Adivinha quem sou (Adaptada) - Capítulos 22 e 23

|



Capítulo 22:
Perco a respiração e sentir que tudo balança ao meu lado. Eu tento disfarçar, mas o constrangimento é terrível.
Sou muito desajeitada!
Agora eu sou cem por cento lerda.
Espantado com a minha súbita queda, Arthur, o homem dos meus mais perturbados sonhos sexuais, se agacha com um gesto preocupado e pergunta:
— Você está bem?
Plano A: Eu digo não e peço que ele faça uma respiração boca a boca para que eu não morra.
Plano B: Eu choro como uma idiota e me queixo da dor.
Plano C: Paro de fazer esse papel ridículo.
Finalmente optei por plano C. Eu acho que é o mais digno.
Vejo Arthur abre um freezer, pega um pedra de gelo, envolvendo-o com um pano de prato limpo, remove luvas de látex e coloca o gelo no meu queixo.
— Ai!
— Eu sei, dói. – diz olhando para mim. — Você levou um grande tombo.
Por pouco não abriu o queixo.
De repente eu percebi que sua camisa estava rasgada, mostrando parte do seu corpo. Uauuuu, que peitorais! Lembro-me de ter rasgado sua camisa na queda.
— Se você queria ver meu peito, era só me pedir para tirar minha camisa.
Comecei a rir.
Arthur me olhou surpreso com a minha reação e, tentando com todas as minhas forças parar de rir, digo para Coral:
— Me dê mais papel para limpar meu olho.
Mas o morenaço parece ter mil mãos e ele mesmo me dá o papel, enquanto minha amiga diz:
— Vou pegar algo para te abanar. Você está vermelha como um tomate.
Coral saiu e eu não sabia o que dizer. Arthur me ajudou a levantar do chão e a sentar em uma cadeira.
— Está doendo alguma coisa?
Eu digo que sim com a cabeça e, ante a sua cara de espanto, esclareço, com gelo no queixo:
— Meu orgulho.
Nós dois ficamos em silêncio. Eu acho que ele me entendeu. Acabei de fazer o papel mais ridículo do mundo e ele respeita meu silêncio. Mas ele está agachado diante de mim com a camisa aberta e eu volto a admirar seu abdômen. Eles são incríveis! E estou impressionada com algo pendurado em seu pescoço. É um cordão preto com uma pequena chave de prata pendurada.
Ele parece velho e é muito bonita. Ele percebe o que estou olhando e tocando a chave diz:
— Eu ganhei da minha mãe.
Assinto. A dor no queixo está me matando. Eu toco meus dentes com a língua. Que estejam todos aqui! Que esteja todos aqui!
Felizmente, estão todos intactos. Respiro aliviada.
Sem dizer nada, pego a caixa das lentes do bolso do meu uniforme e as retiro, pois estão incomodando meus olhos, sujos de creme.
Que alívio!
Arthur, ao me ver retirando as lentes, critica:
— Você deveria lavar as mãos antes de tocar seu olho. Elas estão cheias de bactérias e sujeira.
Já vem sua veia gay.
Não olhei para ele. Não respondi.
Eu sei que ele tem razão quanto a lavar as mãos, mas não me deu vontade de dizer.
Ele não disse mais nada. Só me observa e eu, quando termino de limpar a lente, e estou recolocando, respiro fundo, olho para ele solto:
— Vamos esclarecer uma coisa. Você não ouviu nada do que eu disse sobre você, e também não me viu suja de creme, e por último, mas não menos importante, não despenquei diante de você sem qualquer glamour. E...
— Esse Arthur... De quem você falou, era eu?
Merda!
Eu acabei de me entregar novamente. Não respondo. Não confirmo e não me movo.
Poderia ser mais desajeitada e linguaruda?
Ele, vendo meu apuro, sorri e se aproxima um pouco mais.
Ai, meu Deus, ele é incrível!
Fico sem fôlego quando ele pousa seu polegar logo abaixo dos meus lábios, por alguns instantes. Ao removê-lo, eu vejo o creme em seu dedo. Ele chupa e, num tom íntimo e voz rouca, murmura:
— Deliciosa.
Merda, merda e merda.
O que eu digo? Para ele lavar o dedo antes de chupá-lo? Mas eu não falo. Melhor manter minha boca fechada ou eu vou acabar falando besteira.
Mais uma vez começo a dar risada. Mas que idiota que eu sou! E para mudar de assunto, olho para os seus fones de ouvido no pescoço e pergunto:
— O que você está ouvindo?
— Maxwell, conhece?
Balanço a cabeça negando e ele diz:
— Ouça. Você vai gostar.
Coral aparece com uns cardápios plastificados para me abanar. Seu rosto é um poema!
Arthur se levanta, dá um passo para trás, pisca para mim e, sem dizer uma palavra, volta para o lugar de onde veio.
Coral, se divertindo, sorri e eu, horrorizada, protesto:
— Eu não sei onde você vê a graça, caramba!
Naquela noite, quando eu cheguei ao meu quarto e deitei na cama, o queixo doía horrores; vou ficar com um hematoma enorme. Mas eu não me importo. O simples fato de ter estado tão perto de Arthur durante aqueles minutos, fez valer à pena a colisão.
Três dias depois, a minha contusão no queixo é notícia em todo o navio.
Todo mundo fica me olhando.
Não tem como não vê-la!
Todo mundo especula.
Como não especular?
Afinal, até lhe coloquei um nome: Morte!
Que coisa brega!
Esta noite, quando nós terminamos o trabalho e estou indo para a minha cabine, Coral me para.
— Eu quero te pedir um favor.
— Pode dizer, menina.
Ela coça a nuca e depois de pensar o que vai dizer, fala depressa:

— Eu fiquei com alguém e preciso da cabine por algumas horas.
— Com quem você está ficando? – E ao ver que ela não responde e só sorri, eu insisto: — Com o colombiano?
— Não.
— Com o russo da recepção?
— Não.
Dez minutos mais tarde, depois de eu ter perguntado por quase todos os caras do barco, ela finalmente confessa:
— Ok, eu admito, quanto aos homens que você se referiu, quero estar solta, atirada. – Eu dou uma risada e ela continua: — Eu fiquei com Toño por quatro anos, e fui a pessoa mais fiel e companheira do mundo. E para quê?
Para me chamar de gorda na frente de seus amigos e humilhar-me.
— Coral, você deve pensar numa coisa, você não é como eu. Você acredita em amor, romance, em...
— Pois acabou o romantismo. – ela me corta – Eu vou viver a realidade.
Homem que goste de mim, homem que goste do jeito que eu sou. Dei-me conta que o tempo passa, o corpo se deforma e quero desfrutar. E tem um passageiro argentino...
— Coral... – rosno, colocando as mãos na cabeça — Você sabe que no barco são proibidas relações entre a tripulação, ainda mais com os passageiros. Você não pode trazê-lo para a nossa cabine, o que você está pensando?


Capítulo 23:

— Bem, penso isso mesmo que falei, em trazê-lo e desfrutar as seis fases do orgasmo!
Começo a rir.
Ela também dá gargalhada. De repente, decidiu dar um rumo novo à sua vida, e ninguém irá fazê-la mudar de ideia.
— E quem poderia ficar sabendo? – diz.
Esta menina é um caso perdido. Basta que alguém a proíba de algo para que ela o faça.
Olhando para ela, eu pergunto:
— E por que não vão para a cabine dele?
— Porque ele não pode.
Ao ouvi-la dizer isso, eu olho e começo a rir. Finalmente, bufo e aceito a situação.
— Ok. – eu digo. A cabine é toda sua. Mas quando você acabar, me mande uma mensagem para que eu possa voltar, ok?
— Você é uma gostosura.
— O que você disse?
Coral sorrindo, divertida, esclarece:
— Luciano que fala isso, para dizer que sou maravilhosa.
E me dá um beijo, um salto e sai correndo. Eu sorrio por ajudá-la.
Claramente ela está se saindo melhor do que eu no barco.
De repente, ao me virar, eu pego Tomás me olhando fixamente.
Oh... Oh... A música do Tubarão soa na minha mente.
Tutu... Tutu... Tutu... Tutu...
Ele vem até mim e, baixando a voz, pergunta:
— Com quem você ficou?
Eu olho para ele me divertindo, dou meia volta e sussurro:
— Para você eu vou dizer...
Desapareço da cena rapidamente. Eu não quero ficar perto dele. Pois sei que seria para ter sexo e não quero sexo com ninguém. Bem, isso não é verdade. Com Arthur sim, mas isso seria pedir o impossível.
Estou cansada e não tenho para onde ir, então me dirijo até o salão de festas. A música me animará. Gosto das músicas e fico por lá durante meia hora, até que, verde de inveja por não ser a cantora, vou para um lugar na cobertura, onde essa hora geralmente não tem ninguém.
Uma vez ali, pego uma espreguiçadeira e a coloco num lugar estratégico, onde pouca gente pode me ver e onde eu possa ver o mar e deito nela.
Que relaxante esta assim, à luz da lua!
Estar durante o dia, ao sol, deve ser ótimo. Mas, infelizmente, estou nesse barco para trabalhar, não para me divertir.
Penso em minha família. Pela hora, devem estar na loja, vendendo lembrancinhas aos turistas de Tenerife... Sorrio. São maravilhosos. Tenho a melhor família do mundo e decido ligar para eles.
Tem sinal, que bom!
Após dois toques ouço a voz da minha mãe.
— Querida, é você?
— Mamãe! Como você está?
— Bem, minha menina. E você? Já passou o enjoo?
— Sim mãe. – minto – Já estou melhor.
— Você está tomando leite?
Sorrio. Minha mãe e o leite... Respondo:
— Sim, fique tranquila, estou tomando.
Não é completamente uma mentira. Sim, eu substituí o leite pelo creme que a minha amiga coloca nas tortas. Afinal de contas ele é feito de leite, não é?
Falamos por alguns minutos. Digo a ela e meus avós que estou ótima, que está tudo bem e minto dizendo que o trabalho não é tão duro quanto eles acham.
Depois falo com meu pai e ele me diz que Argen também está lá. Peço para falar com ele.
— Como está minha irmãzinha preferida?
— Mais atrevida do que nunca.
Tenho certeza de que ele sorri. Argen tem um grande sorriso.
— Fala tudo, eu te conheço.
— Shhhhh... Não fale nada para a mamãe o que vou te contar, mas estou dopada de tanto remédio para enjoo, tenho um hematoma enorme no queixo por conta de um tombo que eu levei e meu chefe é um grande idiota que enche meu saco todos os dias.
Argen volta a rir e baixando o tom de voz, diz:
— Vamos, bufadorazinha, fala a verdade, você pode com ele.
Agora quem ri sou eu.
— Certamente eu posso lidar com isso. Mas não quero jogá-lo no mar e acabar presa. Mas chega de falar sobre esse assunto. Você está bem?
Pensar sobre a doença do meu irmão sempre me deixa agoniada. Mas Argen a leva como um vencedor e responde:
— Perfeito, tudo sobre controle.
Adoro sua positividade. Isso me alegra, e volto a perguntar:
— Como está Han Solo e o corajoso?
— O Mestre Yoda e o Mestre Del Ligoteo? Como sempre. Ambos sorrimos e Argen continua: — Garret viu recentemente que no próximo ano, em junho, haverá uma convenção de Guerra nas Estrelas em Los Angeles, e já estão juntando dinheiro para ir. E Rayco chegou outra noite com a sobrancelha cortada. Segundo me contaram, brigou com o namorado de alguém.
Falamos por mais alguns minutos sobre nossos irmãos, que nos deixam loucos até que Argen pergunta:
— Como a Coral está? Ficou bem depois do que aconteceu com Toño?
Ao pensar na minha amiga, suspiro e digo:
— Está mais que bem. Decidiu ser uma mulher liberal e não voltar a amar.
— Isso que é seguir em frente.
— Eu que o diga irmãozinho, eu que o diga... – digo divertida.
Argen pensava que Coral estava para baixo. E sabia que eu era uma boa amiga. Então me pergunta:
— E você, como são os homens aí? Já está de olho em algum?
— Não. – Respondo sem vacilar.
— Hummm... Está mentindo!
— Por que? – Começo a dar gargalhadas.
— Porque quando você mente responde muito rápido. Normalmente você teria pensado e dito: “Aff... Nenhum interessante”, mas esse seu “não” tão direto e certo me permite dizer que é um “sim”.
Claro, se tem alguém que me conhece, esse alguém é Argen. Meu irmão mais velho é certeiro, e rindo, respondo:
— Ok, tem alguém.
— Eu sabia.
— Você me pegou.
— Conta!
Depois de respirar fundo, finalmente digo:
— Tem um homem que está me deixando louca.
— Homem?
— Sim, não é um menino. É um homem mais velho que, aff...
— Bem irmãzinha, pelo tanto que te conheço vejo que está realmente interessada.
— Ele é gay.
A gargalhada do meu irmão me deixa magoada. Pois, mesmo com o esgosto que estou sentindo ele fica rindo.
— Acho melhor você parar de rir agora. – ameaço.
Uma vez que ele diminui a gargalhada, respondo a tudo o que ele me pergunta. E depois de falar com ele por mais dez minutos eu quase esqueço minhas tristezas, desligo o telefone e sorrio.
Sem hesitar, procuro no meu iPod uma música que meu pai gosta bastante. Eu sorrio ao encontrá-la. O mesmo que meu pai faria ao escutá-la. A cantora se chama Rosa e era uma concorrente de um programa musical chamado "Operação Triunfo". De acordo com ele, se ela conseguiu ter sucesso na música, por que eu não posso também? Achando que estou sozinha, eu coloco os fones de ouvido e, deixando-me levar pela doce melodia, cantarolo:
“Ei, não vê que é por seus olhos que eu vejo.
Sabe que se você respira, eu respiro.
Sigo, beijando as vezes que você me beija,
e me dá mil carinhos daqueles loucos,
que apagam o que você viveu ontem.
Eu nunca...”

3 comentários: