"Certezas" - 17º Capítulo

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No capítulo anterior…

POV ARTHUR

- Eu não vou ficar com risco. Se eu estiver com você, eu fico sempre bem.
- Tem a certeza?
- Tenho! – ela me deu um beijo no rosto que me fez tranquilizar

Apesar de ser cedo, espero que a Lua não se importe de eu ir até à casa dela e acordá-la, para que possamos passar um belo dia fora de casa. As temperaturas não me estavam a ajudar muito, mas do que depender de mim, a Lua vai passar muito bem.

Por incrível que pareça, ontem, antes de sair de casa da Lua, dei de caras com a mãe dela. Implorei que me desculpasse. No final, ela confessou que nem estava assim tão chateada. A pior parte veio depois. Insisti para que ela me deixasse levar a Lua a passear comigo e ela disse que deixava, mas se acontecesse algo à Lua, eu nunca mais entrava naquela casa.

Me certifiquei de que tudo ia dar certo. Vi e revi os horários dos onibus todos que tínhamos de apagar; pedi dinheiro adiantado aos meus pais, caso fosse preciso; enviei cinco mensagens à Ana (que é minha parceira nesta surpresa para a Lua) para que ela colocasse direito a bolsa da Lua com os medicamentos, e bom, em princípio, tudo estava certo!

O meu pai me deixou na casa da Lua às 7:55 da manhã. Faltavam cinco minutos para eu poder acorda-la. Estrela, que estava saindo de casa para ir trabalhar, me abriu a porta e pediu para que eu entrasse.

- Arthur, vem! – disse ela, me chamando para dentro – Eu arrumei a bolsa da Lua, ontem. Lá tem tudo o que ela precisa. Lembra do que a minha mãe disse, né? Olha que ela estava falando mesmo a sério.
- Eu sei. Não a vou desiludir. Eu só vou fazer a Lua feliz, por hoje.
- Ela ontem estava muito contente depois que você esteve lá. Já estão bem? como antes?
- Posso dizer que estamos melhor que antes – sorri envergonhado
- Me conta vai! – ela quase implorou, soltando risinhos de animação e curiosidade
- Mas ainda não tem nada para contar – eu ri
- Ainda? Mas como assim? Arthur Aguiar, juízo hein! – ela me deu um leve tapa no ombro – Faça a minha irmã feliz, pelo amor de deus.
- Eu sei. Eu vou fazer, não se preocupe.
- Bom, vou trabalhar. Juízo!
- Pra você também. Até logo.

A mãe da Lua já havia saído para trabalhar também. A casa estava calma, notava-se mesmo a “ausência” da Lua. A garota continuava dormindo. Enquanto eu subia as escadas para o quarto dela, tentava ganhar coragem para a acordar nesta manhã fria. Tenho a certeza que iria reclamar e tentar me convencer para não sair da cama.
Até pensei em bater na porta do seu quarto, mas para quê? Ela não ia mesmo ouvir, pois estaria dormindo. Eis que me surpreendo. Entro no seu quarto e a vejo sentada na cama, de rosto baixo com algo sobre os joelhos. Assim que me aproximei dela, a pequena suspirou. Estava visivelmente triste. Mesmo já dentro do seu quarto, ela nem sentiu a minha presença lá. Quando me viu, se assustou.

- O que faz aqui tão cedo? – ela pegou a fotografia que estava no seu colo
- Bom dia! – sorri pra ela – Está tudo bem?
- Está… - ela suspirou novamente. Pegou a foto que tinha e guardou na gaveta do pequeno armário, perto da cama.
- Não está. Eu sei que não está. – fiquei bem perto dela, por trás e pousei o meu queixo no seu pescoço – Me diz.
- O que você faz aqui, Arthur? – ela voltou a fazer a pergunta e se afastou de mim novamente
- Surpresa.
- Eu sabia! – ela sorriu – Percebi a excitação da minha irmã ontem
- Mas não muda de assunto. – fui mais teimoso

Lua voltou a suspirar pela terceira vez desde que estou no seu quarto. Ela olhou para o tal, apertou os olhos e mordeu os lábios. Suas mãos estavam fechadas, em forma de punho. Ela inspirou e expirou novamente e olhou para mim. Ela não queria falar nada. Algo estava errado, eu sabia disso. Logo ela meio me abraçar e deitou a testa no meu ombro. Não demorou muito para começar a chorar.

- Faz uma semana que o Matheus morreu.
- Ahh, é isso…
- “É isso”? – ela me imitou – Como você consegue dizer isso dessa forma? Estamos a falar de alguém que morreu. E não de alguém que viajou, entende a diferença? – ela agora chorava de verdade
- O que você quer que eu diga? Eu não conheci ele como você. – ela não disse nada. Olhou para a janela, colocou os braços refletidos no parapeito da janela e se debruçou – Lua, por favor, esquece um pouco isso. – ela balançou de forma negativa a cabeça – Bom, esquecer eu sei que é difícil, mas pelo menos tenta se distrair com outras coisas. Olha pra mim. – pedi – Eu hoje vim todo bonito – dei uma voltinha – Só para você. Só para te fazer uma surpresa. Queria te ver feliz.
- Hoje nem rola… - ela foi se sentar na cama
- Como não? Eu acordei cedo num sábado, não vou para a explicação da faculdade e você me diz que não vai sair comigo? – me debrucei sobre os seus joelhos – Vai me deixar na mão? – ela continuava sem dizer nada. Apenas olhava nos meus olhos. – Bom… sendo assim… vou para casa. – fingi – Vou para o meu quarto, chorar uma missão falhada de te fazer feliz neste dia chuvoso. Vou me encher de chocolate, fique sabendo. Meu pai vai dizer que sou um falhado porque você não aceitou sair comigo.

Saí do seu quarto sem olhar para trás. Ela não tinha dito uma palavra. Esperei no corredor. Eu esperava ela vir atrás de mim e implorar que eu não fosse embora. Mas nem isso ela fez. Suspirei. Ia ser difícil tirar ela de casa num dia desses.
Dei uns passos até à porta do seu quarto e sem entrar, falei.

- Agora era a parte em que você vinha correndo, pedindo para eu não ir embora.
- Bobo… - fiz ela sorrir. Entrei em seu quarto e fui até ela novamente
- Eu fiz de tudo pra que tudo hoje desse certo. Vai me deixar na mão? – voltei a perguntar – Por favor, vamos sair. É uma surpresa. Uma não… várias. – eu ri
- Não sei…

Decidi por em ação o meu segundo plano. Tive que fazer aquele ar de pidão que ela nunca conseguir resistir.

- Vista uma roupa bem apresentável e leve outra mais desportiva, pois vamos precisar
- Então qual devo colocar primeiro?
- A desportiva. – disse

Depois de lhe arrancar umas poucas gargalhadas, consegui fazer com que fosse para o banheiro, se arrumar. Passados 30 minutos, saímos de casa.

Como já havia dito, íamos de onibus. Estava muito frio. Cachecóis, casacos, luvas, gorros e muitas blusas, assim como meias grossas, eram necessárias para este dia.
Eu proponha completar mais um pouco da lista da Lua e ainda assim, fazer algo que estávamos prestes a fazer hoje.

De onibus, fomos até o centro da cidade. O comércio estava coberto de curiosos que esperavam as promoções do dia. A minha parte preferida destas ruas cobertas de gente, eram os salões de jogos que lá estavam.

- Vamos para cá? – perguntou Lua
- Sim.
- Nunca estive aqui.
- Eu sei. – ri – Por isso mesmo.
- Pista de boliche? – perguntou ela
- Sim. Mais um desejo da sua lista. – olhei para ela, que esfregou as mãos muito curiosa – Você nem pede coisas assim muito impossíveis. Quero dizer, a menos que seja aquela de estar em dois lugares ao mesmo tempo.
- Essa é difícil. Quero ver se consegue fazer com que eu a concretize
- Eu não sei – ri – Mas vou pensar nisso.

Entramos nos salões de jogos. Jogamos jogos de competições de carro, futebol e até lutas. Andamos em motos que se mexiam, fazendo corridas também. Jogados tudo o que havia para jogar. Mas o que a Lua queria mesmo era Bowling. Aquele jogo em que jogamos uma bola muito pesada, para acertar em objetos e faze-los cair a todos no chão.
Eu havia jogado aquilo uma ou dias vezes em toda a minha vida. Não era experiente. Por isso mesmo, veio um cara, que trabalha lá, nos explicar umas regras básicas. Lua ouviu tudo com muita atenção. O cara parecia ser, só um pouco, mais velho que nós.

- Quer tentar? – ele perguntou à Lua, lhe dando aquela enorme bola de ferro
- Sim. – ela respondeu

Lua colocou os pés como ele havia ensinado. Ela pegou a boca com uma só mão, mas a apoiou com a outra, porque era bem pesada. O cara colocou a mão nas costas dela e pediu que ela se curvasse um pouco e depois lançar a bola pela pista.
Ao lançar, ela se desequilibrou um pouco, mas o cara a segurou. Os dois riram juntos.

- Sua vez! – disse ele.

Eu joguei a bola na pista e consegui deitar 8 objetos a baixo. Lua só havia deitado cinco.

- Vamos jogar! – disse ela animada
- Mas eu vou ganhar você – eu ri
- Mas ele me ajuda. – ela apontou para o cara e riu – Como é o seu nome mesmo?
- Luís.
- Então, eu sou a Lua.
- Prazer Lua – eles começaram a rir
- Eu sou o Arthur – disse sem graça, porém, nem escutaram
- Vamos então jogar! – disse o Luís

Lua começou por jogar a bola e deitar três objetos a baixo. Na minha vez, eu joguei e deitei seis. Quando voltou à vez da Lua, o cara é que jogou (pois eles estavam na mesma equipa) e ele conseguiu deitar todos a baixo, levantando a pontuação máxima. Jogamos mais uma partida e eles voltaram a ganhar. Eu pedi a desforra e dessa vez ganhei. Porém, Quando Lua insistiu em jogarmos uma terceira vez, ela e o Luís voltaram a ganhar.

- Eu adorei isso!
- Passa cá mais vezes. Você até joga bem para quem só começou hoje
- Sério? Eu adoraria!
- Passa quando quiser, eu vou te esperar, viu? – ele riu pra ela
- Quem sabe no próximo final de semana.
- Otimo, vou estar ansioso por te ver novamente! – ele piscou para ela que sorriu sem graça

Quem não estava achando graça nenhuma a tudo isso, era eu. Me sentia um verdadeiro otário por quase estar servindo de vela para esses dois.
Após sair do salão de jogos, corremos para apanhar outro onibus, que quase perdíamos. Lá dentro, disse à Lua para se sentar no meu lugar, pois era o único vago. Eu fui em pé, ao seu lado.
Não lhe havia falado mais nada e ela estranhou. Estava sempre olhando para mim, esperando que eu falasse alguma coisa. Eu estava com ciúmes, era normal eu não lhe dizer nada.

- Quer beber água? – perguntei pra ela
- Não
- Então?

Amanhã tem mais!

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