"É estranho. Mas é do nosso jeito" - 19º capítulo

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P.O.V.'s Lua Blanco

   À noite, Arthur me ligou. A gente sempre fala antes de ir dormir e ao acordar também.

- O Daniel desconfiou hoje do nosso abraço. Ele disse que pareceu-lhe que ali havia algo mais que amizade.
- E o que você disse?
- Neguei até à morte. Disse muito mal de você
- Que mau! – fingi ficar triste
- Desculpa
- Fica calmo – eu ri – Está feliz?
- Muito mesmo! – ele me pareceu sincero - E mais ainda porque você está do meu lado.
- Estarei sempre do seu lado. Eu só quero o teu bem. Eu quero ver você feliz e saber que eu sou uma das causas para assim estar. Eu quero fazer o que nunca ninguém fez com você
- Isso suou a uma declaração
- Pára – eu ri
- Ficou lindo pequena, fala de novo algo assim…
- Arthur, é sério, pára. Eu vou desligar…
- Não, não. Não desliga, por favor. Eu gosto de ouvir a sua voz.
- Eu também gosto da sua…
- Se declarou de novo – ele riu e eu desliguei a ligação. Idiota. Sempre me deixa envergonhada.


   No dia seguinte, assisti a uma discussão dos meus pais. Não sei exactamente do que estavam discutindo, mas de um momento para o outro comecei a ter a mínima ideia. A minha mãe estava com ciúmes de um caso que o meu pai estava resolvendo.

- Ela está só dando em cima de você! Eu aposto que nem há caso nenhum! Vocês devem estar metidos, isso sim!
- Por favor, não dramatiza. Você não tem mais 16 anos para ter crise de ciúmes
- Você nunca me deu razões. Mas esta noite não dormiu em casa
- Eu fiquei na empresa até tarde. Pergunte a quem quiser
- Você deve ter pago caro para mentirem para mim. Porque eu liguei para lá e disseram que você ficou lá mesmo!
- Então? – ele encarou a minha mãe – Não tem motivos para brigas! – ele a abraçou e ela logo a empurrou
- Você cheira a vadia!
- Tá louca?
- EU NÃO ESTOU LOUCA! VOCÊ ESTEVE COM OUTRA! FILHO DA MÃE! – a minha mãe pegou um vaso de flores e jogou contra o meu pai, mas ele se desviou e o vaso caiu no chão. – SAÍ DAQUI, SAÍ! EU NÃO QUERO TE VER MAIS, SAÍ DAQUI…

   Desatei a chorar e fui para o meu quarto. Não aguentava ver mais aquela cena. A minha cabeça estava confusa, confusa de mais. O que estava acontecendo? Desde quando os meus pais brigam? Eu brigava com eles pelo excesso de “love” e de um momento para o outro eles ficam assim?
   Arthur. Foi o primeiro nome que me veio à cabeça para ligar. Necessitava de falar com alguém e foi só nele que consegui pensar. Ele demorou a atender, até que desisti de ligar. Caí no choro, na minha cama, desejando que tudo o que eu tivesse visto fosse ilusão. Eu já estava imaginando o pior.

   Depois de tomar um banho, recebi uma ligação do Arthur.

- Bom dia, pequena! - disse ele, parecia animado – Você não vai acreditar! Fiz agora a prova de física e me correu muito bem. Acho mesmo que vou conseguir subir as notas, fazer equivalência e me livrar essas aulas chatas. – ele parou de falar e, supostamente, me escutou chorando – Lua, você está bem?
- Não… Arthur, eu… eu preciso de você aqui. – solucei
- Lua, o que aconteceu? – ele ficou aflito – Onde você está? Eu vou já com você e…
- Eu estou em casa. Mas eu quero sair daqui. Necessito de sair daqui.
- Quer ir pra praia?
- Não…
- Parque?
- Não…
- Minha casa?
- Tudo bem…
- Quer que eu te vá buscar?
- Não… eu chego lá. Só não demora. – pedi

   Passei pela sala num abrir e fechar de olhos. Deixei um bilhete na sala, dizendo que ia para a praia com uns amigos. A casa parecia estar tão vazia. Vazia de barulho. Mas cheia de problemas. O carro do meu pai não estava à porta de casa, como sempre ele deixa. Aposto que foi embora.
   Arthur me esperou na sua porta de casa e quando nos encontramos, ele me fez chorar mais. Me abraçou com força, deixando eu colocar a minha cabeça no seu ombro e de seguida sussurrou um “calma, já vai passar”.
   Entramos na sua casa, indo para o seu quarto. Pelo caminho, nos cruzamos com a mãe dele. Arthur disse que eu era sua amiga e que nesse momento queria ficar sozinho comigo. A mãe dele assentiu.
   No quarto, expliquei para ele tudo o que tinha acontecido. Ele me ouviu com atenção e limpava as minhas lágrimas a toda a hora que elas insistiam em cair.

- Você desconfiava de alguma coisa?
- Não… eu notei que eles não jantavam mais juntos, pelo menos nessa semana, mas pensei que fosse excesso de trabalho. Todos estes anos é excesso de trabalho. Mas será que o meu pai traí a minha mãe todos esses anos?
- Será que não foi apenas uma recaída?
- Uma recaída? Que recaída, Arthur? Só pessoas com problemas mentais é que têm recaídas. O meu pai não é assim! Ele é um homem… ah cara, nem quero saber! – abracei Arthur bem forte – Estou um caco.
- Eu estou aqui! – ele passou a mão nos meus cabelos

   O celular dele tocou e me afastei para que ele pudesse atender à vontade. Enquanto isso, peguei o meu lenço e voltei a limpar o meu rosto. Suspirei e deitei na cama dele.

- Eu vim para casa. – disse ele ao celular, olhando para mim – Não tem problema, depois eu justifico. – respondeu ele novamente – Tá, fala alguma coisa, que eu passei mal ou algo assim. Abraço. – ele desligou a ligação – Era o Daniel
- Você estava no colégio?
- Sim, estava…
- Droga! – me levantei – Droga, desculpa. Eu não sabia… quero dizer, eu não me lembrei.
- Não faz mal
- Faz sim! Isso tá errado. – insisti – Eu tenho de aprender a resolver os meus problemas. Você tem os seus, que não são nada fáceis e eu..
- Lua, calma! – ele pegou a minha mão e me puxou para um abraço – Vamos deitar aqui. – ele me puxou para a cama – Você vai dormir no peito, enquanto eu vou te fazer carinhos e vai ver que vai acordar como nova.
- Só você… - sorri fraco.
- Namorado é para essas coisas… - ele passou as mãos pelos meus cabelos que batiam até metade das costas. – Sempre que precisar eu estarei aqui. E não precisa de ficar com vergonha para me pedir alguma coisa. chega de orgulho, não é? – ele riu baixo



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