"É estranho. Mas é do nosso jeito" - 20º capítulo

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P.O.V.' Lua Blanco


   E estava tudo tão calmo. Eu não estava dormindo, não conseguia. Estava pensando em tudo o que estava acontecendo à minha volta. Arthur bem tentava levar os meus pensamentos para longe, mas estava quase impossível. Mas adorei o facto de, pelo menos, ele ter tentado me animar.
   De um momento para o outro, o silêncio entre nós gera confusão com uma pessoa que entrando no quarto sem bater. Bela. Ela se depara comigo e com Arthur, deitados na cama. Ela começa a rir; fica chocada com uma das mãos na boca e com os olhos bem arregalados.

- O que é isso? – ela fechou a porta e nos encarou
- Isso digo eu! Nunca te ensinaram a bater à porta? O que você faz aqui? – Arthur se levantou da cama, me deixando de lado
- Eu vim… - Bela começou a rir de novo – Eu vim aqui porque o Daniel disse que vinha para cá e disse que parecia que você não estava bem… mas agora entendo que você está até bem de mais! Gente, eu não sabia que vocês estavam juntos. – ela riu, até eu olhar seriamente para ela e finalmente a retardada parar de rir – Sua vadia! O que você tem?
- Eu estou mal, ok? Pode me deixar em paz?
- Mal vão ficar vocês quando eu falar para todo o mundo que…
- Você não vai falar nada! – Arthur a interrompeu – Que droga Bela. Você tinha de estragar tudo?
- Tudo o quê?
- Tudo uê! Tudo! – disse eu
- A gente estava namorando escondido e você…
- Arthur! – o encarei. Levantei da cama, pegando a minha bolsa com intenção de sair
- Uê, ela viu! – ele pegou o meu braço – Só ela viu. Mais ninguém. – ele me chegou para mais perto do seu corpo e me abraçou de lado.
- Que lindos! – dizia Bela encantada
- Lindos o quê garota?
- Lua, sua vadia, pára, ok? Quem diria, vocês dois. Brigavam, brigavam, brigavam, mas no fundo se amam.
- Amar? Você enlouqueceu!
 - Ah não? Então se isso não é amor, é o quê? Amizade colorida?
- Tem como você ir embora? – fui nem um pouco simpática
- Porque está me tratando assim? – Bela se mostrou ofendida
- Eu vou embora! - andei de passo carregado até à porta
- Os pais dela brigaram
- E está assim por isso?
- “Por isso”? – imitei a voz dela – Pelo amor, né Bela? Eles estão prestes a se separar. Você quer que eu esteja como? Feliz? Pulando de alegria?
- Não sabia que o caso era sério…
- Mas é! – gritei – Eu vou embora.
- Espera… - Arthur me puxou pelo braço e me levou até ao corredor, encostando a porta do seu quarto – Você não devia falar com ela assim
- Ela é que começou. Quem mandou entrar aqui assim?
- Você está assim porque ela descobriu?
- Claro! – assenti e cruzei os braços – Ainda por cima ela vem com aquele papo de amor.
- E não é o que sentimos um pelo outro?
- Arthur, eu não sou assim. Entende? Eu não me entrego facilmente. Eu não me apaixono e…
- Não se apaixona? – ele riu sarcástico – É claro que se apaixona! Todo o mundo, um dia, se apaixona. Você é que tem medo de assumir o que sente
- O que eu sinto por você é forte. Duvida se quiser! – o encarei
- Eu sei que o que você sente por mim é forte. Mas se eu sei disso e se você sabe disso, porque não diz de uma vez que é amor?
- Olha… - quis arranjar uma desculpa qualquer, mas não consegui – Eu não sei. Deixa eu ir embora. Eu preciso de ver como está a minha mãe e…
- Estamos chateados?
- Não…
- De certeza?
- Sim, Arthur. – suspirei e depois de tanta briga, o beijei – Obrigada por tudo. – nos abraçamos forte.

   Para mim, existe o “gostar” e existe o “amar”. Para mim, uma coisa é muito diferente da outra. Eu amo os meus pais. Eu gosto do Arthur. Os meus pais são duas pessoas que cuidaram de mim, que me ajudaram, que me ama. O Arthur é um cara que conheço há pouco mais de um ano. Ele tem montes de defeitos e estamos nos conhecendo. Bom, é l-ó-g-i-c-o que não o odeio, mas também ainda não o amo. A nossa relação acabou de começar. Pra quê apressar as coisas?
   Além disso, sempre ouvi dizer que devemos namorar com alguém que nos ame mais, do que a gente os ame. Ou seja, o Arthur tem de me amar bem mais do que eu lhe amo. Então? Então que… ah, que confusão de vida!


- Filha, precisamos de conversar.
- Diga mãe. – entrei em casa e fui direta para o sofá. A minha cabeça estava a mil. Eu precisava de uma cama.
- Eu preciso de conversar sério com você. – seu rosto estava sério, diferente do normal. Ela estava sem maquilhagem e aparentava ter um rosto triste e cansado.
- Sobre o quê? – não a encarei. Eu sabia o que ela queria me dizer, por isso me limitei a baixar o rosto.
- Sobre… sobre mim e o seu pai. – ela suspirou – De dia para dia eu notei ele distante. É verdade que os trabalhos não ajudam, pois tanto eu como ele temos trabalhos difíceis. Mas você sabe que, sempre que eu ia trabalhar fora do país, ele dava o jeito de ir comigo, não é? – eu assenti – Acontece que nos últimos dois meses para cá, ele não tem feito isso. Ele dá desculpas do tipo “ah, tenho uma cliente nova” ou “ah, é um processo novo”, mas eu andei investigando e não é bem assim. Esta noite não dormiu em casa e isso aconteceu na semana passada e eu investiguei e ele não passou a noite na empresa, como tinha dito. Vi uma mensagem no celular dele, de uma vad… de uma mulher qualquer, marcando encontro para amanhã. Curiosamente, ele me diz que tem uma viagem amanhã e que vai passar a noite fora de casa. Mas viagem o quê? – ela se levantou – Ele pensa que eu sou quem? Uma ceguinha qualquer? Uma mulher louca de amores que não encare a realidade? Eu amo o seu pai, amo… mas não dá mais. A gente vai se separar.

    Engoli o meu choro. A minha mãe fez o mesmo. Eu assenti, sem dizer mais nada.

- Como eu trabalho no tribunal e ele é advogado, a gente vai acelerar os processos e o divórcio saí ainda esse mês! – ela respirou fundo – Você terá de escolher com quem quer ficar, filha.
- Sério isso? – meus olhos lacrimejavam
- Eu sei que você ama o seu pai, tanto como me ama a mim. Eu entendo se você quiser ficar com ele… mas eu queria muito que ficasse comigo.
- Eu odeio escolher, odeio – comecei a chorar.
- Eu sei filha, eu sei. Isso não será fácil para ninguém, mas eu estou fazendo pelo melhor. Acredite.
- Eu sei mãe… eu sei. – solucei


   E um mês passou. A minha mãe e o meu pai se divorciaram mesmo. Enquanto isso, passaram datas importantes como o meu aniversário, o natal e até o final de ano, mas não, não festejei. Estava sem cabeça. Nessas festas importantes, eu ia ter de escolher com quem ia querer ficar e eu não ia aguentar fazer isso.
   Meu pai saiu de casa e, duas semanas depois, me apresentou a sua namorada nova. Com certeza, a mulher com quem ele enganou a minha mãe. Ela se demonstrava simpática para comigo, mas eu não fui com a cara dela.
   Meus amigos estranhavam os meus comportamentos estranhos e sempre davam um jeito de me animar. Mas aquilo em irritava. Tinha dias em que eu só queria ficar em casa chorando, sozinha, mas ninguém entendia isso. Eu odiava sair à sua e ver gente se divertindo enquanto a minha mãe chora em casa devido a uma traição por parte do meu pai. O meu pai foi um dos únicos amores da vida da minha mãe.
   Arthur era o único que me entendia. Ele insistia em ficar comigo, no meu quarto bem sozinhos, onde ele me fazia dormir e até soltar um simples sorriso. Ele dizia que não gostava de me ver triste e, que, se eu estava triste, eu também ficava. Ele não se cansava de desenhar para mim. Por vezes cantava (muito mal). Por vezes, confesso, que o tratava mal…

- Filha, hoje vou receber uma amiga aqui em casa… - disse a minha mãe, colocando só a cabeça dentro do meu quarto, enquanto abria um pouco da porta.
- Tudo bem, eu saio. – respondi, sem tirar os olhos do celular
- Nem pensar. Você fica.
- Ah não mãe, eu não vou aturar as suas amiguinhas chatas que só vão falar de maridos e…
- Não se preocupe querida, ela é divorciada! – minha mãe deu risada. – E outra, aquele seu amiguinho, aquele bonitinho, filho do político, está lá em baixo para te ver. Ele vem aqui todos os dias, filha. Ele é seu amigo ou seu namorado?
- Namorado, mãe. – respondi sem querer esconder nada, até porque já nem me importava com isso.
- O QUÊ? – minha mãe gritou e entrou de uma vez no meu quarto – VOCÊ ESTÁ NAMORANDO E NÃO ME DISSE NADA? – minha mãe sentou na minha cama e exigiu explicações.
- Mãe, menos. A gente namora já a algum tempo, mas não precisa de drama, ok? Ele é um garoto como todos os outros.
- Mas você não gosta dele?
- Se eu não gostasse dele, ele não estaria aqui. – fui muito clara
- Desculpem… - Arthur foi entrando no meu quarto, envergonhado – A dona Maria falou que eu podia subir então… eu vim. – ela sorriu fraco
- Pode entrar, com certeza! – minha mãe se levantou da cama rapidamente e foi abraçar o garoto, de lado – Eu vou mandar preparar um lanche para vocês. Filha, não esquece de ficar bonita para o jantar. – minha mãe saiu finalmente. Arthur fechou a porta do meu quarto e veio se sentar ao meu lado.
- Tenho sentido a sua falta… - disse meio tímido
- Temos estado quase todos os dias juntos – dei de ombros
- Mas não do jeito que eu gostaria… - ele se aproximou e eu o encarei – E nem desse jeito que provavelmente você pensou. Mas sei lá, você tá fria, está distante…
- Eu estou cheia de problemas, só isso.
- Mas é só você falar comigo. Como tem feito até agora.
- Você é meu namorado, não meu psicólogo. – atirei, sem dó nem piedade
- Certo… - Arthur suspirou. Ele se levantou, andou um pouco pelo meu quarto, sempre calado, até se sentar na minha secretária, pegar uma folha de rascunho que eu tinha lá jogada e um lápis. Dei de ombros.

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