"É estranho. Mas é do nosso jeito" - 43º capítulo

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P.O.V.'s  Lua Blanco



   O homem colocou também o seu equipamento e estávamos prestes a “descolar”. Os nervos não saiam do meu corpo. Eu não conseguia, de modo algum, pensar em outra se não no pior. Eu imaginava a gente pular desse pico e o parapente não abrir direito. Eu imaginava que o homem não conseguia manejar o parapente direito e que por acaso iríamos contra outro pico ou colina ou que por acaso descemos para o oceano ou para o meio da floresta. Gente, eu pensei milagres de coisas e todas elas eram negativas.

- Está pronta? – me perguntou
- Ainda não. – respirei fundo novamente
- Vamos logo Lua.
- Calma! – gritei com Arthur – Não é fácil pra mim
- Eu sei que não. mas muita gente quer pular e daqui a pouco isso aqui fecha
- Vão primeiro então – dei de ombros
- Não senhora. Você vai primeiro. – dizia o homem – Vamos lá. Você fecha os olhos e quando estivermos voando, eu te digo que está tudo bem e que pode abrir os olhos.
- Ok… - respirei fundo novamente – Você tem 100% certeza que isso vai dar certo né?
- Moçinha, eu faço isso há 15 anos e nunca, graças a deus, me aconteceu nada. Então…
- Tá… deixa eu só beber água. – peguei a garrafa da Natacha, que estava tão nervosa quanto eu, e bebi um gole. Na verdade, bebi quase metade da garrafa.
- Vamos?
- Sim. – assenti.

   Vieram três homens verificar tudo antes de saltarmos. Eles estenderam o parapente todo no chão e verificaram os fios presos aos nossos corpos. O parapente era enorme mesmo. Dobrado, daria um belo colchão para dormir.
   Estávamos a uns 10 metros da beira do Pico. O homem se benzeu e disse umas certas palavrinhas mágicas que só ele sabia, e eu confesso mesmo que não entendi ao certo do que se tratavam. Fechei os olhos. Eu queria me mentalizar de que eu estava segura e que tudo ia dar certo. Tive uma enorme vontade de falar com a minha mãe. Isso podia dar errado e eu podia morrer né? E me arrependo de não ter dado outro beijo a Arthur e me arrependo de ter gritado com ele.

- Aos três. – avisou o homem.
- Vamos lá. – espremi os olhos, tentando manter eles sempre fechados.

   O meu coração deu um pulo do tamanho do mundo. Eu parei de sentir os meus pés na terra e passou uma grande aragem pela ponta dos meus cabelos soltinhos. O homem estava gritando de entusiasmo e pedia que eu abrisse os olhos. Mas havia algo que dizia para eu não os abrir.
   Mas de que servia eu pagar uma viagem dessas e não desfrutar? Era como ir a Roma e não ver o Papa. Ganhei coragem. Abri um olho de cada vez e me deparei com uma vista deslumbrante. Algo inexplicável mesmo. Víamos as casas com menos de um milímetro. Os estádios nem pareciam os mesmos e as árvores me faziam lembrar mini brócolos/brócolis. E pessoas? Nem vê-las.
   Gritei. Gritei de felicidade. Aquilo parecia uma loucura. O meu sonho, de infância, de voar, estava finalmente sendo concretizado. Eu estava voando. Eu me sentia um passarinho livre. Liberdade era a única palavra que pairava na minha cabeça.
   O meu coração ainda não tinha parado um minuto que fosse (e é bom mesmo que não pare). Fechei os olhos por segundos e me livrei de todos os problemas. Aqui, sobrevoando neste céu, sou só eu e o silêncio. Mais ninguém. É uma solidão boa.

   O voo estava chegando ao fim. Eu estava vendo as coisas cada vez mais perto e estava com um certo medo da aterragem, confesso. O homem disse que poderia ter feito acrobacias, mas que era arriscado, visto que eu estava com um bocado de medo ainda.
   Ao longe, vi a galera, que já havia pulado, gritando o meu nome. Me senti uma verdadeira rainha.

- Se segura. – gritou o cara

   Segurei as cordas com força e me preparei para a aterragem. Eu não sei como seria, por isso reflecti as pernas. Já conseguíamos sentir o calor humano de novo. Foi um dos melhores momentos da minha vida.
   Em baixo, estava um pouco de vento. Eu não contava com isso. Estávamos descendo muito rápido e eu via a areia da praia cada vez mais perto, mas a uma velocidade muito louca. Eu sentia que me ia despistar ali mesmo.
   Senti os meus pés caírem na terra bruscamente. O homem caiu primeiro que eu. Eu caí por cima dele, saltando por cima e caindo de cara no areal. O parapente caiu por cima de nós. Por segundos, fiquei tão aflita, que nem consegui gritar.
   Todo o mundo veio ver-nos. Estavam todos rindo do meu rosto coberto de areia. A primeira coisa que fiz, foi olhar para todo o meu corpo e ver se eu realmente estava inteira. Teria eu sobrevivido ao salto de parapente?

- Olhem lá – gritou Caio – Vem mais alguém
- Deve ser o Arthur – disse eu. Estava agora sentada na areia, tomando água. As minhas mãos e os meus pés ainda tremiam, mas eu estava bem.
- Eu gritei muito. Mandei o povo se foder. Falei muita besteira. Ninguém me ia ouvir mesmo – deu de ombros Bruno – É muito irado. Eu quero repetir esse negócio.
 - Minha mãe vai ficar louca da vida quando souber que eu fiz isso
- Sua mãe não sabe? – Caio sentou ao meu lado
- Não – eu sorri de lado – Mas não tem problema. – dei de ombros.

   Me levantei ao mesmo tempo que Caio. Ele foi buscar o violão e eu olhei para a próxima pessoa que vinha de parapente. Parecia ser Arthur, pois ele vestia uma regata laranja.
   Daí Caio começa a tocar. Eu conseguia a música, era bem recente. “Sing”. Ele começou a cantar. Já não escutava aquela sua voz, de imitador sotaque inglês, há muito tempo.  Comecei a bater o pé, conforme o ritmo, depois me virei para trás e não resisti: fui me sentar ao lado de Caio. Formamos todos um círculo e cantamos em conjunto. Ed Sheeran, Coldplay, 5sos, entre outros.
   Escutamos um grande barulho e, quando olhamos para trás, vimos Arthur aterrando. Bruno e Matheus estavam mesmo ao lado dele, assim como Daniel e Bela. Eu me levantei e fui abraçar o meu namorado.

- Aê, sobreviveu também! – enchei ele de beijos e pulei no seu colo.

   Aos poucos, todo o mundo foi chegando. A maioria decidiu dar um mergulho no mar, outros ficaram na areia, como eu e Arthur.
   Eu tinha uma vontade imensa de abraçar Arthur por baixo daquelas suas roupas, assim como fiz há umas noites atrás quando dormi no quarto dele.
   Para deixar o clima bem romântico, o bobo desenhou um coração na areia e pediu para eu me sentar no meio. Se declarou, me beijou e até deitou em cima de mim. Parecíamos crianças brincando na areia. Eu necessitava de um banho.

- Posso dizer uma coisa bem clichê e horrivelmente romântica?
- Pode. – ele autorizou
- Eu fiz uma coisa pela primeira vez e você estava lá. – ri da cara dele.
- Nossa – ele me abraçou – Eu vou estar aqui sempre, sua boba.
- Adorei mesmo ter saltado de parapente. Mas preferia mil vezes ter saltado com você, do que com aquele homem de quarenta anos ou sei lá. Nem bonito se ele era. – cruzei os braços
- Pra bonito, basto eu, ok? – ele passou o dedo indicar na ponta do meu nariz.

   Propus a ideia de irmos para a minha casa, pois até ficava perto, e depois a minha mãe nos levava para o colégio, no dia seguinte quem sabe. Eu, Arthur, Bela e Daniel. Os quatro mosqueteiros.

- Vocês o quê? – minha mãe caiu histérica no sofá
- A gente pulou de Parapente, mãe. – repeti pela terceira vez – Olha só, deu tudo certo. Estamos vivos né?
- Mas não era preciso autorização? Quem se responsabilizaria caso vocês se machucassem? – perguntou ela irritada
- O que interessa é que ninguém se machucou.
- Como alguns são já maiores de idade, a gente deu uma pequena mentirinha, né tia? – Bela riu – Mas olha só, estamos vivos.
- Mas eu, por momentos, pensei que ia morrer de coração.
- Logo você, né sua medricas? – perguntou a minha mãe – Vocês devem estar esgotados.
- E estamos! – concordamos
- Vão para os quartos. Meninos de um lado, meninas de outro. – avisou a minha mãe – Tomem banho, coloquem os roupões e esperem pelo jantar.
- Sim, mãe. – dissemos todos em conjunto, soltando gargalhadas.

Dei as mãos ao Arthur e subimos para o andar de cima. Bela e Daniel nos seguiram.

- Como é claro – parei ao meio do corredor e cochichei – Cada casal para um quarto, certo?
- Certo! – Bela sorriu. Minha cúmplice.
- Eu acho melhor não…
- Verdade. – Daniel concordou com Arthur – Eu não quero abusar da hospitalidade da sua mãe. Ela foi legal em nos deixar ficar cá. Se fosse outra mãe, mandaria a gente para casa ou para o colégio.
- Sério isso? – olhei bem dengosa para Arthur, na esperança dele concordar em passarmos a noite juntos.
- Sério. - ele pegou as minhas mãos e beijou, indo para o lado de Daniel. Daniel, por sua vez, empurrou Bela para o meu lado.
- E se de noite a gente trocar? Aí não vai nem ter chances dela nos pegar.
- Depois pensamos nisso. – disse Arthur. Cruzei os braços e fiz bico. Queria muito estar com ele.

Eu e Bela seguimos para o meu quarto. Estava arrumado, tal como havia deixado da última vez que tinha lá estado. Me joguei na cama. Era a primeira coisa que eu tinha vontade de fazer mesmo. Sentia o meu corpo todo a doer. Estava bem cansada.

- Na verdade, o Daniel morria de vontade de ficar comigo, mas ele só queria ser gentil
- Tem a certeza? Vai ver o seu sexo não é bom – zoei
- O quê? Você queria ficar com o Arthur para transarem?
- Eu tenho muita vontade de ficar com ele. Mas acho que não teria coragem de transar com ele, sabendo que tem gente em casa. Eu queria apenas dormir agarradinha a ele. Assim, tá vendo? – apertei bem forte a minha almofada
- Idiota – Ana riu de mim – Mas depois vemos. Vamos tomar banho, jantamos e logo vemos se dá para dormir com eles ou não.

- Espero mesmo que dê. – suspirei. 

E aí? eles devem dormir juntos?



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