"É estranho. Mas é do nosso jeito" - 3º capítulo

|

P.O.V.'s Lua Blanco

   Queria sair do carro, mas as minhas pernas estavam tão pesadas que tive que suportar uma dor enorme para me levantar. Saí do carro e fui ver o homem que tínhamos acabado de atropelar. Felizmente, não havia ninguém passando a pé, ou seja, não houve testemunhas. O homem estava respirando, desacordado e tinha sangue por todo o lado.

- Vamos! Vamos embora! – Arthur tentava me puxar
- Não! Não vamos deixar esse homem aqui… ele precisa de ajuda médica. Ele pode morrer e…
- Ele não vai morrer. Confia em mim – ele segurou a minha mão
- Confiar em você? Está meio difícil, não acha? – o encarei
- Chamamos uma ambulância. O meu pai não pode saber disso e…
- O seu pai? Tudo o que importa agora é o seu pai?
- Ele está em época de eleições e…
- Esse homem provavelmente é pai de família e está à beira da morte.
- Vamos chamar uma ambulância!

   Fiquei de coração partido quando abandonamos o local com o homem ali, desacordado, esperando uma ambulância. Arthur tirou a placa do carro e todos os documentos e pistas que o pudessem incriminar.       Andamos a passo apressado, sem tentar dar nas vistas. Fomos até à praia. Era o único lugar que podíamos ir neste momento. Não ficava assim tão longe do local do acidente e podíamos perfeitamente ver a ambulância passar ou não.
   O rosto de Arthur tinha sangue marcado e outro que não parava de escorrer. Provavelmente estava lhe doendo, mas ele não queria mostrar a sua parte fraca. Eu sabia que ele estava com a consciência pesada. Ele não tinha falado nada o caminho todo e assim que chegamos na praia, ele foi para a beira do mar chutar pedras com as mãos nos bolsos.

- Me deixa tratar do teu rosto. – disse eu, me aproximando dele
- Não… não precisa.
- Precisa sim. – insisti. Ele se virou para mim.
- É melhor você tratar do seu braço. Eu vou te levar em um hospital, assim que a ambulância passar e…
- É só um arranhão. Acredite que o seu rosto está bem pior. E você não vai querer que as garotas te vejam assim, não é mesmo?
- Você é garota e está vendo.
- Acontece que eu não gosto de você
- Eu queria que essa noite fosse legal… - ele suspirou
- Se você não bebesse e não fosse irresponsável…
- Olha, eu já estou de consciência pesada o suficiente. Se aquele homem morrer, a culpa é minha.
- Não bebesse.
- Eu não vou beber mais. – ele disse aquilo como se estivesse prometendo algo
- É o que todos dizem. Eu não sabia que você tinha problemas com a bebida.
- E não tenho! – ele foi meio grosso – Eu só… só bebo, de vez em quando
- Viu no que isso deu? – virei as costas para ele – Olha lá, a ambulância.

   A ambulância passava a grande velocidade de luzes azuis acesas mostrando que o caso era realmente urgente. Passou 10 minutos e ela passou de volta, em direção ao hospital. Entretanto eu passei um lenço na ferida de Arthur e desinfectei com a água do mar. Ardeu e ele reclamou de dor, mas era bem feita!

- Eu espero que tudo dê certo para aquele homem.
- Eu também. – suspirei – E agora?
- Vamos para o colégio?
- Sim, é melhor. – fomos andando até à estrada
- Desculpa, por este encontro ter sido assim. Eu juro que queria que fosse diferente. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Falamos à menos de dois dias e tenho a certeza que você não ficou com boa impressão de mim.
- Eu nunca tive mesmo boa impressão de você.
- Porque não?
- Ainda pergunta? Você é um filhinho do papai. Gosta de andar com uma e com outra garota e é conhecido como o que transa em qualquer lugar.
- Qual quer lugar? Isso não é bem assim…
- Então é conhecido como o que transa com qualquer uma pessoa. – joguei na cara dele
- Eu só quero me divertir. Sou jovem. – ele se justificou
- Se você diz. – dei de ombros

   Voltamos para o colégio de táxi. Daniel e Bela haviam nos ligado e mandado mensagens, mas nem respondemos.
   Eu fui para o meu quarto e Arthur foi para o dele. Eu tomei um banho e depois de vestir o pijama, me coloquei na cama. Virei de um lado e de outro e não conseguia dormir de jeito nenhum. Ouvi umas batidas na janela e me assustei. Daniel fazia aquilo quando queria vir no quarto sorrateiramente sem o diretor ou alguém o ver.

- Quem é? – perguntei
- Sou eu Lua… o Arthur.
- O que você quer?
- Abre a janela. Por favor.

   Agitei as minhas roupas e o meu cabelo e abri a janela para ele. Ele estava com um pijama vestido também e tinha os cabelos molhados. Dei espaço para ele entrar e assim que o fez, fechou a janela.

- Eu não conseguia dormir. – disse ele
- Tenho cara de sua mãe para te contar histórias de embalar?
- Escusa de estar com 5 pedras na mão. Eu queria apenas… um ombro amigo.
- Eu não sou sua amiga e não te vou dar um ombro pra você chorar.
- Esquece então! – ele estava chateado – Não te incomodo mais. – Arthur ia sair pela porta quando eu falei…
- Espera! – disse eu – Desculpa… eu estou de cabeça quente.
- E você acha que eu não? – ele me encarou – Eu nunca passei por uma coisa dessas na minha vida. Eu atropelei uma pessoa e provavelmente estou fugindo à polícia, porque eles vão querer saber de quem era aquele carro. Eu tenho uma culpa no peito que você não imagina. Eu… eu… cara, eu quero desaparecer.
- Calma… - olhei para os seus olhos e vi eles lacrimejando – Tudo vai ficar bem. O cara vai ficar bem e a polícia vai esquecer este caso. Você sabe como é a polícia aqui do Brasil…
- E se não for desse jeito? E se eles não esquecerem? E se eles me descobrirem?
- NOS descobrirem! – corrigi ele, dando ênfase na primeira palavra – Eu estava lá…
- Mas eu é que dirigi. Eu é que bebi e… atropelei ele.
- Estamos juntos nessa. – engoli seco, não queria ter dito aquilo
- Obrigado por tudo… - ele sorriu fraco – Eu… eu posso te dar um abraço?
- Tudo bem… - fiquei um pouco envergonhada.

   Fazia tempos que eu não dava um abraço em alguém. Eu não tinha esse costume. Mas confesso que tinha saudades. Eu sonho muitas vezes o abraço de um garoto que eu ame, que não é o caso mas… Arthur é um garoto, por isso está valendo.
   Ele colocou os braços de volta da minha cintura e apertou. Eu tinha os braços nos ombros dele, me sentia pouco à vontade. Quando ele encostou o seu rosto no meu ombro, eu senti vontade de fazer o mesmo com o dele. Respirei fundo e acabei de me entregando. Afinal, eu estava precisando mesmo daquilo. Um abraço. Um ombro amigo. Alguém que me entendesse.

Hoje tem mais um capítulo se vocês comentarem muito!!

10 comentários: