Peça-me o que quiser (Adaptada)- Capítulo 2

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No dia seguinte, quando chego ao escritório, todos parecem felizes. Cruzo com Miguel e não posso deixar de sorrir. Ele e a chefe. Se eles soubessem que os vi... Mas, como não quero pensar nisso, vou até minha mesa e, enquanto ligo o computador, vejo que ele vem vindo.

— Bom dia, Lua.

— Bom dia.

Miguel, além de ser meu colega, é um sujeito muito simpático. Desde meu primeiro dia no escritório, ele tem sido um amor comigo e nos damos muito bem. Quase todas no trabalho babam por ele, mas, não sei por quê, em mim ele não surte o mesmo efeito.

Será que não gosto dos caras meiguinhos e sorridentes? Mas, claro, agora, sabendo o que sei e tendo visto como é bem-dotado, não posso deixar de olhá-lo de outra forma enquanto tento não gritar: “Garanhão!”

— Está sabendo que hoje à tarde tem reunião geral?

— Aham.

Como era de se esperar, ele sorri, segura meu braço e diz:

— Vem, vamos tomar um café. Sei que você adora um cafezinho e uma torrada da cafeteria.

Sorrio também. Como me conhece, esse desgraçado... Além de simpático e gato, o cara não deixa passar uma. Isso, somado a seu sorriso constante, é o grande atrativo de Miguel. Sempre gentil. É assim que ele enrola todas na conversa.

Quando chegamos à cafeteria do nono andar, vamos ao balcão, fazemos os pedidos e nos dirigimos à nossa mesa. Digo “nossa mesa” porque sempre sentamos ali. Paco e Raul se juntam a nós. Um casalzinho gay com o qual me dou muito bem. Como sempre, me dão um beijinho no pescoço e me fazem rir. Começamos a conversar e eu logo me lembro do que vi na noite anterior no estacionamento. Miguel e a chefe! Que trepada insana, e bem na minha frente. Que menino-prodígio, esse meu colega!

— O que houve? Você parece distraída — pergunta Miguel.

Sua abordagem me desperta. Olho para ele e respondo, tentando esquecer as imagens que surgiam na minha mente:

— Estou meio fora do ar, eu sei. Meu gato está cada dia mais fraquinho e...

— Que pena, o Trampinho — murmura Paco, e Raul faz uma cara compreensiva.

— Ah, sinto muito, querida — responde Miguel, enquanto segura minha mão.

Por alguns instantes conversamos sobre meu gato e isso me deixa ainda mais triste.

Adoro o Trampo e, inevitavelmente, a cada dia que passa, cada hora, cada minuto, seu tempo de vida diminui. É algo que aprendi a admitir desde que o veterinário me alertou, mas ainda assim me dói. Me dói muito.

Logo minha chefe chega, rodeada por vários homens, como sempre. É uma galinha!

Miguel a vê e sorri. Eu fico quieta. Minha chefe é uma mulher muito atraente. Cá entre nós, uma cinquentona poderosa, uma morena cheia de si, solteira mas não solitária, e que dizem ter vários casos na empresa. Cuida-se como ninguém e vai todo dia à academia. Ou seja, ela gosta... que gostem dela.

— Lua — me interrompe Miguel. — Falta muito?

Volto a mim e deixo de olhar minha chefe para olhar meu café da manhã. Bebo um gole de café e respondo:

— Terminei!

Nós quatro nos levantamos e saímos da cafeteria. Temos de começar a trabalhar.

Uma hora mais tarde, após tirar umas cópias e finalizar um documento, me dirijo à sala da minha chefe. Bato na porta e entro.

— Aqui está o contrato pronto para a sucursal de Albacete.

— Obrigada — responde secamente enquanto passa os olhos pelo documento.

Como de hábito, fico parada diante dela à espera de suas ordens. O cabelo da minha chefe é lindo, tão ondulado, tão cuidado. Nada a ver com meu cabelo castanho e liso que costumo prender num coque no alto da cabeça. O telefone toca e antes que ela me olhe eu atendo.

— Sala da senhora Mónica Sánchez. Quem fala é a secretária, senhorita Blanco. Em que posso ajudá-lo?

— Bom dia, senhorita Blanco — responde uma voz profunda de homem com leve sotaque estrangeiro. — Aqui é Arthur Aguiar. Eu gostaria de falar com sua chefe.

Ao reconhecer aquele nome, reajo depressa.

— Um momento, senhor Aguiar.

Minha chefe, ao escutar aquele sobrenome, larga os papéis que até então segurava e, após literalmente arrancar o telefone das minhas mãos, diz com um sorriso encantador nos lábios:

— Arthur... que bom você ter ligado! — Depois de um breve silêncio, continua: — Claro, claro. Ah! Mas você já chegou a Madri?... —

Continuo???
Comentem lindas :)

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