Mini fic: Difícil escolha - 3º Capítulo [NOVA]

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P.O.V.’s Lua

“Ou os tratamentos ou o bebé” – disse Larissa claramente.
Parece uma escolha fácil, não é? Por um lado, tenho um sonho e de outro lado tenho a minha saúde. A minha saúde está em risco devido ao meu sonho. Mas eu não posso desistir do meu sonho porque desistirei de viver. Porém, e se eu seguir o meu sonho e esquecer a saúde por momentos? Será que chegarei a ser mãe?

- Você tem uns dias para decidir. Eu sei que não é fácil e por isso contará com a ajuda de uma psicóloga que te ajudará.
- E eu vou ajudar também. – se adiantou Arthur
- Sim, claro. Você também tem de dar a sua opinião.

Em casa, o clima era tenso. Arthur tinha tentado falar no carro, mas eu o ignorei e coloquei o som da música mais alto, dando a entender que aquele momento deveria ser meu e do meu filho. 
E mil pensamentos vieram à tona. Possibilidades, meias certezas, desejos e expectativas. Se eu escolhesse uma coisa, teria de abdicar de outra e vice-versa. Acontece que eu não quero perder. Não quero perder esta batalha contra o cancro e não quero perder o meu filho. O meu primeiro filho. O meu sonho.

Eu não podia adiar a conversa. Arthur tinha percebido que estes dias eu só fugia do inevitável e fingia estar bem, mas todas as noites eu chorava. Ele me conhece. Somos amigos, somos casados. Almas gémeas.

- Eu sei que é difícil… - ele começou – Mas temos de falar.
- Eu sei. – dias pós a consulta, eu fui a outras consultas com a psicóloga que me aconselhou a falar com Arthur – Pode começar.
- O que você acha depois de tudo? As consultas com a psicóloga, e a escolha que você tem de fazer…
- Eu queria primeiro ouvir a sua opinião. O que você acha que eu deva fazer? Ou melhor, o que você quer que eu faça?
- Eu te quero do meu lado para o resto da vida. – ele me puxou para o seu colo – Só que para isso você tem de abdicar esse bebé. Mas pense Lua – ele segurou a minha mão e apertou – Assim como a gente fez esse, podemos fazer outros. Mas quando você tiver boa.
- Mas e se arriscarmos? A médica não disse com todas as letras que caso eu recuse os tratamentos que vou morrer.
- Mas você sabe que os tratamentos são a base… sem eles… você… pode não aguentar. E antes dessa criança, eu quero você!
- Não! Não! – me desesperei com as palavras dele e me levantei do seu colo – Você não pode ser assim, não pode pensar só em você.
-Mas eu não estou pensando só em mim. Eu estou pensando em você também, em nós.
- Mas e o nosso bebé?
- Mas você não entende que ele vai te tirar a vida?
- NÃO VAI! – gritei de um modo bem mais alto – Esse bebé vai me dar uma vida nova… vai me ajudar a me tornar feliz…
- Você não é feliz comigo? – Arthur se mostrava um tanto irritado, mas eu conseguia estar bem mais que ele – Eu acho sinceramente que você precisa de ir mais a essas consultas com a psicóloga! 

Passamos dois dias chateados. Falei com Helena, a minha chefe e quase melhor amiga e ela disse que Arthur tinha a sua razão de estar chateado. Mas eu também tinha. Helena me disse também que eu deveria seguir com os tratamentos e que novas oportunidades de engravidar virão. Talvez ela tenha razão. 

Para fazermos as pazes, enviei mensagem ao Arthur pedindo que me encontrasse à outra de almoço num restaurante tranquilo. Pedi os nossos pratos preferidos e um vinho bom para ele. Eu não podia beber álcool por causa da minha gravidez.

- Oi.
- Oi. – sorri e quase me levantei para poder beijá-lo, mas ele se abaixou para mim – Ainda bem que você conseguiu vir.
- Eu tenho duas horas de almoço. Deu perfeitamente.
- O clima está péssimo.
- Eu também acho. – concluiu ele. No final, riu. – Parecemos adolescentes chateados por coisas mínimas, ciúmes ou assim.
- É verdade… - eu ri – Mas você não acha que está na altura de nos reconciliarmos?
- É então a altura que você me pede desculpas?
- Sim. – respondi e ele se mostrou um tanto surpreendido
- Bom… não esperava que você cedesse tão rápido. Mas eu também tenho de te pedir desculpa. Eu não falei com você da melhor maneira…
- Eu vou seguir com os tratamentos.
- Vai? – ele pestanejou
- É o que está certo, né?
- Mas é o que você quer?
- Se isso fará com que você fique comigo… sim, eu faço.
- Não quero que faça só por mim. Quero que faça por você.
- Mas eu quero ser mãe. Eu quero ser mãe agora. – me contive para não desatar aos gritos no restaurante 
- Mas tem outras formas de você ser mãe… sem ter de gerar esse filho na sua barriga… nós podemos adoptar.
- Não é a mesma coisa.
- Você vai gostar. Te prometo. – ele apertou a minha mão por cima da mesa.


Perto da nossa casa havia um centro de acolhimento e foi de lá que resgatamos a Luz. Luz tinha 5 anos e perdeu a mãe à nascença e pouco ou nada sabemos do pai. 
Helena tinha contacto com esse centro e pediu para ficarmos com uma criança durante os tempos, não dizendo exatamente a razão de querermos acolher essa criança, porque caso queiramos adoptar o estado não permitirá porque eu tenho câncer. 
Compramos muitas coisas para a nossa casa de modo a fazer com que Luz se encaixasse na nossa família, porque no fundo é isso que nós somos: uma família. 
Luz passou a tomar o café da manhã, a almoçar e jantar com a gente. Nos levantávamos cedo para vermos os desenhos animados preferidos dela e depois o Arthur ia levar ela à escola. Depois do meu trabalho terminar, mais à tarde, eu ia buscá-la.

- Acha que devemos contar sobre o bebé?
- Eu acho melhor não. Você ainda não tomou a decisão.
- Eu também acho melhor não. – concordei
- Mamãe! – aquele som ecoou na casa. Luz vinha do seu quarto com o Sr. Urso que Arthur lhe ofereceu no dia em que ela chegou aqui.
- Mamãe? – repeti. Meus olhos brilharam, se encheram de lágrimas e segundos depois lá estava eu chorando. Meu coração ficou apertado e até larguei o celular no chão.
- Viu meu amor? – Arthur perguntou com os olhos totalmente marejados. Pegou as minhas mãos e me puxou para um abraço, mas naquele momento eu só queria abraçar Luz.
- Vem cá. – sequei as lágrimas rapidamente, olhando para o tecto e contando até três – Pode me chamar de mamãe sempre que quiser.
- Porque estava chorando?
- Eu não estava chorando… - gargalhei no momento – Mas eu estou muito feliz por te ter aqui. – confessei, a abraçando forte.

Luz era uma criança tão indefesa. A minha vontade era de ficar em casa e cuidar dela, mimá-la e dar tudo a que ela tem direito. E foi isso que fiz. Fiquei em casa. Arthur quase fez com que eu desistisse desta minha ideia, mas hoje eu queria um dia diferente.
Quem sabe um momento de compras, uma saída de, podemos dizer já, mãe e filha. Uma ida ao parque. 
Só não contava com uma dor.


P.O.V.’s Narrador

Helena quis saber a razão de Lua não ir trabalhar e não tardou a encher o seu celular de ligações. Porém, Lua se encontrava inanimada no chão da sala enquanto a pequena Luz tentava acordá-la. Na cabeça da criança, a mãe estava dormindo num lugar pouco apropriado. O celular tocava e Luz não tinha como lá chegar, pois ele se encontrava no balcão da cozinha. 
Não tardou para Arthur chegar em casa e ver Lua naquele estado. Helena havia ligado para ele, super preocupada, e na hora do almoço ele não tardou em ir ver o que estava acontecendo.

- O que aconteceu Luz? 
- A mamãe adormeceu. A gente ia sair. Talvez ela estava cansada. – explicou a criança tão inocente
- Meu deus! – Arthur se desesperou – Lua, acorda. Porra, Lua! – Arthur a pegou ao colo e coloco-a no sofá.

O próximo passo seria levá-la para o hospital.


Lua passou algumas horas à base de sedativos para o controlo das dores. Arthur parecia uma espécie de barata tonta no corredor do hospital. Ele achou que esta era também a altura certa para contar tudo aos pais da Lua. 
Os pais da Lua viviam numa cidade afastada. Sofreram muito com o afastamento da filha única e sofreram ainda mais depois de saberem que ela tinha câncer, da primeira vez. Porém, o maldito voltou a atacar. 
Lua só lhes havia dito que estava passando por uma nova fase na sua vida e que estava pensando em adoptar.

- Ainda bem que chegaram. – disse Arthur, cumprimentando os sogros – Isto não é fácil. Lua não está aqui pelas melhores razões.
- É a nossa neta? A Luz? O que aconteceu?
- Não… a Luz neste momento está com a Helena, a chefe e a amiga de Lua. A Lua está nos cuidados médicos. Ela… ela tem um grave problema e hoje voltou a ter uma dor forte, provavelmente, que a levou ao desmaio.
- Do que se trata? – Dona Blanco segurou forte a mão do seu marido e esperou o pior
- Câncer.
- Não acredito nisso.
- Ela não merece.
- Até quando isso vai atormentar a nossa vida? – os pais de Lua estavam revoltados com a vida.

Agora só podiam esperar e rezar pelo melhor.

- Arthur? – Larissa o chamou. Ele respondeu e ela foi ter com ele – Lua já acordou e pediu para falar com você.
- Posso vê-la? – perguntou a mãe
- Bom, nesse momento não. Nós estamos a prepará-la para uma cirurgia.
- Uma cirurgia? Como assim?
- Eu conto depois tudo. – respondeu Arthur, sendo depois levado para a sala onde Lua se encontrava.

Lua estava com uma bata verde, de cabelo preso e livre de qualquer roupa, deitada sobre uma maca.

- Amor. – chamou Lua
- Meu amor. – Arthur pegou as mãos de Lua e começou a chorar, assim como Lua. ele sabia já o que isto queria dizer.
- Eu resolvi escolher. Escolhi nós. um futuro diferente. Eu vou… vou tirar… o nosso bebé. – dito isso, Lua começou a chorar compulsivamente, não tendo Arthur meio de como a segurar, pois ele também estava triste.

A escolha estava feita. 

(...)

Um dos passos mais difíceis, para Arthur, foi ter de contar tudo aos seus sogros.
A desejada gravidez.
O inicio do sonho.
As dores na coluna.
As consultas.
A descoberta do câncer.
E finalmente a difícil escolha. 

A web está nos marcadores para quem quiser ler novamente e relembrar algumas coisas.
Vocês devem estar me odiando por eu não estar postando como antes e eu super entendo.
Vou postar o ultimo capítulo em breve.

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