Peça-me o que quiser (Adaptada)- Capítulos 164 e 165

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Capitulo 164:

Na sexta-feira, Arthur me convida para jantar num restaurante maravilhoso. Marcamos a data de nossa mudança e decidimos que será em meados de janeiro. Meu apartamentinho é próprio. Quando me mudei para Madri, meu pai me ajudou a comprá-lo e, depois de conversarmos, decido não vender nem alugar. É um apartamento que sempre terei quando quiser visitar Madri.
Nessa noite, apesar da felicidade que noto em Arthur, percebo que ele está com dor de cabeça. Eu o vi tomar dois comprimidos. Mas não quer falar disso. Ele se recusa. Só quer conversar sobre nós dois e nosso futuro na Alemanha.
Após o jantar, ao sairmos do restaurante, encontramos na rua uns amigos dele. Um casal. Nós os cumprimentamos e, um tempo depois, Arthur me pergunta:
— O que acha de eu chamar Víctor pro hotel pra brincarmos nós três?
Meu coração bate com força e faço que sim com a cabeça. Arthur sorri.
— Vou falar com ele. Tenho certeza de que vai aceitar.
Arthur e Víctor se afastam um pouco de mim e da garota que está com ele. Chama-se Loli e é muito simpática. Nós duas conversamos, enquanto observo os dois homens. De repente o celular de Arthur toca, ele atende e logo para de sorrir. Em seguida diz:
— Vamos.
Víctor e Loli ficam onde estavam e eu os vejo entrarem no restaurante. O que será que houve?
No caminho de volta, Arthur está mais calado que o normal. Tento puxar conversa, fazer alguma piada, mas ele não quer saber de nada. Decido não insistir. Quando ele fica assim, é melhor deixar pra lá.
Já no hotel, Arthur pede que nos tragam uma garrafa de champanhe. Tiro os sapatos e me sento na beira da cama. Estou com vontade de participar dos seus joguinhos. A proposta de Arthur me deixou muito excitada.
Arthur tira o blazer, pendura no cabideiro e olha para mim. Alguém bate na porta e meu coração dispara. Mas a ansiedade diminui quando vejo entrar o garçom com duas taças e a garrafa de champanhe.
Assim que ficamos a sós, Arthur abre a garrafa, serve a bebida, me dá uma das taças e murmura num tom frio e distante:
— Minha proposta te deixou ansiosa, né?
Penso numa resposta. Poderia mentir, mas não quero.
— Deixou.
Arthur balança a cabeça num gesto afirmativo, toma um gole e pergunta:
— Você gosta muito que eu te ofereça a outros homens, né?
— Arthur!
— Responde, Lu.
Respiro fundo e digo:
— Sim, gosto.
Senta-se ao meu lado e toca meu joelho com delicadeza.
— Também gosto muito disso e espero te oferecer a outros.
— Outros?
— É... outros. Faço muitos jogos e tenho certeza de que você vai querer continuar jogando, né?
Calor... calor... e mais calor... já começo a sentir calor!
Arthur repõe o champanhe na taça e me desperta da minha fantasia.
— Você gostaria de brincar com uma mulher outra vez?
Surpresa, encolho os ombros.
— Não.
— Tem certeza? — insiste.
Sua insistência me inquieta. Quando vou dizer algo, ele me segura pelo braço e me olha nos olhos.
— Por que não me contou que você e Marisa se conheciam?
Isso me pega totalmente de surpresa.
— O quê?!
— Quero saber quando você costuma encontrar Marisa.
— Não costumo encontrá-la.
Com o olhar encoberto pela fúria, Arthur murmura:
— Não mente pra mim, droga.
— Não estou mentindo. Ela frequenta minha academia e já nos vimos ali duas vezes.
Só isso.
Nesse instante, sinto que devo lhe contar o que estou omitindo há tanto tempo, mas antes que eu diga qualquer coisa Arthur explode.
— Porra, Lua! Não suporto mentira. Por que você não me disse que já se conheciam quando ela veio outro dia ao hotel?
— Não... não sei... eu...
Fora de controle, Arthur se afasta.
— É melhor você ir embora, Lua. Estou bastante chateado e não quero falar mais.
— Mas eu quero falar contigo e não quero deixar as coisas pela metade, como a gente sempre faz quando você fica chateado.
— Lu... — ele diz, grunhindo.
— Arthur, a gente tem que conversar! Não adianta nada deixar as coisas desse jeito. Você não percebe?
Ele segura a cabeça. Esse gesto me faz ver que não está bem. Arthur abre a nécessaire e toma outros dois comprimidos. Fico preocupada. Não quero vê-lo sofrer. Sai do quarto e me deixa sozinha. Me sento na cama, calço os sapatos e, sem dizer mais nada, saio também. Ele está na varanda, olhando o horizonte. Vou até ele.
— Está com dor de cabeça?
— Estou.
— Você quer mesmo que eu vá embora?
— Quero.
— Arthur, querido, não sei o que te contaram, mas é uma bobagem, acredita em mim.
— Vou pedir pro Tomás te levar pra casa.
— Não.
— Sim. Ele vai te levar. Tchau, Lu. Até amanhã.
Não olha para mim. Não se move e, no fim das contas, eu me dou por vencida. Me viro e vou embora, com o coração apertado.


Capítulo 165:

Escuto um barulho. Tenho um sobressalto. É o telefone.
Pulo da cama. Olho as horas. Cinco e vinte e oito.
Assustada, corro para atender. Se alguém está ligando a essa hora, não deve ser nada bom.
— Alô.
— Fofinha... sou eu.
Minha irmã?
Vou matá-la... Matá-la! Mas me assusto ao escutá-la chorando.
— O que houve? O que você tem?
— Estou mal... muito mal. Discuti com José, ele saiu de casa às nove da noite e olha só que horas são e ele ainda não voltou...
Chora... e chora e chora e eu tento acalmá-la.
— Onde a Luz está?
— Dormindo na casa de uma amiguinha. Por favor, preciso que você venha pra cá.
— Tá bom... estou indo.
Desligo e solto o ar bufando. Minha irmã e seus ataques histéricos... Pelo menos é sábado e não tenho que trabalhar. Penso em Arthur. Devo ligar para ele? Talvez esteja acordado, mas no fim decido não incomodar. Do jeito que ele é, ainda deve estar chateado pelo que aconteceu ontem. Escovo os dentes depressa, lavo o rosto, visto uma calça jeans, uma camiseta e um casaco. Está friozinho.
Desço para a rua e pego o carro. Minha irmã não mora longe, mas a essa hora não quero ir caminhando. Ligo o rádio e vou cantarolando enquanto dirijo. Vejo uma vaga para estacionar bem em frente ao
portão da minha irmã. Paro, dou marcha à ré e, quando olho pelo retrovisor, fico sem ar ao ver que um carro se aproxima em alta velocidade e termina batendo no meu.
Burburinho... burburinho... ouço um burburinho.
Não consigo abrir os olhos. Estão pesados. Não sei onde estou nem o que está acontecendo. Então me lembro de um carro se chocando contra o meu e me dou conta de que sofri um acidente. Sirenes. O ruído das sirenes me faz abrir os olhos de repente e me vejo numa ambulância com dois homens me olhando, com gazes ensanguentadas nas mãos.
— A senhorita está bem?
— Sim... não... não sei.
— Como se chama?
— Lua.
— Bem, Lua, não se assuste. Uns garotos bêbados bateram no seu carro. Vamos levá-la ao hospital pra ver se está tudo bem.
— Esse sangue é meu?
Um dos jovens enfermeiros confirma:
— Não se assuste, mas é.
— Mas é sangue? De onde?
— Do lábio e do nariz. O airbag do seu carro não funcionou e você foi imprensada contra o volante, mas não se preocupe, não é nada grave.
De repente, escuto uns gritos que identifico de imediato. Minha irmã! Tento me levantar para que ela me veja e saiba que estou bem, mas não consigo. Meu pescoço dói horrores.
— Por favor, é minha irmã que está gritando. Vocês podem deixar ela me ver pra ficar mais calma?
O rapaz diz que sim e sorri.
— Claro. Se a senhora quiser, ela pode ir na ambulância.
Segundos depois, vejo minha irmã aparecer com seu roupão azul de algodão. Está pálida. Ao me ver, seus gritos se transformam em gemidos de terror.
— Ai, meu Deus...! Ai, meu Deus! Fofinha... o que foi que houve? Você está bem? Tudo por minha culpa, minha culpa! Eu te pedi pra vir aqui em casa. Ai, meu Deus! Meu Deus!
Quando escutei as sirenes e vi o carro... Ai, Deus! Se acontece alguma coisa contigo, eu me mato, juro que me mato!
Um dos enfermeiros, ao ver seu estado histérico, se vira para ela e diz:
— Se não se acalmar, vamos ter que atender a senhora. Sua irmã está bem. Pode ficar calma.
— Raquel — balbucio cheia de dor. — Fica calma, tá?
Faz um gesto com a cabeça, enquanto lágrimas pesadas rolam por suas bochechas.
Pega minha mão e a ambulância arranca. Quando chegamos à emergência do hospital, olho para ela e digo:
— Fica com a minha bolsa e não liga pro papai. Não quero assustá-lo, ok?
Ainda aos prantos, ele faz que sim e os enfermeiros me levam para dentro. Tiram várias radiografias do pescoço e do ombro porque eu disse que estava doendo, e fazem outros exames. Estou cansada,
cheia de dor, e quero ir para casa. Mas ali tudo demora... demora muito.
Três horas depois, quando saio com um colar ortopédico, um galo na testa e os lábios inchados, me surpreendo ao ver minha irmã, meu cunhado e Arthur.
O primeiro a correr até mim é Arthur. Pela sua expressão, sei que levou o maior susto com o que aconteceu. Me abraça com cuidado e não diz nada. Seu jeito de me abraçar e a tensão que noto em seu corpo falam por si sós. O abraço é interminável, até que finalmente tenho que sussurrar:
—Arthur, estou bem, querido, de verdade.
Minha irmã nos observa e, quando Arthur me solta, eu a vejo chorar de novo.
— Anda, vem cá e para de chorar, que não houve nada.
Raquel me abraça e chora copiosamente, e meu cunhado me pergunta:
— Está tudo bem?
Sorrio o máximo que consigo.
— Estou, e por favor... parem de brigar. Numa dessas vocês me matam.
— Desculpa. Foi tudo culpa minha — diz José.
Me solto da minha irmã e seguro meu cunhado pelo braço.
— Não fala bobagem. Essas coisas acontecem. E agora já passou. Aliás, vocês não ligaram pro papai não, né?
Minha irmã nega com a cabeça e fico aliviada.

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