Adivinha quem sou (Adaptada)- Capítulos 10, 11, 12, 13 e 14

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Capítulo 10:



— Plano A: dizer Olá!

— Não.

— Plano B: Marcar um encontro.

— Não.

— Plano C: deixo cair minha prancha em seu carro, faço um estrago e certamente vai olhar para nós.

— Mato você. – disse ele.

Sorrio e olho para o grandão do meu irmão se tornar pequeno na presença desta moça. Na sua idade, Argen teve várias namoradas, mas nenhuma durou. Mais cedo ou mais tarde, todas foram embora, aparentemente por sua doença. E, sem dúvida alguma, não se atreve a se aproximar de Patricia por causa disso.

Teme ser rejeitado, mas insisto:

— Plano D: cumprimento o menino que vai com ela. Conheço e...

— Não. – meu irmão rosna. — Pare seus planos e entre no carro, vamos embora.

Calo-me e não proponho mais nenhum plano. Vejo que Argen não quer minha ajuda para que Patricia fique com ele. Durante todo o caminho de volta, zombo dele, que não para de protestar.

Quando chegamos em casa, digo adeus e vou para o meu quarto. Quando entro, me olho no espelho e sorrio feliz. Hoje à noite vou cantar com a minha avó e suas amigas e amanhã volto a encontrar com Francesco. O que mais poderia querer?

Depois de passar a tarde na loja de meus pais, às sete volto para casa para me arrumar e me vestir para hoje à noite. Ao contrário de quando canto no hotel, para acompanhar minha avó e seu grupo não uso salto alto. Que alívio! Com elas são os jeans, couro e botas de roqueiro.

Depois de pronta, desço para a sala, onde minha avó está pronta e ao me ver diz:

— Você está linda, querida.

— Obrigada, Ankie.

A avó Nira nos olha e balança a cabeça, mas não diz nada. Convive bem com Ankie, mas não segue sua faceta como roqueira, porém aceita. Como Ankie aceita que ela se encante ao ler revistas de fofoca e ver também na TV.

Depois de nos despedir, minha avó pega sua guitarra amada e entramos no meu carro. Vinte minutos depois, chegamos ao local e eu sorrio quando me encontro com o resto da banda. Quatro mulheres da mesma idade que a minha avó, todas roqueiras, excitadas e animadas!

Muitas vezes são um perigo quando se juntam!

Quando entramos no local, as pessoas olham para nós. Alucina-me vê-las vestidas com calças de couro, estilo vaqueiras e instrumentos a tiracolo.

Em geral, as pessoas riem. Não as entendem. É revoltante rotular as pessoas pela sua idade!

Mas cada vez que vou com elas, volto com uma lição aprendida. E amo o seu lema "Deixe que digam o que querem, porque com a idade que eu tenho, minha vida, minha música e meu corpo faço o que me agrada."

Enquanto elas colocam os instrumentos no palco, os turistas observam com curiosidade. Eles estão perplexos. Não sabem o que esperar do que eles estão vendo, mas certamente nada de bom.

Em vez disso, Pepe, o dono do lugar está tranquilo. Pisca para mim e eu sorrio para ele. Sabe que quando a banda começar a tocar, vai colocar todo mundo no bolso.

Ele sobe no palco e diz em Inglês, Alemão e Espanhol:

— Boa noite a todos.

A plateia grita, levanta suas bebidas e dizem inconveniências ocasionais ao ver vovós no palco, mas Pepe continua:

— É um prazer ter aqui “As Atacadas”! Vamos recebê-las com um grande aplauso.

A multidão aplaude e assovia, sem empolgação. Eles estão convencidos de que não vão gostar da apresentação, até que Ankie liga o amplificador, conecta-o a sua guitarra, e depois olha com cara de “Vão à merda!”, que deixa todos sem palavras, então grita ao microfone:

— Viva o Rock and roll!

Suas companheiras são incorporadas à melodia. Primeiro a bateria, em seguida, o teclado, e finalmente, os dois baixos. E um por um, todos ficaram sem fala e começaram a aplaudir.

As pessoas ficam loucas. Eles dançam, se movem, se divertem. Parece um conto de fadas, e em uma lateral do palco, sorrio encantada enquanto danço também.

Sempre a mesma coisa.

Sempre a mesma reação.

Gosto quando minha avó e suas amigas deixam todos de boca aberta.

Música a música se fazem donas do local até tocar a suave Flor de Luna, de Santana, um pouco antes de parar. A Ankie ama essa música e toca como ninguém.

Após uma pausa de 15 minutos, subimos de volta ao palco e desta vez o recebimento não tem nada a ver com o anterior. É brutal! As pessoas querem o grupo e minha avó toca por mais de uma hora, até que os primeiros acordes de guitarra soam a canção She's got the look, do grupo Roxette e sei que isso significa que é a última música. Com sua voz inconfundível, a minha avó começa a cantar e faço os vocais.

“Ela tem a aparência, ela tem o olhar.

Ela tem aparência, ela tem o olhar.

O que no mundo pode fazer uma garota de olhos castanhos ficarem azuis.

Quando tudo o que eu sempre vou fazer, eu vou fazer por você eu vou: la la la la la .

Ela tem o olhar.”

Todos os presentes sabem e participam encantados. Quando acabamos e tentamos sair do palco, não nos deixam. Minha avó e suas amigas sorriem e decidem dar-lhes um tremendo final, tocando You shook me all night long, de AC / DC.

O local vem abaixo com os aplausos, enquanto estou orgulhosa da minha avó sem poder.

Capítulo 11:


Tenerife, 2013. Um ano depois

Deixo o carro estacionado perto do Grand Hotel Mencey e corro pra não chegar atrasada para a apresentação. Estive surfando na praia de Las Palmeras com o meu irmão e depois passei para tranquilizar Luis e Arturo. Serão pais em menos de um mês e Luis esta histérico.

Atravesso o lobby do hotel com meus enormes saltos pretos e encontro, um morenaço que trabalha na recepção do hotel e nos vemos de vez em quando.

Divertimo-nos, mas sabemos que entre nós não haverá nada.

Quando o apresentador dá passagem para a orquestra, eu chego, e em um salto, subo no palco com o resto dos meus companheiros de equipe. Luciano, pianista, me olha com censura. Cheguei tarde e peço desculpas com o olhar.

Durante uma hora canto junto os sucessos do verão, mas também incluímos as canções do repertório de toda a nossa vida. Quando paramos os primeiros quinze minutos, meu celular toca.

— Luaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Reconhecendo a voz da minha querida amiga Coral, que agora vive em Barcelona com seu amado Antônio, solto uma risada e respondo:

— Olá, louca, como está em Barcelona?

— Maravilhosamente, e você?

Olho para os meus colegas na orquestra, bufo e digo:

— Bem, mais uma noite cantando. Porém, acabo de encontrar com Arturo e Luis e disseram que te ligariam. Eles têm algo a dizer.

— Deve ser bom, certo?

Sorrio com o pensamento de que eles querem falar sobre o bebê e respondo:

— Muito bom. – Mas noto algo errado, acrescento: — Diga-me o que acontece? Noto que está desanimada.

— Deixei Antonio.

— O queee?!

— Deixei-o. Não é o homem da minha vida. Adeus casamento, crianças e casinha com piscina.

— Porque deixou Antônio?

Se me picarem, não sairá sangue. Se alguém estava apaixonada por seu namorado, era essa minha amiga.

— Sim. Acabou! – disse.

— Mas por quê?

— Porque não sou babá de ninguém e desde que nos mudamos para Barcelona me fez sentir uma gordarela.

— Gordarela?! Repito divertida.

— A mistura de gorda e Cinderela. E você sabe que amo a história da Cinderela, com o lindo final que tem, mas acabou! E nosso final foi tudo, menos bonito.

Alucino. Nem sei o que dizer. Sei bem o que representava Antônio para minha amiga.

— No outro dia – continua – eu estava limpando a cozinha e ele muito idiota, chega com um dos seus amigos, pega um dos bolinhos de chocolate que eu tinha feito para ele e diz: “Acredito que você deve parar de comer essas coisas. Suas coxas vão agradecer.”.

— Disse isso na frente de seu amigo?

— Sim, Lua, disse. Eu juro que tive que me conter para não bater com a bandeja de bolinhos na cabeça dele. É um bastardo desprezível! – Aumenta a sua voz. – Pegando a merda que ele deixa em todos os lugares, aguentando os palhaços de seus amigos cuidando dele como um príncipe, fazendo bolinhos e todas as comidinhas que sei que ele gosta e me chama de gorda na frente de seu amigo!

Chega de ser a Cinderela desse imbecil. De agora em diante, serei minha própria

Cinderela. Assim que recolhi minhas coisas, lhe disse um monte de coisas, deixei-o parindo e fui morar com uns amigos. Sai pra lá esse idiota.

— Mas você estava loucamente apaixonada por ele...

— Você disse bem, estava. Mas isso acabou! No final tudo nesta vida expira, como iogurtes. – Eu sorrio ouvindo — Definitivamente estar com Antônio todos estes anos e acabar assim não creio no amor. Como diz a música que às vezes canto: é um grande tolo, um idiota, palhaço, vaidoso, arrogante, egoísta e caprichoso, inconsciente e prepotente, falso, anão, rancoroso, sem coração.

— Bem... Você sabe bem. – falo.

— Eu que por ele teria sido capaz de matar. – continua dramática — e agora não quero vê-lo nem pintado. Se o ver será para insultá-lo.

— Mulher...

— Não, minha filha, não. Acabou! Além disso, decidi que o meu namorado a partir de hoje, se chama chocolate!

Como não me vê, eu sorrio, mesmo sabendo que não é hora de fazê-lo.

— Sinto e...

— Cala a boca, que isso não é tudo – me interrompe. — Minha fase de problemas continuou e, dois dias atrás fui demitida do restaurante. E... Isso sim é uma desgraça!

— Oh Deus, Coral, que cachorrada!

— Maldita crise!

— Vá...

— Essa porra de crise que faz com que os proprietários reduzam custos, e como sou das últimas contratadas, fui direto pra rua. Igual como o que aconteceu com você na creche.

— Mas você é a melhor confeiteira que conheço.

Ouço risos e depois diz:

— Obrigada, anjo, também te amo. – E, depois de um suspiro triste, acrescenta: — Sendo assim, estou solteira, aberta a novas experiências em que o amor não apareça nem louca e sim trabalho, o que acha?

— Terrível, Coral, terrível.

— Poréééééééémmm... Há males que vem para o bem e já passei para o plano B. Soube de um trabalho que pode atender a nós duas.

— Às duas? – Repito espantada, apanho um rico canapé de salmão na bandeja que passa.

Conheço Coral e sei que está nervosa sobre o que tem pra contar.

— Ontem, uma amiga que está desempregada como eu – começa — me disse que eles estão à procura de pessoal para um cruzeiro na costa do Mediterrâneo. O pessoal agora está completo, mas, aparentemente, teve umas baixas e precisam de pessoas. O que você acha?

Apanho outro canapé e respondo:

— Pois bem. Que perfis buscam?

— Garçonetes e pessoal de cozinha.

— Alguma cantora?

— Nós não sabemos, mas estes cruzeiros costumam ter espetáculos noturnos e certamente poderia trabalhar neles. Aparentemente, é um cruzeiro que sai de Barcelona e visita lugares impressionantes como Marselha, Genova...

— Genova?

Coral diz que sim e sorri com certeza. Sabe que lá vive meu amigo Francesco.

Apresentei-o uma vez, quando os dois ainda estavam em Tenerife e ficou caidinha por ele. Se ela soubesse...!

Francesco e eu ainda mantemos contato via Facebook ou e-mail e sempre falamos sobre nos encontrar de novo, mas a oportunidade nunca surge. Nós somos adultos e cada um tem continuado a sua vida em seu país. A última vez que escreveu, disse que tinha conhecido uma menina e estava namorando sério. Gostei de saber.

— Ouça, Lua, – Coral continua — amanhã de manhã vou me informar sobre este trabalho e saber o que podemos fazer para que nos contratem. Vamos?

Penso. Sair de Tenerife e ver algo do mundo sempre me chamou a atenção, mas ao pensar na minha família e, especialmente, em Argen, respondo:

— Não sei, Coral.

— Diga-me sim... Agora você não esta com ninguém. Diga simmm.

Sua insistência me faz rir e digo:

— Escuta...

— Nãoooooooooo... – ela me interrompe — não quero ouvir. Quero que você me diga sim. É uma oportunidade de estarmos novamente juntas, conhecer homens interessantes e ver algo do mundo. E bem...

— Coral! – Grito e ela se cala — O contrato com o hotel acaba no próximo mês, mas certamente será renovado. O trabalho está muito ruim e...

— É uma oportunidade, Lua, você não vê? – retorna com a carga toda. –

Será um contrato temporário, só o tempo de duração do cruzeiro. Experimente, e se não gostar, volta para Tenerife e segue cantando em hotéis. Vamos... Diga sim... Por favorrrrrrrrrrrrrrrr. Você não pode dizer não a Gordarela!

Eu sorrio, impotente. A verdade é que me atrai deixar a ilha e trabalhar em um cruzeiro. Um garçom com uma bandeja passa por mim e como outro canapé digo a Corall:

— Ok. Informe-se e me conte.

Seu grito é ensurdecedor e, divertida digo:

— Preciso ir. Tenho que subir de volta no palco.

— Ok. Beijossssssssss.

Desligo o telefone e o guardo no bolso. Cinco minutos depois, estou com a orquestra, cantando “Estranhos na noite” para os hóspedes do hotel.


Capítulo 12:


Eu estou em Barcelona!

Coral se informou sobre o cruzeiro e não pagam mal. Não me contrataram como cantora, mas de garçonete. Portanto, deixaram bem claro o que faço e o listaram. Espero que não esqueçam e liguem se precisarem de mim.

E aqui estou, disposta a desfrutar de uma nova experiência ao lado de minha louca amiga.

— Que lugar incrível! – Exclamo, olhando ao redor.

O cruzeiro é um incrível hotel flutuante. Cabem nele três mil pessoas e tem sete andares e instalações incríveis para organizar eventos com espetáculos e animação.

Os novatos têm uma reunião com o chefe, que explica que no navio há quatro tipos de camarotes. E nos ensina.

O interior sem nenhuma abertura para o exterior, que são os mais econômicos e com segurança é o que eu poderia pagar. O exterior, que são como o interior, mas com uma janela. Outros exteriores melhores com varanda privada. E, finalmente, luxuosas suítes, espaçosas com varanda privada, jacuzzi e sala de estar, que estão localizadas no andar superior e são incríveis.

— Bonita suíte. – diz de repente um rapaz loiro para um ruivo, caminhando em nossa direção.

— Para desfrutar plenamente, não? – responde Coral, deixando-me perplexa.

Sem vergonha!

Desde que deixou Toño está sem freio. Passou da doce Coral que acreditava em contos de fadas à devoradora de homens que cria suas próprias histórias de princesa travessa.

Olho o rapaz que está ao lado do loiro, sorrio e penso, "Ruivo, preparese.”

E ao que acontece, ao ver que ambas sorrimos, sorri de volta e se apresenta.

— Olá, meu nome é Tomás.

— Eu, Fredy. – diz o ruivo.

Nós também lhes dizemos nossos nomes e, então, Tomás se põe ao meu lado e começa a brincar comigo, enquanto Coral pisca e flerta com o tal Fredy.

— Trabalho aqui há três anos. – me explica Tomás, me olhando.

— Uau, que sorte. – respondo.

Quando acabamos de visitar os diferentes tipos de camarotes, nos explicam as obrigações de cada um e Tomás sorri ao ver que estamos no restaurante Cocoloco com ele e que é um dos nossos gerentes.

Desanimada, escuto que devo atender no restaurante e, se necessário, dar uma mão no bar durante os shows noturnos.

De repente, vejo uma porta lateral abre e um morenaço vestindo calças de camuflagem e camisa branca atravessa a sala olhando para um celular que tem  em mãos.

Minhaaaaaaaaaa mãe!

Sem poder evitar o sigo com o olhar. Ele parece um homem interessante, e não um menino, como Tomás. Eu me sinto atraída por sua aparência forte. Seu queixo quadrado, sua segurança ao andar, quando desaparece por outra porta, volto a prestar atenção nas chatas explicações.

Escuto o chefão de toda bagunça, o Sr. Martinez, que nos explica como atender os clientes. Por que a maioria dos gerentes são tão sérios? Nunca se divertem?

Sr. Martinez, que é como quer que nós o chamemos, dá muito ênfase que devemos ser educados, não descuidar da nossa aparência nem nosso vocabulário e facilitar a viagem para o cliente.

Em seguida nos fala sobre a noite de gala do capitão e bufo quando percebo que eu não serei como essas mulheres fascinantes com ele, bebendo champanhe. Eu serei mais uma das que estarão trabalhando. Um saco! E o champanhe? Nem o cheiro!

Quando a reunião termina, todos os novos trabalhadores descem do navio, felizes por termos conseguido esse trabalho. Depois de Coral e eu nos despedirmos de Tomás e Fredy, olho ao redor com esperança de ver o morenaço, mas nada, nem traço. Minha amiga está feliz por essa aventura juntas, me abraça e diz enquanto caminhamos:

— Que lugar incrível! Estou convencida de que vamos ter um grande momento.

Concordo. Não duvido nenhum segundo de que assim será, mas acrescento:

— Vou comprar umas pílulas para náuseas para se for necessário.

Melhor sobrar do que faltar.

Ambas rimos. O cruzeiro sairá em dois dias e eu sou uma mulher muito precavida. Uma vez saímos da farmácia, pergunto a Coral:

— Que tal se formos à Starbucks para um frappuccino?

— Excelente ideia. – ela responde.

Extasiadas, nos encaminhamos até a Starbucks mais próxima do porto.

Chegando lá tem uma fila enorme, mas dispostas a tomar nosso frappuccino mocha branco, esperamos com paciência.

De repente, percebo um homem que espera para pegar seu pedido e meu coração acelera imediatamente.

O morenaço do navio!

Volto a olhar e quando levanta os olhos do celular, fico sem palavras.

Oh, Deus, tem a boca mais sexy que já vi e um olhar desafiador que me encanta. Passa uma mão pelo cabelo depois pela barba. Seu magnetismo e virilidade me deixam enraizada no lugar e quando consigo respirar, sussurro para minha amiga:

— Atenção, morenaço mais que impressionante às 12h em ponto.

Sem disfarçar Coral estica o pescoço e depois de uma varredura completa exclama:

— Uau, que homem!

— Interessante.

— Eu diria maduro.

— Já sabe que não gosto dos novos.

Ela acena com a cabeça e murmura:

— Este deve ter por volta de 35. – E acenando com a cabeça, acrescenta: — Lua, com este homem te digo que as seis fases do orgasmo se cumprem ao pé da letra.

Eu rio. Não sei o que quer dizer com isso das seis fases e ela me explica baixando a voz.

— O primeiro é chamado de asmática e é quando você diz: "Ah... Ah...!".

A segunda é geográfica: "Aqui... Aqui!". A terceira, matemática: "Mais... Mais!”.

A quarta, religiosa: “Ai, Meu Deus". A quinta suicida: "Oh, estou morrendo!". E a sexta, e não menos importante, a homicida, que é quando você solta: "Se você parar, eu te mato!".

Minha gargalhada faz com que todos olhem para nós. Mas aonde aprendeu isso a santa da minha amiga?

Rindo, me conta quem a ensinou e eu me rompo. Então, observamos o maduro enquanto ele segue esperando seu pedido falando no celular. Claro, eu estaria mais do que extasiada de provar essas seis fases do orgasmo com esse homem.

Não parece feliz. Sua testa franzida e os movimentos que faz com a mão livre me dão a entender de que a conversa o irrita. Encanta-me sua cara de valentão, e quando se vira fico sem fôlego ao ver suas costas largas e seu estupendo traseiro.

Por favor... Que bunda mais bonita.

Logo depois, quando a garçonete lhe entrega o copo de café local com um sorriso adorável, murmuro:

— Acabo de me apaixonar à primeira vista.

— E eu...

Irritada, olho para Coral e digo:

— Não me irrite? O mesmo que eu?

Ela nega com a cabeça.

— Acalme-se, minha menina. – responde. — Me interessa mais o de camisa pistache que está às três horas. Deve ser meio bobo, mas eu adoro aquele nariz agudo.

Olho para onde indica e sorrio quando acrescenta:

— O que eu vou fazer se agora gosto dos jovenzinhos.


Capítulo 13:


Sorrindo, volta a olhar meu morenaço, que se aproxima de nós em seu caminho para saída.

Que músculos.

E o como é alto!

Excito-me só de olhar para ele. Sua segurança ao caminhar, olhar, respirar, me faz pensar que esteja, como diria meu irmão Argen, sem merendar! E isso me provoca. Deixa-me louca.

De repente, Coral, em seu estilo mais louco, lhe para e pergunta:

— Tem um cigarro?

Ele finca seu impressionante olhar em nós duas e diz:

— Não.

— Não fuma? – Insiste me empurrando para que diga algo.

— Não.

Bem, é de poucas palavras!

E depois de um silêncio constrangedor, durante o qual não sei o que dizer perante o seu olhar penetrante, ao ver que vai seguir seu caminho, olho para o copo que leva na mão e, incapaz de deixá-lo ir, digo:

— Então adeus, Arthur.

Examina-me com o olhar e de repente eu me sinto como uma idiota.

Por que eu tinha que dizer isso?

Coral ri. Puta que a pariu.

Eu rio. Puta que me pariu.

E o homem, sem tirar o olho de mim e mais que sério, pergunta em tom irritado:

— Nos conhecemos?

Mas que antipáticoooooooo!

— Não. – respondo.

Intrigado, se inclina um pouco para ficar da minha altura. Tira-me um palmo pelo menos. Crava seus impressionantes olhos castanhos em mim e pergunta:

— Então, como você sabe o meu nome?

Plano A: Digo a verdade.

Plano B: Digo uma mentira.

Plano C: Dou-lhe um grande beijo de parafuso e faz os o Sol nascer em Antequera.

Finalmente decido pelo plano A, pois o C é muito arriscado a resposta:

— Suponho que seu nome seja o que está escrito no copo da Starbucks.

O morenaço olha, lê o que está escrito e pergunta:

— E se não for esse?

Derreto ao me perder em seus olhos e, encolhendo os ombros, digo com um sorriso de boba:

— Pois teria errado feio.

Atravessa-me com o olhar e em seguida me contempla desafiador, com os olhos cerrados. Aperta os lábios e rio de nervoso. Parece que vai dizer alguma coisa, mas finalmente nega com a cabeça e vai embora.

Ohhhh ... Que penaaaaaaaaaaa !

Eu olho totalmente extasiada. Fiquei impressionada, mais do que quando Ricky Martin me deu um autógrafo alguns anos atrás e me piscou o olho.

Coral, que se dá conta de tudo, solta uma gargalhada e, se aproximando de mim, cochicha:

— Recolhe a calcinha do chão, que nos falta pedir. Volto a mim. O que aconteceu comigo?

Empurro minha amiga, mas ainda acalorada, peço os frappuccinos a garçonete.

Saímos do lugar rindo e quando algumas meninas que passam correndo me empurram sem querer caio como uma tromba em cima de alguém.

—Weeepaaa. – Ouço.

Meu frappuccino derrama sobre esse alguém e ao olhar vejo que é um grande homem moreno.

Depressa, eu digo:

— Oh, Deus... Eu sinto muito.

Ele, ainda me segurando em seus braços, me solta e, olhando sua camisa encharcada por causa da minha bebida, diz em castelhano, com sotaque estrangeiro que não pode com ele:

— Não se preocupe. Não foi culpa sua.

— Sim, mas...

Sem me deixar terminar a frase, esse armário me solta:

— Você manchou o cachecol de Hermès, esse cachecol que carrego.

É mauricinhooooooooooo! Começo a rir e respondo divertida:

— Poderia te dizer que sim, mas é dos chineses. Especificamente, da

loja do meu vizinho Yuyun.

Surpreso, tocar numa das extremidades de tecido e sussurra:

— São incríveis esses chineses. Certamente parece autêntico Hermès.

Eu sorrio surpresa com sua amabilidade. Esse tipo de homem tão frescos e tão bem arrumados não costumam ser simpáticos. Quando o olho, ele se vira a falar com um grupo de homens cada um mais arrumado. Os observo e rapidamente deduzo que são gays musculosos e bonitos. Com essa pinta não tenho a menor dúvida!

— Você está bem? – pergunta Coral.

— Sim. Mas preciso de outro frappuccino.

Caminhamos de novo até a fila e enquanto esperamos, minha amiga exclama:

— Que armário! Por que eu não choco com caras como esse?

Divertida, estou prestes a responder que acho que esse homem gosta de outra coisa, quando alguém pega meu braço e, ao me virar, vejo que se trata dele, que me pergunta:

— O que estava bebendo, linda?

Espantada, respondo:

— Frappuccino de chocolate branco, sem café.

Já nos abordava e vejo como ele o pede e um par de minutos depois me entrega. Agradecida digo:

— Obrigada e também por me segurar para que não fincasse os dentes no chão.

O armário sorrir e, então, um homem um pouco maior e corpulento se aproxima, com enormes óculos de sol. Toca a cabeça em um gesto que me parece protetor e pergunta:

— O que aconteceu, Tony?

Será seu namorado?

O tal Tony vai responder quando salto:

— Fui eu. Algumas meninas me empurraram e...

Sem me deixar terminar, o recém-chegado diz:

— Vamos para o hotel. Lá você pode se trocar.

Vendo sua grosseria, Coral intervém:

— Lua, vamos. Lá estão Jordi, Aida e os outros.

Quando nos juntamos com seus amigos, ela me apresenta e esqueço o incidente. Jordi e Aida já conheço, são os seus companheiros de quarto. Todos propõem ir ao Obsessão para jantar e tomar uma bebida. Fico encantada. Não conheço Barcelona então aonde me levam está bom. Mas ao dirigirmos aos carros, o homem que joguei meu frappuccino em acima se aproxima e pergunta:

— Aonde vai?

Coral, que já estava de olho, responde, contente com sua presença:

— Um jantar e depois da festa.

Noto que ele olha para trás e vejo que o grupo que estava com ele se foi.

— Você se importa se eu for com você? Eu compro uma camisa, mesmo nos chineses, assim não tenho que ir ao hotel.

Bem... Não é tão formal como eu pensava, mas eu sinto que isso vai causar problemas. Eu sei. Meu sexto sentido da mulher me diz: "Alerta!".

Mas Coral, que olha para ele com olhos de loba, mas loba... Loba, sorrisos.

— Claro. – responde Coral — Como se chama?

— Anthony, mas pode me chamar de Tony.

Sem mais, se junta ao grupo e todos nós vamos à festa. Olho Coral e sorrio ao ver que já escolheu sua próxima vítima, embora sem dúvida vai levar algum tempo até se dar conta de que com esse não há nada a ser feito.

Por volta das quatro da manhã, depois de dançar até ficarmos esgotados e Coral finalmente estar ciente que o grandalhão não passará por sua cama a menos que queira dormir profundamente, decidimos voltar para casa, mas não sabemos o que fazer com o Tony.

Está bêbado!



Capítulo 14:



Bebeu além da conta, depois de pensar, Coral e eu decidimos não deixá-lo abandonado no meio da rua e levá-lo para a casa onde nos hospedamos. Ajudadas por Jordi e Aída, conseguimos subi-lo até o quarto, que fica na Villa Olímpica, e Tony cai como uma pedra sobre o sofá.

— Mas o que ele bebeu? – Pergunto, olhando para Coral.

— Eu não sei. Eu só vi um Bacardi com Coca-Cola. Sim, a noite toda!

Exausta e cansada da festa, decido ir dormir. Eu preciso disso! Mas cerca de oito da manhã, um barulho ensurdecedor, que identifico como a música do filme Tubarão, me acorda e levanto buscando sua origem.

Não encontro. Corro por meus óculos, mas sigo sem encontrá-lo.

Tutu... Tutu... Tutu... Tutuuuuuuuu .

Oh, Deus... Esta musiquinha estridente está me enlouquecendo! Jordi,

Aída e Coral aparecem na sala de jantar e com cara de cansaço, perguntam:

— Que som é esse?

— Tubarão. – respondo, a ponto de um infarto.

Tony segue dormindo no sofá com um bronco, virado para baixo, e eu percebo que o ruído vem de um dos bolsos de sua calça. Cuidadosamente damos a volta e o barulho torna-se mais ensurdecedor.

Tutu... Tutu... Tutu... Tutuuuuuuuuu .

— Deve ser seu celular. – comenta Jordi, cobrindo as orelhas. — Pare com isso, por favor.

Meto a mão no bolso traseiro da calça e pego o celular. É uma chamada.

Pequena musiquinha...! O telefone toca e toca e Tony não acorda. Quando já não posso mais, abro o celular e, sem olhar para a tela, grito:

— Quem é?

— Quem é você? – Ouvi um homem responder e, ao não receber resposta, diz: — Faça o favor de dizer ao meu irmão Tony que atenda o telefone.

Oh... Oh... Aqui está o problema! Bufando, respondo:

— Impossível. Ainda não despertou.

O tipo solta uma série de insultos e quando finalmente esgota seu bonito

vocabulário, pergunta:

— Tony bebeu?

Olho o mencionado. Mais que bebeu deve ter absorvido o licor por todos

seus poros.

— Bom, – digo, — a verdade é que...

Agora quem bufa é ele, e pede:

— Dê-me seu endereço. Vou buscar o louco do meu irmão.

Penso no que fazer. Não me apetece que esse idiota apareça no apartamento, mas gostando ou não é o melhor para todos. Assim, com a mesma frieza com que ele tem falado, dou-lhe o endereço e, depois desligo.

Olho Maite, Jordi e Aída e digo:

— Voltem para a cama. Esperarei que venha o simpático irmãozinho de Chris buscá-lo e logo me deitarei também.

Sem colocar a menor objeção, os outros desaparecem quando eu entro no banheiro para pentear o cabelo e escovar os dentes. Meu aspecto ao me levantar nada mais é, do que um pouco assustador. Não vou trocar de roupa para receber qualquer um e muito menos esse prepotente. Com meu pijama vermelho estou mais do que apresentável.

Quando estou tomando uma xícara de café, soa o interfone. Corro para abrir para que não volte a soar e vejo no monitor que se trata do homem gordinho de óculos escuros que ontem disse ao Tony para ir ao hotel trocar de roupa.

O namorado!

Por um momento, o observo sem ser vista e a primeira coisa que me chama a atenção é sua cara amável enquanto pergunto no interfone:

— Quem é?

— Desculpe, senhorita, venho buscar Tony.

Uma vez que eu aperto o botão, vou até a porta da casa e a abro.

— Bom dia. – saúdo.

O homem acena com a cabeça e ao ver que não se move, digo mais animada posso:

— Pode entrar. Não fique aí parado.

Uma vez dentro, me estende a mão e diz:

— Sou Tito Fernández.

Eu a aperto e respondo:

— E eu sou Lua Blanco.

Quando eu fecho a porta, faço um gesto com a cabeça e ele me segue para a sala. Tony está deitado no sofá e ao ver seu estado, o homem se aproxima, ele passa a mão pelo cabelo e sussurra:

— Porra, Tony….

Eu não digo nada. Compreendo o seu gesto. Ver as condições em que o outro está é para dizer “Porra” e algo mais.

Lembro-me quando tive que ir buscar Rayco em alguma ocasião nesse estado para que meus pais não soubessem. “Porra” foi o mais suave que eu disse.

Finalmente, depois de um silêncio tenso, seu celular toca. O homem o pega. O ouço falar em inglês e, de repente, me estendendo o celular, diz:

— O irmão de Tony quer falar com você.

Surpresa, pego o telefone e saúdo alegremente:

— Olá, irmão do Tony.

Como esperava, continua irritado e responde sem saudação:

— Tito disse que tem o carro parado na porta.

— Perfeito! Vou ajudar a descer teu irmão.

— Como?!

— Que ajudarei a levá-lo até o carro. – repito.

— Você?

Bufo. Esse cara é burro. Não penso em chamá-lo de você por mais que esteja me tratando assim. Não me estranha que Tony tenha lhe posto a música do Tubarão.

— Sim. Eu. Embora não me conheça, tenho que esclarecer que tenho mais força do que você imagina.

Percebo que está espantado e rindo acrescento:

— Eu cresci com três irmãos e não seria a primeira vez que encontro em uma situação como esta.

— Senhorita, o que é tão engraçado?

Pequeno bastardo. Estou prestes a desligar, mas finalmente respondo:

— Eu rio da situação absurda.

Sei que minha resposta não agrada, porque ele também bufa! Não posso evitar soltar outra gargalhada.

— Pode parar de rir?

— Eu não posso, meu filho. – digo.

Ugh... Que momento inoportuno para rir. É sempre a mesma coisa!

Christian, bêbado, o namorado me olhando desesperado e o irmão no telefone com vontade de me estrangular e eu sem conseguir parar de rir.

— Eu não sou uma criança e muito menos "seu filho". – ele protesta.

Percebendo que não me entendeu, esclareço, enquanto o homem que tenho em frente sorri com dissimulação:

— Já sei que você não é uma criança, nem "meu filho", mas de onde eu venho, dizer: "meu filho" é uma frase carinhosa e me escapou sem querer.

Mas... Eu retiro!

Depois de um silêncio tenso, pergunta:

— Você teve um bom tempo com o meu irmão?

Eu sorrio. A verdade é que eu tive um tempo genial dançando com ele.

Os movimentos de Christian e o quão bem dança salsa. Mas seu tom de voz me faz entender que não está me perguntando isso e colocando as mãos na cintura, ansiosa em tê-lo na minha frente:

— O que você está insinuando?

— Eu não insinuo... Eu afirmo.

Bufo novamente. Esse idiota está pedindo e, disposta a comê-lo com patadas, dou um passo a frente e em um linguajar de favela solto:

— Olha, pedaço de imbecil, cuidado com que afirma, porque comigo está mexendo em areia movediça e eu não sou de ficar quieta quando as coisas não são verdadeiras. Felizmente para você, não te tenho de frente e além disso tem vários amigos dormindo na casa e não tenho intenção de acordá-los com as palavras que me encantaria te dizer, as mais desagradáveis, todas elas, seu bastardo, presunçoso e prepotente. Assim, uma vez dito isso, faz o favor de ir à merda.

— Hey!

— Oh... E agora vou ajudar a descer seu irmão, porque eu não sou da mesma vagina que você. Idiota!

Vou desligar quando eu o ouço dizer:

— Eu nunca conheci uma mulher desagradável e desbocada como você.

— Me alegra saber. As mulheres como eu, geralmente têm gosto e critério. E agora desaparece do meu ouvido, ridículo, e espero nunca mais falar com você.

Ele bufa. Eu também bufo e desligo.

De mim, bastardo nenhum ganha.

Histérica, eu olho para o outro homem, que estende a mão para eu devolver o telefone. Não diz nada, apenas sorri. Então ele se abaixa, pega Tony com facilidade, joga-o no ombro e quando chega a porta, diz:

— Obrigado por cuidar dele.

Concordo. Não tenho vontade de falar ou pensar e, quando sai, vou direto para a cama, morta de sono.
 

Lua já gostou de cara
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