Paixão Sem Limites - Capitulo 16

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Capitulo 16

Arthur abriu a porta e recuou para eu poder passar. Entrei na casa e segui na direção da cozinha.
- Seu quarto agora é lá em cima - disse ele, rompendo o silencio.
Eu sabia disso, mas estava distraída com outra coisa. Eu me virei e me encaminhei para a escada. Ele não me seguiu. Quis olhar para yrás e ver o que ele estava fazendo, mas não consegui.
- Eu tentei ficar longe de você.
As palavras dele soaram sombrias. Parei e tornei a me virar para encará-lo embaixo; ele estava em pé no primeiro degrau da escada, com os olhos erguidos para mim. A expressão sofrida do seu rosto me deu um aperto no coração.
- Naquela primeira noite, tentei me livrar de você. Não porque você me desagradasse. - Ele deixou escapar uma risada dura e amarga. - Mas porque eu sabia que ficaria a fim de você. Que não conseguiria manter distancia. Talvez eu a tenha detestado um pouquinho nessa hora, por causa da fraqueza que você conseguiria encontrar em mim.
- O que há de tão errado em você ficar a fim de mim? - perguntei. precisava que ele me respondesse pelo menos isso.
- É que você não sabe tudo e eu também não posso contar. Não posso revelar os segredos da Gi. São dela. Lua, eu amo a Gi. Durante a vida inteira eu a amei e protegi. Ela é a minha irmã mais nova. É isso que eu faço. Mesmo que eu queira você como nunca quis nada na minha vida, não posso revelar os segredos da Gi.
Cada palavra que saía da sua boca parecia estar sendo arrancada lá de dentro. Giovanna era mesmo a sua irma e esse tipo de lealdade e amor eu entendia. Se pudesse, teria morrido por Estrala. Ela era só quinze minutos mais nova do que eu, mas eu teria feito tudo o que ela precisasse. Nenhum cara, nenhuma outra emoção, poderia ter me levado a traí-la.
- Isso eu entendo. Tudo bem. Não deveria ter perguntado. Desculpe.
Eu estava arrependida. Tinha me intrometido na vida dele e na da sua irmã. É claro que o que Mel sabia, fosse o que fosse, era algo que eu não deveria saber. Se ela achava que a necessidade que Arthur tinha de proteger a irmã seria uma questão entre nós, estava enganada.
Ele fechou os olhos com força e murmurou alguma coisa. Algo e estava atormentado. Talvez aquela situação tivesse despertado uma lembrança ruim. Por mais que eu quisesse descer lá e lhe dar um abraço, sabia que nesse exato instante não era bem-vinda. Tinha estragado tudo.
- Boa noite, Arthur - falei e subi a escada.
Dessa vez não olhei para trás. Fui direto para o meu quarto.
Com as janelas do andar de cima, não havia como não perceber quando amanhecia; não era preciso nenhum despertador. O sol tinha me acordado uma hora antes do alarme tocar. Tomei uma ducha e me vesti sem pressa, agora que tinha um banheiro contíguo e mais espaço para me mover.
Não estava com disposição para comer a comida de Arthur de manhã. na verdade, não estava com disposição para comer nada, mas tinha que trabalhar dois turnos, então precisava de comida, Daria uma passada no café para uma dose de cafeína e um muffin. Era nossa responsabilidade manter  lavadas e passadas a saia de linho preta curta e a blusa de algodão branco de botão que usávamos como uniforme ao trabalhar no salão do clube. Na véspera, eu dedicara algumas horas a passar a ferro as poucas peças que tinha em casa.
Calcei os tênis e desci. Ainda não ouvira nenhuma atividade no andar de cima, por isso sabia que Arthur não estava acordado. Pela primeira vez, fiquei grata por não ter que encontrá-lo. Depois de uma noite de sono, os acontecimentos da véspera  me deixavam envergonhada.
Eu não somente havia deixado Arthur me tocar em lugares que jamais deixara ninguém tocar como depois tinha me comportado feito uma doida enxerida. Devia desculpas a ele, mas ainda não estava pronta para me desculpar.
Fechei a porta da frente sem fazer barulho e fui até a picape. Pelo menos só voltaria para casa depois de escurecer. Não precisava encarar Arthur pelas próximas doze horas.
Quando cheguei, Diego já estava na sala dos funcionários, de avental. Depois de sorrir para mim, fez um biquinho com os lábios.
- Xi, parece que alguém não teve uma boa manhã.
Eu não podia contar os meus problemas para Diego; ele também conhecia os envolvidos. Tinha que guardar tudo aquilo para mim.
- Não dormi muito bem- falei.
Ele fez um muxoxo.
- Que pena. Dormir é uma coisa tão bela.
Assenti e bati o meu ponto.
- Estou sozinha hoje? - perguntei.
- Claro. Bastou você me seguir por duas horas para aprender tudo. Deve tirar de letra o dia de hoje.
Fiquei feliz pós alguém pensar isso de mim. Peguei uma prancheta de pedidos e uma caneta as guardei no bolso do avental preto.
- Hora do café da manhã - disse Diego com uma piscadela antes de abrir a porta que dava para o salão. - Epa, parece que o patrão está na mesa oito amigos. Por mais que eu fosse adorar ir lá manjar aquelas bundas bonitas, eles vão preferir você. Vou servir as mamães madrugadoras do tênis na dez. Elas boas de gorjeta.
O que eu menos queria nessa manhã era servir Fernando e os seus amigos, mas não podia discutir com Diego. Ele tinha razão: receberia gorjetas melhores das mulheres. Elas o adoravam.
Fui até a mesa dos rapazes. Fernando ergueu os olhos para mim e sorriu.
- Você fica muito melhor aqui - falou quando parei na frente deles.
- Obrigada. É bem mais fresco - respondi.
- Lua subiu na vida. Talvez eu tenha que vir comer mais aqui - disse o louro cujo nome eu ainda não sabia.
- Talvez isso seja muito bom para o movimento - concordou Fernando.
- Como foi a sua noite com Mel? - indagou Chay. Sua voz tinha um leve traço de agressividade. Aparentemente, ele me culpava pelo comportamento dela, mas eu não estava nem aí. Para mim ele era um zero á esquerda.
- Foi divertido. O que desejam beber? - perguntei, mudando de assunto.
- Café, por favor - entrou o louro.
- Ok, entendi. Assunto proibido. Código de amizade feminina, essas paradas. Vou querer um suco de laranja - falou Chay.
- Café para mim também - disse Fernando.
- Já volto com as bebidas - respondi e, quando virei as costas, vi que havia mais duas mesas ocupadas.
Como Diego já estava atendendo uma delas, fui na direção da outra. Levei um segundo para perceber quem estava sentada ali. Meus pés pararam de se mexer e fiquei olhando Giovanna jogar os longos cabelos para trás do ombro e me olhar de cara feia. Procurei por Diego, que terminava de anotar os pedidos de bebidas da segunda mesa. Eu tinha que fazer aquilo. Estava sendo boba. Ela era a irmã de Arthur.
Forcei os meus pés a se moverem e fui até lá. Giovanna estava acompanhada por outra menina que eu nunca tinha visto antes, tão glamourosa quanto ela.
- Felipe deve estar deixando qualquer um trabalhar aqui hoje em dia. Preciso dizer a Fernando para falar com o pai dele sobre ser mais seletivo com os empregados - disse ela devagar, e alto.
Senti o rosto esquentar e soube que estava vermelha. Nesse exato momento, precisava apenas provar que era capaz de fazer aquilo. Giovanna me odiava por motivos que eu desconhecia. A menos, é claro, Que Arthur tivesse dito para ela que eu andara metendo o bedelho nos seus assuntos. Não parecia algo que ele fosse fazer, mas eu não o conhecia tão bem assim. Não mesmo.
- Bom dia, em que posso ajudá-las - perguntei o mais educadamente possível.
A outra manina deu uma risadinha sarcástica e abaixou a cabeça. Giovanna me lançou um olhar raivoso, como se eu fosse algo repugnante.
- Em nada. Eu espero ser servida por alguém com mais classe quando venho comer aqui. Você não server.
Tornei a olhar para ver se achava Diego, mas ele tinha sumido. Giovanna podia até ser a irmã mais nova de Arthur, mas era uma tremenda de uma vaca. Se eu não precisasse tanto daquele emprego, diria a ela para ia se catar e iria embora.
- Algum problemas aqui? - perguntou a voz de Fernando atrás de mim.
Pela primeira vez desde que o conhecia, fiquei aliviada com a sua presença.
- Tem, sim. Você contratou uma vagaba. Quero que a mande embora. Eu pago caro demais como sócia deste clube para tolerar esse tipo de serviço.
Seria porque eu estava morando na casa do seu irmão? Será que ela odiava o meu pai também? Eu não queria que ela me odiasse, pois nesse caso Arthur jamais se abriria comigo.
- Giovanna, você nunca pagou para ser sócia daqui. Só frequenta o clube porque o seu irmão deixa. Lua é uma das melhores funcionárias que já tivemos e nenhum outro sócio pagante reclamou. Com certeza não o seu irmão. Sendo assim, querida, pode recolher as garras e descer do salto. - Fernando estalou os dedos e Diego se aproximou depressa da nossa mesa. Devia ter saído da cozinha durante a discussão e eu não tinha percebido. - Diego, por favor, pode atender Gi e Lais? Parece que a Gi tem algum problema com Lua e não quero que Lua seja forçada a servi-la.
Diego assentiu. Fernando me agarrou pelo cotovelo e me conduziu de volta em direção á cozinha. Eu sabia que estávamos chamando a atenção, mas não liguei. Estava apenas muito grata por me afastar dos observadores curiosos e poder respirar um pouco.
Assim que a porta da cozinha se fechou atrás de mim, tornei a respirar normalmente.
- Lua, eu só vou dizer isso uma vez. Você me deu um bolo outra noite na casa do Arthur e não tive que perguntar o motivo: bastou saber que ele havia sumido para entender. Você tinha tomado a sua decisão e resolveu recuar. Mas o que aconteceu aqui hoje foi só um gostinho. O veneno daquela vaca é poderoso. Ela é amargurada e feroz e, quando chegar a hora de escolher, Arthur vai optar por ela.
Eu me virei e o encarei, sem entender direito o que ele estava querendo dizer. Com um sorriso triste, Fernando soltou o meu cotovelo e voltou para o salão. Ele também conhecia o segredo; tinha que conhecer. Aquilo ainda iria me deixar maluca. Que história tão importante seria aquela?
                                                                                                                                          Continua....

Um comentário:

  1. Eu tbm fiquei curiosa pra saber o segredo da vacalotti,fala logoo o segredo por favor

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