"É estranho. Mas é do nosso jeito" - 42º capítulo

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P.O.V.'s Lua Blanco


- Idiota! – dei de ombros – Esse jogo vai demorar?
- Um pouco.
- Na verdade, muito.
- Fato! Falta desempatar. E caso eu perder, vamos jogar de novo. E se empatar novamente, vamos jogar de novo. Vamos jogar até eu ganhar. – comentou Daniel
- E o meu namorado fica livre quando mesmo?
- Quem sabe na próxima primavera – disse bem irónico o Bruno
- Vão se foder! – mandei – Eu quero ele em 10 minutos no meu quarto. Ouviu Arthur?
- No quarto é? – ele perguntou todo safado sem me olhar. Nem respondi.

   Segui para o quarto. Encontrei Bela, pelo caminho, falando com um montão de gente. Mas no momento eu estava com dores de cabeça e necessitava da minha amável cama.
   E mesmo sem a visita de Arthur no meu humilde quarto, eu decidi dormir. O dia seguinte seria bem agitado. Teria educação física, português e matemática para terminar a manhã em grande – Ah não, espera (risos). Depois, como é claro, íamos de ônibus para o Pico da Tijuca, onde uma grande trilha nos espera.

(…)

   Era exatamente 11:53, quando um grande número de alunos se encontravam diante do portão do colégio. A professora de matemática decidiu começar a greve mais cedo e nem apareceu no colégio neste presente dia.
   De mochila às costas, cabelo preso, ténis calçados e uma roupa bem prática, nós todos entramos no ônibus e seguimos viagem.

- Continuo a achar que você deveria ter deixado o violão no colégio – comentava alguém a Caio, no banco de trás
- Nada disso. Eu não me separo dele. – dizia Caio bem confiante – E pelo caminho, na trilha, podemos fazer paragens. Não é assim, Lu?
- Eu não sei. – respondi, me virando um pouco para trás – A Bela é que sabe como tudo será.
- Estou muito desejoso. Já andei de asa-delta, mas nunca de parapente.
- Deve ser quase a mesma coisa – comentou Arthur, sem se virar minimamente para trás. Arthur estava sentado ao meu lado, no ônibus, do lado da janela e de óculos de sol no rosto.
- Lembra da vez que andamos de balão? Você morreu de medo. Só eu para te controlar – Caio deu uma risada gostosa e eu ri ao mesmo tempo, me lembrando dos tempos de escola
- Verdade. Mas eu tinha razão, se bem você se lembra. Estava um pouco de vento naquele dia.
- Quando chegamos na escola, começou a chover a sério
- Eu bem dizia que não queria ir. – ri – Mas pronto… o que importa é que correu bem.

   Andamos cerca de uma hora e pouco de ônibus. Depois, a trilha nos esperava. Era perfeita para iniciantes. Não tinha dificuldade alguma. A trilha inteira era protegida pela sombra das árvores, o que melhorava as coisas, visto que, apesar de não estarmos no verão, estava um dia bem quente!
   Arthur andava à minha frente, sempre calado. Eu tentava acompanhar o passo dele, dando-lhe a mão de vez em quando, mas ficava difícil porque ele sempre apressava o passo e eu tinha a minha mochila bem pesada.

- Espera um pouco. Vamos juntos.
- Vem logo então
- Eu pedi para você esperar. Qual a parte que você não entendeu? – perguntei grossa. Daí ele parou, bruscamente, e bateu o pé no chão, esperando por mim. Quando eu o alcancei, demos as mãos e continuamos andando. Dessa vez, num passo que eu conseguia perfeitamente acompanhar. – Está tudo bem? você quer água ou alguma coisa?
- Eu quero o Caio longe. Será que pode ser? – Arthur olhou para o cimo das árvores, tentando me evitar – Você ficou a viagem inteira no ônibus falando com ele. Risadinhas, histórias antigas… faltou falar o número de beijos que deram enquanto foram namorados.
- Eu não tinha noção do quão ciumento você é. Mas cara – eu ri – Eu vou levar isso numa boa. Vou até fingir que não ouvi as coisas que você disse, porque assim a gente não briga por coisas que não têm nada haver. Eu te amo e é isso que importa. – ri mais uma vez e continuamos a andar.

   Acho muito lindos os ciúmes. Mas ciúmes apenas. Não ciúmes excessivos.
   A trilha estava legal, até a gente descobrir que tínhamos de subir 117 degraus cavados junto à rocha. Para o meu alívio, teria uma proteção de um corrimão feito de correntes de ambos os lados. Mesmo assim, enquanto subia todos aqueles degraus, tremi muito. Arthur ficou o tempo todo atrás de mim, para que eu não escorregasse ou sabe se lá deus o que poderia acontecer.
   Depois de todos esses degraus, e finalmente, a trilha acabou. Estávamos em cima do Pico, onde encontramos uma série de profissionais que nos iam dar as regras básicas de segurança, enquanto fazíamos o voo de parapente. Éramos, ao total, doze pessoas. E lá, haviam doze profissionais, com os quais íamos descer.

- Está nervosa?
- Um pouco. Isso aqui é…
- Lindo?
- Também. – sorri – Mas assustador. E se algo dá errado?
- Nada vai dar errado. Confia em mim. – Arthur me encostou ao seu peito e me abraçou forte.
- O que foi princesa, já está com medo? – zoou Daniel
- Deixa ela – me defendeu Arthur
- Eu já fiz isso milhares de vezes e estou mais que pronta! – comentava Frederica. Ela estava de shorts bem curtos. Esperem… shorts ou calcinha? “E ficou aquela dúvida cruel, pairou aquela dúvida cruel”
- Ah sim, imagino – sorri falsa pra ela. Falsa que nem ela.
- Quem quer ser o primeiro? – perguntou um dos profissionais.
- Eu! – disse Jhulie toda atrevida. Aposto que ela se aventurou porque o homem é um dos mais gatos.
- Então vamos lá.

   E Jhulie foi a primeira. Colocaram todo o equipamento preciso nela e, aos três, eles pularam. Senti um frio na barriga e uma vontade imensa de ir ao banheiro, mas agora era tarde de mais. Quando vi os pés deles saírem do solo, eu comecei a tremer e os meus pés começaram a soar, bem como as minhas mãos. Eu odeio ter esse medo de alturas. Odeio mesmo.
   De seguida foi Anita, depois Matheus e assim por diante. Caio foi, seguido de Frederica, depois Daniel e até Bela foi primeiro que eu.

- Você quer ir primeiro para eu te dar um beijo de boa sorte ou quer que eu vá primeiro para, quando chegar lá abaixo, eu te receber com um beijo?
- Sinceramente? Meu deus, nem sei. – pensei um pouco – Bom, é melhor eu ir primeiro, porque assim nos despedimos com um beijo e, se eu morrer, morrei fazendo uma das coisas que mais amo na vida: te beijar.
- Minha tolinha! – Arthur veio me abraçar e beijar todo fofo. Não era paronia minha. Era uma realidade. Tanto poderíamos saltar e correr tudo bem, como poderíamos saltar e algo correr mal. Está apenas nas mãos de deus.
- Seguinte?
- Ai, sou eu. – mordi o lábio – Amor?
- Vai correr tudo bem! – tínhamos as mãos dadas e dava para ver perfeitamente as minhas gotas de suor sobre ambas as mãos. Arthur me beijou pela “última vez” e eu dei alguns passos até ao homem que ia saltar comigo. Eles começaram a colocar todo o equipamento em mim. Eu olhei para o além e achei tudo tão lindo. Daqui a pouco, eu estaria a sobrevoar sobre aquilo. Ou não.

E aí? vocês acham que ela salta ou não?

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