando para eles, ele
acrescenta: — Eu tenho vergonha
de vocês dois. Somos irmãos. Nós três somos irmãos, caramba!
Oh, Deus! Eu fico enjoada. Eu acho que vou cair a qualquer minuto.
Solto Arthur e sento em uma rede ou eu juro por meu pai que eu vou
desmaiar. Ele, pela primeira vez está ciente de que estou aqui me interando de
tudo, esclarece:
— Meio Irmãos.
Silêncio.
Não há nenhum som exceto a brisa do mar. Arthur e eu nos olhamos sem
falar e depois ouço
Tito dizer:
— Se minha irmã Luisa ouvisse isso, morreria de tristeza.
Luisa. Esse era o nome da mãe de Arthur. Então Tito é tio de todos?
Não é o amante de Tony?
Cada vez mais perplexa e espantada, eu mal posso respirar. Isto é
surreal, mas Tito continua:
— O que aconteceu com vocês? Os Aguiar eram um exemplo de família,
irmãos, de união.
Será que as suas diferenças são tão irreconciliáveis que...?
— Sim. – Arthur grita com raiva.
Então Omar levanta-se e apontando para ele, sussurra:
— Você é um rancoroso, como o pai, e...
Ele não pode terminar a frase, pois Arthur joga-se de volta contra ele
e, tomando-o pelo peito, murmura totalmente fora de si:
— Cala a boca, idiota.
Eu tremo.
Oh, Deus... Oh Deus... Cada vez eu entendo menos.
No entanto, esquecendo de mim, eu saio da rede e ajudo Tony e Tito a
separá-los.
Não há tempo para desmaiar.
Arthur me assusta. Ele parece completamente desconexo e quero que se
acalme. Preciso que ele se acalme.
No final, Tito leva Omar aos tropeções para fora e só restaram Tony, Arthur
e eu, e incapaz de manter o silêncio, pergunto com um fio de voz:
— São seus irmãos?
— Meio irmãos. – Arthur insiste.
— Irmãos de toda uma vida. Corta essa, Arthur, porra! Rosna Tony.
Estou impressionada. Assustada. Atordoada...
Arthur levanta-se e, sem me permitir que o siga, sai deixando-me sem
saber o que fazer.
Quando eu fico a sós com Tony, eu olho e sussurro:
— Agora mesmo você vai me dizer o que aconteceu aqui.
Ele se senta em uma cadeira. Leva as mãos à cabeça e encolhe os
ombros. Dá-me muita pena e corro para abraçá-lo quando ele começa a chorar.
Ficamos assim por alguns minutos até eu conseguir que se acalme um pouco, e
então ele diz:
— Minha mãe, Rosa, morreu quando eu nasci. Omar tinha dois anos.
Alguns meses depois, Luisa apareceu em nossas vidas. Meu pai e ela se apaixonaram
e se casaram. Quando Omar tinha quatro anos e eu dois, Arthur nasceu. Nós
sempre fomos uma família unida, porque a mãe era o elo entre todos, apesar de
suas separações com o pai e suas muitas viagens. E o dia que ela morreu... Tudo
desabou. Mamãe era... – Ele se emociona e murmura: — Ela insistiu na cirurgia,
mas algo deu errado com a anestesia e...
— Sinto muito, Tony. – Digo, tocando seu braço e para que não siga
falando.
Ele, enxugando as lágrimas, olha para mim e acrescenta:
— Arthur... É médico.
— O que?!
— Cirurgião.
— Cirurgião?
— Especificamente, cirurgião cardíaco.
Vendo a minha confusão, Tony balança a cabeça e continua:
— O homem que você conheceu trabalhando na manutenção deste barco,
pintando grades ou consertando chuveiros ou calhas ou lâmpadas é o Dr. Arthur
Aguiar. Um dos cirurgiões cardíacos de maior renome de Los Angeles. Arthur estava
ausente quando a mãe decidiu adiantar sua operação e Omar o culpou de sua morte
por não estar lá naquele dia. E eu sei que Arthur também se sente culpado por
isso.
Depois de um silêncio em que eu processo toda essa informação como eu
posso, Tony acrescenta:
— Desesperado pela morte da mãe, meu irmão deixou tudo e desapareceu.
Eu encontrei-o há um ano em um navio na Antártida e ele se recusou a voltar.
Mas meu pai ficou mais velho e todos precisamos que volte para casa para
recuperar a normalidade em nossas vidas. Arthur não deve sentir-se culpado por
algo que ele não tinha nada para fazer. Omar sabe disso também, mas eles são
tão iguais que são incapazes de falar e resolver o mal-entendido.
Assinto enquanto sinto
que estou branca como um lençol.
Comentem :)
Nossa o Arthur é médico, posta mais +++++
ResponderExcluirWeb muito top +++ por favor to com saudades dessa web vc não ta postando mas ?! :(
ResponderExcluirCaraca... Maais
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